sábado, 24 de setembro de 2011

O escritor de US$ 84 mi

Autor mais bem pago do mundo, James Patterson tenta acontecer no Brasil e diz que não faz 'literatura séria'

Divulgação

O americano James Patterson

FABIO VICTOR
DE SÃO PAULO

A ideia, corrente no mundo literário, de que escritor não ganha dinheiro é balela para James Patterson, 64.
O americano é, segundo a revista "Forbes", o autor mais bem pago do planeta nos últimos dois anos. A lista divulgada no mês passado lhe atribuiu rendimentos de US$ 84 milhões (R$ 158,7 milhões) entre maio de 2010 e abril de 2011.
É mais que o dobro do valor da segunda colocada, a americana Danielle Steel. No ano passado, Patterson havia liderado a lista com ganhos de US$ 70 milhões.
Sozinho ou com a ajuda de colaboradores (cujos nomes aparecem menorzinhos nas capas dos livros), o americano já publicou 83 títulos.
Seu forte são suspenses policiais -como os dois que chegam ao Brasil pela editora Arqueiro, que tenta enfim fazer o autor acontecer no país-, mas ele também está no segmento infantojuvenil, com séries de feitiçaria, mangás etc. E montou um portal para estimular crianças a ler, o readkiddoread.com.
Ex-publicitário que aplica ao livro as mesmas regras de uma mercadoria ("Se o público não gosta de um, não vai ler o outro"), Patterson não se ilude sobre o alcance de sua obra. "O que quero é entreter as pessoas, acho importante que elas às vezes relaxem e acho que meus livros são um bom relaxamento", disse à Folha, em entrevista por telefone, de Nova York.
Admirador do realismo mágico, ele conta que seus livros favoritos são "Cem Anos de Solidão", de García Márquez, e "Ulysses", de James Joyce, mas é sincero: "Nunca escreverei um grande livro de literatura séria, nem quero. Não sou bom como García Márquez, Joyce ou Flaubert. Mas posso escrever uma grande história popular".
Patterson largou a publicidade, mas não os ardis da carreira. É ele quem cria os slogans (como "As páginas viram sozinhas") e anúncios para seus livros.
Ele já vendeu mais de 200 milhões deles. Num patamar desses, quaisquer 10 milhões vêm de lambuja: seu site diz que são 220 milhões; sua nova editora brasileira, 230 milhões; e à Folha ele estima em mais de 250 milhões.
Impossível saber com precisão, mas há dados incontestáveis. A lista da "Forbes" é baseada, entre outras fontes, em números fornecidos pelo Nielsen BookScan, uma das principais ferramenta para mensurar vendas.
O "Guinness" aponta que ele é o autor com mais títulos na lista de mais vendidos do "New York Times" (45, em 2009) e o primeiro a vender mais de 1 milhão de e-books -e ele escreve à mão.
Possivelmente, a única pessoa no mundo que vende mais que ele hoje é a britânica J. K. Rowling, de "Harry Potter", cuja soma já ultrapassou 400 milhões. Paulo Coelho vendeu 146 milhões.




CRÍTICA ROMANCE

Livros de Patterson são como sorvetes, deliciosos e breves

Tramas policiais não têm valor intelectual, mas prendem o leitor até o fim

A NARRATIVA USA A REDUNDÂNCIA PROGRAMADA: SE O LEITOR PERDER UMA INFORMAÇÃO IMPORTANTE, ELA SERÁ REPETIDA A CADA 20 PÁGINAS

NELSON DE OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os thrillers assinados pelo escritor James Patterson podem ser lidos, cada um, em no máximo quatro horas.
Em poucas assentadas, o mistério já está resolvido.
Por isso logo trazem à mente analogias com a culinária. Eles são preparados e deglutidos tão rapidamente que já foram comparados ao fast food, por exemplo.
Prefiro dizer que os romances de Patterson são como os sorvetes. Não têm qualquer valor nutricional, engordam, mas são irresistíveis.
Se, no ponto principal do cardápio, ficam os pratos mais sofisticados -a literatura que fortalece os músculos e os ossos-, no outro extremo nós temos as sobremesas.
Depois de forrar o intelecto com obras fundadas na linguagem -de Lobo Antunes, Paul Harding etc.-, quem consegue resistir a um saboroso romance de investigação, cujo único ingrediente é o enredo?
Patterson e sua equipe de redatores são mestres no enredo-que-realmente-enreda.

SELVAGERIA
"O Dia da Caça" pertence à série protagonizada pelo detetive-psicólogo negro Alex Cross. A trama tem início quando uma família inteira é chacinada dentro de casa. Outros homicídios com o mesmo padrão acontecem.
O foco amplia-se, entram em cena o fisiologismo da CIA e a guerra civil na Nigéria. Cross viaja para a África atrás dos assassinos, é preso e torturado. Os momentos de brutalidade na prisão são os melhores do livro.
"4 de Julho" pertence à série "O Clube das Mulheres contra o Crime".
Nesse romance, duas histórias correm paralelamente: o julgamento da tenente Lindsay Boxer, acusada de má conduta policial, e a investigação dos assassinatos brutais que ocorrem numa cidadezinha praieira.
As cenas de tribunal são de longe as melhores da história. Suspense de primeira, enervante.
É difícil resistir à tentação de saltar as páginas e ir direto ao veredito. Eu não resisti.
Diferentemente dos romances de Stieg Larsson ou Arnaldur Indridason, por exemplo, nos thrillers assinados por Patterson não há nada que se pareça minimamente com o que se convencionou chamar de "alta literatura".
Seus narradores-protagonistas são planos, a linguagem é literal e o realismo politicamente correto é frágil: o bem e a justiça sempre vencem no final.
Além disso, a narrativa faz uso da redundância programada: se o leitor se distrair e perder uma informação importante, tudo bem. Essa informação será repetida a cada 20 páginas.
O engraçado é que nada disso tira o sabor da leitura.
Mas cuidado: o texto das orelhas dos dois romances é do tipo "estraga-prazer", pois adianta pelo menos 30% da trama. Se você não gosta de começar um sorvete já parcialmente chupado, evite as orelhas dos dois.

NELSON DE OLIVEIRA é autor de "Poeira: Demônios e Maldições" (Língua Geral)

O DIA DA CAÇA E 4 DE JULHO
AUTOR James Patterson
TRADUÇÃO Fabiano Morais ("O Dia da Caça) e Marcelo Mendes ("4 de Julho")
EDITORA Arqueiro
QUANTO R$ 24,90 cada um (ambos têm 224 págs.)
AVALIAÇÃO bom




Editora investe R$ 300 mil para tentar, enfim, emplacar o autor

DE SÃO PAULO

James Patterson tem mais de uma dezena de títulos publicados no Brasil desde os anos 1980, com lançamentos regulares. Ainda assim, nunca conquistou por aqui nem um átimo do sucesso que faz no exterior, em especial nos países de língua inglesa.
Alheia à evidência -ou quem sabe desafiada por ela-, a editora Arqueiro apostou alto para lançar dois novos títulos de Patterson no Brasil, "O Dia da Caça" (da série do detetive Alex Cross) e "4 de Julho" (do "Clube das Mulheres contra o Crime").
Chegaram, na Bienal do Livro do Rio, no início do mês, embalados por um investimento de R$ 300 mil em divulgação, que inclui anúncios na TV paga, no metrô de São Paulo e em ônibus do Rio.
"Não quero pensar em por que ele não aconteceu, mas em como vamos fazê-lo acontecer", afirma Marcos Pereira, um dos donos da Arqueiro (e da Sextante, assídua nas listas de best-sellers).
O editor considera que até pouco tempo atrás "o Brasil não tinha uma cultura de [ler] literatura comercial, livros de entretenimento", mas diz que o quadro vem se alterando.
A Arqueiro fechou contrato para lançar 15 livros de Patterson. Os dois primeiros tiveram tiragem inicial de 30 mil exemplares cada um. Em 2012, sai um da série infantojuvenil "A Bruxa e o Mago".
"Às vezes o livro não é publicado corretamente. Isso me ocorre de vez em quando. Quanto mais gente sabe do livro, mais ele acontece", comenta Patterson sobre sua situação peculiar no Brasil.
"'Alex Cross' e o 'Clube das Mulheres contra o Crime' são as séries de mistério mais populares do mundo nos últimos anos. E as pessoas ao redor do mundo não são idiotas", gaba-se o americano.
Questionada sobre quantos livros de Patterson vendeu, a Rocco -que tem em catálogo sete títulos do autor, entre eles "3º Grau" e "Dupla Cilada para Cross"- preferiu não se manifestar. Tampouco quis opinar sobre os motivos de o autor não reproduzir aqui o êxito de outros países.
Antes da Rocco, a obra de Patterson foi editada no Brasil pela Best-Seller e, antes ainda, pela Record, que o publicou em 1980. (FABIO VICTOR)

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