domingo, 13 de novembro de 2011

Ciência explica os lapsos de memória

The New York Times
Tara Parker Pope

Pesquisadores do cérebro afirmam que lapsos de memória são comuns
Pesquisadores do cérebro afirmam que lapsos de memória são comuns

Às vezes até um cérebro saudável não funciona como deveria. Talvez ninguém saiba disso melhor do que Rick Perry, governador do Texas, que sofreu um lapso de memória constrangedor durante o último debate presidencial republicano. Perry parou no meio de uma frase enquanto se esforçava para lembrar o nome do Departamento de Energia, uma das três agências federais que ele tem dito com frequência que deveriam ser eliminadas. Um olhar de sofrimento cruzou seu rosto. Ele gaguejou. Começou de novo. Mudou de assunto. Mas as palavras não vieram.

Como a gafe afetará as aspirações políticas de Perry não se sabe. Mas entre os pesquisadores do cérebro, o momento é uma demonstração fascinante de uma experiência humana comum: quando o cérebro congela.

"Há muitas explicações possíveis sobre o motivo pelo qual isso acontece", diz Daniel Weissman, neurocientista da Universidade de Michigan que estuda a atenção. "Muitas coisas acontecem quanto tentamos acessar as memórias, e problemas em qualquer estádio podem levar à falha."

Perry não é a primeira figura pública a sofrer um constrangedor lapso de memória. A cantora Christina Aguilera esqueceu as palavras do hino nacional enquanto se apresentava no Super Bowl este ano. E o juiz John G. Roberts Jr. trocou uma palavra no juramento da cerimônia de posse para o presidente Barack Obama, fazendo com que ele fizesse o juramento novamente no dia seguinte.

Pesquisadores do cérebro observam que as pessoas têm lapsos de memória como estes todos os dias, quer seja quando entram num cômodo e se esquecem o que iam fazer ali ou quando não conseguem se lembrar de um nome que está na ponta da língua.

Algumas memórias, como o nome do primeiro presidente ou o aniversário de um filho, são tão fortes que não é necessário nenhum esforço para acessá-las. Mas quando a informação é relativamente nova ou usada com menos frequência, as pessoas precisam confiar na capacidade do cérebro de buscar estrategicamente suas memórias de informações difíceis de encontrar. Durante este processo, o córtex pré-frontal do cérebro entra em ação, e interage com o lobo temporal médio, a parte do cérebro que forma e acessa memórias de fatos e eventos.

Quando tudo vai bem, o lobo médio temporal age como um sistema de fichas de catálogo de uma biblioteca, apontando para os lugares do cérebro em que diferentes partes da memória são guardadas e permitindo que a memória seja acessada. Mas no caso de Perry, parece que algo deu errado, e a busca encontrou a ficha errada, procurou no lugar errado ou foi interrompido.

A culpa pode ter sido da distração, dizem os especialistas. Pouco antes da gafe, Perry olhou diretamente para seu oponente Ron Paul, o que sugere que o olhar pode ter atrapalhado sua linha de pensamento. Ou é possível que a mente de Perry tenha começado a passar para o próximo ponto muito rápido, deixando-o confuso no momento. O estresse também pode prejudicar a função do hipocampo, que está envolvido na recuperação de memórias.

"Tentar desesperadamente cumprir a promessa que você fez no começo de sua fala, então, sob os holofotes, com os riscos muito altos e aumentando ainda mais, o estresse só piorando, o tempo passando cada vez mais, buscando dicas oferecidas por seus concorrentes num debate – o problema só aumenta", disse por e-mail Neal J. Cohen, professor de psicologia da Universidade de Illinois que estuda o aprendizado e a memória humana.

Outra possibilidade é que Perry teve outras conversas sobre corte de orçamento com seus estrategistas de campanha, e essas memórias tenham interferido em sua capacidade de lembrar os detalhes de seu plano atual. Essa interferência de memórias passadas acontece, por exemplo, quando uma pessoa sai do supermercado e olha para o mar de carros no estacionamento e percebe que esqueceu onde estacionou.

"Enquanto você busca em sua memória, há muitas memórias muito parecidas de estacionar no supermercado que interferem umas nas outras", disse Weissman. "Se houve alguma discussão sobre cortar outros departamentos, é possível que ela tenha havido de alguma forma uma interferência dessas memórias, e por isso ele não conseguiu se lembrar."

Pesquisas recentes sobre o cérebro usaram imagens de ressonância magnética funcionais para observar a atividade do cérebro durante lapsos de atenção ao fazer uma tarefa monótona. O equivalente no mundo real seria dirigir numa rodovia e descobrir que você passou a saída que deveria ter pego. A pesquisa sugere que durante tarefas familiares, uma região do cérebro chamada de rede de modo padrão é ativada e o cérebro fica preguiçoso.

"Nós achamos que ele fica preguiçoso – ou menos diligente – em relação à tarefa externa porque ele acha que sabe o que acontecerá depois", disse Tom Eichele, neurofisiologista e professor adjunto de psicologia biológica e médica na Universidade de Bergen na Noruega.

Quer seja o estresse, memórias concorrentes ou distração que tenha causado o branco de Perry, está claro que ele não é o único.

"Eu achei que foi uma experiência muito comum", disse Weissman. "Todos nós já passamos por isso."

Tradução: Eloise De Vylder

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