terça-feira, 15 de novembro de 2011

Facebook muda nome de Salman Rushdie e revolta escritor

SOMINI SENGUPTA
DO "NEW YORK TIMES"

O escritor Salman Rushdie usou o Twitter para publicar uma série de posts exasperados. Segundo ele, o Facebook havia desativado sua conta, requerendo provas de identidade, e o transformou em Ahmed Rushdie, o nome utilizado pelo autor em seu passaporte. Porém, ele nunca usou seu primeiro nome, Ahmed; o mundo o conhece como Salman.

Salman questionou: será que o Facebook transformaria J. Edgar Hoover em John Hoover, ou Scott Fitzgerald em Francis Fitzgerald?

"Onde você está se escondendo, Mark?", disse, fazendo menção ao executivo-chefe do Facebook, Mark Zuckerberg. "Volte aqui e devolva meu nome!"

O universo do Twitter abraçou a causa. Em duas horas, Rushdie declarou vitória: "O Facebook afrouxou! Eu sou Salman Rushdie novamente. Eu me sinto MUITO melhor. Uma crise de identidade na minha idade não é divertido".

Os pontos discutidos por Rushdie são algumas das noções mais complexas da era digital: você é quem você diz ser on-line? Quem trabalha por isso --e o que ganha com isso?

Como a internet se transformou em um local para todos os tipos de transações, de comprar um tênis a derrubar ditadores, um debate vital vem crescendo sobre como as pessoas se representam e se revelam nos sites que visitam. Um lado vê um sistema em que cada um usará um tipo de passaporte digital com seu nome real e expedido por empresas como Facebook, para viajar pela internet. Outro lado acredita no direito de usar chapéus diferentes --e, às vezes, máscaras-- para você poder consumir e expressar o que quiser, sem medo de repercussões off-line.
Zsolt Szigetvary/Efe
Salman Rushdie
Salman Rushdie

O argumento contra os pseudônimos mostra como a internet do futuro deverá ser organizada. Grandes empresas de internet, como Google, Facebook e Twitter, têm participação importante no debate --e, em alguns casos, filosofias completamente diferentes, que sinalizam suas próprias ambições.

O Facebook insiste no que chama de identidade autêntica, ou nomes reais. E isso tem se transformado em um passaporte em vários sentidos, permitindo que seus usuários entrem em mais de 7 milhões de outros sites e aplicativos com seu nome de usuário e senha do Facebook.

A rede social do Google, o Google+, que abriu suas portas para todos os usuários em setembro, também quer os nomes que seus usuários usam no mundo off-line, e chegou a banir algumas contas por isso.

Mas o Google indicou recentemente que deverá permitir o uso de apelidos. Vic Gundotra, executivo do Google responsável pela rede social, disse em uma conferência no último mês que quer criar uma "atmosfera" confortável mesmo para aqueles que usam nomes falsos. "É complicado fazer isso de forma correta", disse.

Em contraste total, o Twitter segue a teoria do cada um por si, permitindo o uso de pseudônimos de pessoas desde apoiadores do WikiLeaks até a perfis falsos de famosos. Mas ele considera a representação enganosa como motivo para suspender usuários.

"O risco real para o mundo será se a tecnologia da informação criar um sistema de identificação para todos", diz Joichi Ito, diretor do Media Lab, do instituto MIT. "Nos EUA, talvez isso não seja um problema. Mas se cada criança na Síria for identificada a cada vez que usar a internet, ela poderá correr risco de vida".

O problema é que a internet é usada para razões diferentes por pessoas diferentes.

Pode ser vital para uma pessoa usar sua identidade real para encontrar um trabalho em sites como o LinkedIn, diz Ito, mas também pode ser arriscado usar seu nome real para expressar opiniões políticas na internet. Ito diz ficar preocupado com a possibilidade de serviços extremamente populares e ubíquos, como o Facebook e o Google, insistam em uso real de identidade, criando uma espécie de regra para o uso da internet.

As pessoas sempre usaram pseudônimos. Várias delas são mais conhecidas por seus nomes falsos; pense em Lady Gaga ou mark Twain. Outros que usam pseudônimos para se proteger: fontes anônimas e dissidentes. Há ainda aqueles que usam nomes falsos para perturbar outras pessoas ou enviar spams.

A política de nomes reais pode representar problemas na vida real. Wael Ghonim, famoso blogueiro egípcio, usou um nome falso para criar uma popular página contra o ditador Mubarak. Isso fez com que o Facebook desligasse brevemente a página em árabe no meio da revolta popular no país, até que uma mulher americana concordasse em administrá-la usando seu nome real.

Sobre o caso da conta de Rushdie, a empresa não explica o que aconteceu, mas admite que houve um engano. "Nós pedimos desculpas pelo inconveniente que causamos a ele", disse o Facebook.

Rushdie, que já viveu de forma anônima por causa de ameaças de norte, tem ultimamente se revelado no Twitter. E por meio dele, ele lutou por seu nome on-line. Um impostor usava uma conta falsa do escritor no Twitter, e Rushdie pediu para a empresa removê-lo. Agora, sua página tem o símbolo azul de "Conta Verificada", com direito a frase de Popeye: "eu sou o que sou e é tudo isso que sou".

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