quarta-feira, 11 de abril de 2012

PAULO SANT’ANA - Sindicato dos ladrões

Os ladrões estão em toda parte. Por todos os locais, surgem os ladrões para nos roubar. A polícia não consegue conter os ladrões, eles são em maior número que os policiais. Por isso estou pedindo que se regulamente a profissão de ladrão, assim como é regulamentada a profissão de advogado e a de médico. Os ladrões vão ter de pagar contribuição previdenciária. Ladrão que pertencer a uma quadrilha terá a sua carteira de trabalho assinada pelo chefe da organização criminosa. Ladrão que atuar sozinho, sem participar de quadrilha, terá seu registro no Ministério do Trabalho e descontará a contribuição previdenciária como autônomo. Os ladrões terão direito a fundo de garantia e aposentadoria. Também poderão se hospitalizar mediante seguro de saúde. Será instituído o Dia Nacional do Ladrão, quando se escolherá um dos clubes mais tradicionais da fina sociedade de cada cidade para a realização de uma solenidade alusiva à data dos meliantes. Não será permitida a discriminação dos ladrões comuns em relação aos ladrões de colarinho branco. Não há diferença entre eles, são a mesma coisa, vivem às custas do povo. E, em última análise, eles se incorporaram tão profundamente ao meio social, que são também povo. Que fique claro que na minha proposta os ladrões (e todos os tipos de assaltantes) terão amplos direitos políticos: poderão se eleger vereadores, deputados e senadores, o que, afinal, como se tem visto, não mudará em nada. Os ladrões terão de formar uma fila de prioridade de atendimento nas agências bancárias, assim como as gestantes e os idosos, não podendo assaltar as agências antes de serem atendidos. Os ladrões poderão se sindicalizar e os sindicatos cuidarão de distribuí-los por todo o país, para que não haja a tentação de eles todos quererem residir em Brasília. Há uma vantagem, entre muitas, de se regulamentar a profissão de ladrão: quando o ladrão nos atacar nas ruas ou dentro de nossas próprias casas, ele nos mostrará a carteira de trabalho assinada e nós imediata e espontaneamente entregaremos a ele todos os nossos pertences, acabando, assim, com a ação violenta nos roubos. Quanto aos ladrões corruptos, isto é, os agentes públicos que ganham propina dos fornecedores e demais licitantes, será criado um imposto de 10% sobre as propinas arrecadadas, que será destinado ao atendimento de saúde no país, o que sem dúvida acabará com essa vergonha nacional dos doentes sem médicos, sem hospitais e sem medicamentos. Finalmente, acabará o uso da frase que mais os brasileiros pronunciam em todas as circunstâncias: “Isto é um roubo!”. Esta frase será substituída pelos brasileiros e ficará assim: “Isto é uma profissão regulamentada!”. Finalmente, serão criadas escolas para aprendizes de ladrão. E serão criadas universidades que formarão os bacharéis em roubo. Claro que não faltarão catedráticos para nelas lecionarem.