quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Mídia, a opinião pública e o controle de armas

Após o tiroteio que deixou 12 mortos em um cinema de Aurora, no estado americano do Colorado, em 20 de julho, alguns jornalistas distorceram a opinião pública para prever que o massacre não terá impacto no debate sobre a prevenção da violência por armas, afirma Matt Gertz em artigo no Media Matters [23/7/12]. A realidade é outra, diz ele, com pesquisas indicando apoio público para uma gama de restrições mais fortes, incluindo a volta da proibição de armas de ataque de curto alcance – o que poderia ter evitado a compra legal de pelo menos uma das armas do atirador.
Chris Cillizza, do Washington Post, deu início ao debate com um artigo publicado na manhã seguinte à tragédia, com o título: “Por que o tiroteio de Aurora provavelmente não irá mudar o debate sobre o controle de armas”. “O tiroteio fará pouco para mudar o sentimento público em relação ao controle de armas. Em 1990, quase oito em dez americanos disseram que as leis referentes à venda de armas deveriam ser mais rígidas, enquanto apenas 10% disseram que elas poderiam ser menos rígidas ou mantidas do jeito que são. Em 2010, estes números mudaram rapidamente para 54% preferindo leis menos rígidas ou sem mudanças e 44% acreditando que as leis deveriam ser mais rígidas”, escreveu.
Na semana passada, a alegação de que os americanos não apoiam leis mais duras referentes a armas era recorrente nos talk shows matutinos. Números semelhantes aos apresentados por Cillizza foram divulgados pelos apresentadores do Face the Nation, da CBS, e também do Fox News Sunday. Outros jornalistas usaram análises de eleições passadas para sugerir que o público condenaria membros do Congresso que apoiam o controle de armas. Os analistas políticos Bob Shrum, Evan Bayh e Steve Schmidt chegaram a afirmar nos programasMeet the Press, da NBC, e Fox News Sunday que a perda de assentos democratas no Congresso durante as eleições intermediárias de 1994 ocorreu devido ao apoio à legislação de controle de armas na administração anterior.
O editor colaborador da revista American Prospect, Paul Waldman, desconstruiu esta alegação, afirmando que o endosso da Associação Nacional de Rifles representou apenas dois pontos percentuais favorecendo os rivais republicanos e nada para os democratas, e que apenas 12 concorrentes do Partido Republicano venceram as eleições naquele ano por uma margem de quatro pontos ou menos. Como os republicanos ficaram com 54 assentos, parece claro que a questão das armas, sozinha, não foi a causa do menor número de assentos.
No artigo no Post, Cillizza ignora, ainda, que o tiroteiro na Universidade Virginia Tech, em 2007, gerou, pela primeira vez em décadas, a aprovação de leis de prevenção à violência por armas. Dias depois do ataque, democratas do Congresso e a Associação Nacional de Rifles estavam trabalhando juntos em uma legislação para fortalecer o sistema nacional para evitar que pessoas mentalmente doentes comprassem armas. A proposta foi efetivamente transformada em lei em janeiro de 2008. Segundo uma pesquisa de 2011, 89% dos entrevistados apoiam esta lei.
A favor de leis mais rígidas
Se o Congresso não se mobilizar por esta nova tragédia para aprovar leis de prevenção à violência por armas, não será porque os americanos se opõem a tais medidas. Na verdade, outras pesquisas indicam que eles apoiam a aprovação de uma série de novas leis de vendas de armas, mais firmes.
O apetite do público por leis mais fortes inclui o apoio de mais de três em cinco pessoas para restabelecer a proibição nacional sobre armas de curto alcance, que expirou em 2004. Uma das armas usadas pelo atirador do cinema em Aurora era um rifle estilo AR-15 semiautomático, que, se houvesse a lei, não poderia ter sido comprado. Membros da Câmara e do Senado pediram para que a lei voltasse a valer, após o tiroteio – o que é apoiado por 62% dos americanos, incluindo 61% de independentes e 49% de republicanos, segundo uma pesquisa da revista Time de junho de 2011.
Pesquisas recentes indicam que muitas outras leis a favor da prevenção da violência por armas têm apoio público: 86% apoiam que seja necessário que compradores de armas passem por uma análise criminal; 69% apoiam limitar o número de armas que uma pessoa possa comprar em um determinado período de tempo; 66% querem que proprietários registrem suas armas; 88% querem que os que estão na lista de supostos terroristas sejam proibidos de comprar armas.

31/07/2012 na edição 705
Tradução: Larriza Thurler (edição de Leticia Nunes)
Observatório da Imprensa

Nenhum comentário:

Postar um comentário