quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Barretão critica Fernando Meirelles e Walter Salles Jr.

AMANDA QUEIRÓS
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

Em seminário realizado nesta quarta (28) sobre os rumos do audiovisual brasileiro, durante o 44º Festival de Brasília, o produtor de cinema Luiz Carlos Barreto, o Barretão, criticou cineastas individualistas e citou os nomes de Fernando Meirelles ("Cidade de Deus") e Walter Salles Jr. ("Central do Brasil") como exemplos.

"Cinema é um processo coletivo. Sempre foi. Alguns cineastas pensam que podem se construir sozinhos", afirmou.

Segundo ele, Meirelles e Salles são "pessoas que se alienaram e nunca colocaram seu prestígio em favor do cinema brasileiro, mas somente em favor de suas carreiras".

Em sua fala, Barreto defendeu a união dos artistas na briga por políticas mais sólidas para o setor do cinema e do audiovisual.

Ele também propôs que o governo federal siga o exemplo do modelo já executado no setor da agricultura e divida o Ministério da Cultura em dois: o Ministério das Indústricas Culturais (voltado para a produção mais comercial) e o Ministério do Desenvolvimento Cultural (preocupado com o fomento de trabalhos mais autorais e com menos apelo de venda).

SEM DIRCEU

A mesa da qual Barreto participou deveria contar com a presença do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. No entanto, o atraso em um voo impediu que ele chegasse a tempo.

A participação de Dirceu durante o seminário vinha provocando controvérsia nos corredores do Festival de Brasília. O questionamento se dava pela falta de um envolvimento direto dele com o tema.

O coordenador-geral do Festival de Brasília, Nilson Rodrigues, defendeu o convite. "Ele participou ativamente do processo de discussão sobre a criação da Ancine, do projeto da Ancinav e da militância recente pela aprovação do PL 116 ", afirmou.


"Cinema brasileiro não pode olhar só para dentro", diz Meirelles

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AMANDA QUEIRÓS
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

O cineasta Fernanda Meirelles ("Cidade de Deus") respondeu às críticas feitas pelo produtor Luiz Carlos Barreto --que disse que o cineasta tem atitude individualista nesta quarta (28), durante o 44º Festival de Brasília.

Barretão critica Fernando Meirelles e Walter Salles Jr.

Por e-mail, Meirelles disse não se envolver com questões políticas do cinema brasileiro. "Como eu trabalho na área de criação, deixo para as minhas sócias esta parte do trabalho", escreveu.

Para ele, sua contribuição ao cinema está mais voltada para o mercado externo do que para o interno.

"Em todos os meus trabalhos sempre faço questão de incluir talentos brasileiros e me esforço muito para abrir novas trilhas de coproduções brasileiras. Aos poucos estes laços criados vão fazendo o Brasil parecer um lugar confiável para parcerias. Ou seja, tenho um outro foco, muito diferente do trabalho do Barreto, ele tem razão sobre isso, mas acho importante encontrar outros balcões de financiamento para nossos filmes e pavimentar esta estrada nos ligando a outras cinematografias. Mais do que nunca, o cinema brasileiro não pode ficar olhando só para dentro."

Leia abaixo a íntegra da resposta de Fernando Meirelles ao produtor Barretão:

"Tenho o maior respeito pelo Barretão e estou certo que esta frase foi tirada do contexto. Não me envolvo muito em questões políticas do cinema brasileiro, se foi a isto que o Luis Carlos se referiu, ele está correto. Como eu trabalho na área de criação deixo para as minhas sócias, produtoras da O2 Filmes, esta parte do trabalho. A O2 não tem 1/10 do número de títulos produzidos pela LC mas já fizemos quase 20 longas em 12 anos de atuação no cinema, a maioria deles lançando roteiristas, montadores, diretores, técnicos e atores, uma turma que hoje está na ponta do mercado. Mas sem pensar na O2, acho que minha contribuição ao nosso cinema está mais voltada para o mercado externo do que para o interno. Em todos os meus trabalhos sempre faço questão de incluir talentos brasileiros: Atores, fotógrafos, montadores, finalizadores, mixadores, músicos, coloristas etc. Me esforço muito para abrir novas trilhas de co-produções brasileiras como fiz com Canadá, Japão, Austria, Portugal, Reino Unido ou França. Fechar estes complicados acordos internacionais cria uma espécie de jurisprudência que facilita muito a vida de quem vem depois. Ha uma "tecnologia" para se buscar financiamento externo e estou sempre pronto e tenho mostrado o caminho das pedras para colegas. Aos poucos estes laços criados vão fazendo o Brasil parecer um lugar confiável para parcerias e co-produções. Ou seja, tenho um outro foco, muito diferente do trabalho do Barreto, ele tem razão sobre isso, mas acho importante encontrar outros balcões de financiamento para nossos filmes e pavimentar esta estrada nos ligando a outras cinematografias. Mais do que nunca, o cinema brasileiro não pode ficar olhando só para dentro."

A repórter AMANDA QUEIRÓS viajou a convite do festival

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Morreu Sergio Bonelli, mestre dos quadrinhos italianos


Artista influenciou gerações

Por Edson Rocha - 26/09/2011 09:28



Sergio Bonelli
Notícia triste para os fãs de HQs. Morreu nesta manhã de segunda-feira, dia 26 de setembro, Sergio Bonelli. Ele é um dos grandes quadrinistas italianos e é criador de personagens queridos dos brasileiros como Zagor e Mister No. Também foi roteirista de Tex e editor histórico de Dylan Dog, Julia Kendall e Mágico Vento. É uma grande perda para as HQs italianas e mundiais.

A causa da morte ainda não foi revelada. Bonelli ia completar 79 anos em dezembro.

‘A Google é um negócio, não uma igreja’

KEN AULETTA: O botão Curtir do Facebook é uma ameaça mortal à Google / Divulgação
KEN AULETTA: “O botão Curtir do Facebook é uma ameaça mortal à Google”

SÃO PAULO - Crítico de mídia da revista "New Yorker" há mais de 30 anos, o jornalista Ken Auletta esmiuçou durante dois anos a história da Google, "um dos negócios mais rentáveis, poderosos e estranhos do mundo". O resultado é o livro "Googled" (Agir, 508 páginas, por R$ 64,90), traduzido no Brasil por Débora Chaves, com posfácio de Pedro Doria. Investigando as origens da Google, Auletta leva o leitor a um passeio pela revolução (ainda em curso) digital. A história da maior empresa virtual do planeta serve também para compreender como seu sucesso e crescimento influenciam as chamadas "empresas do mundo real". Em entrevista ao GLOBO por e-mail, Auletta diz que a cultura de engenheiros - fonte da ousadia das empresas "pontocom" - é também o seu maior defeito. Segundo o especialista, ao mesmo tempo em que esses jovens criam ferramentas capazes de reinventar a maneira como fazemos coisas básicas, eles têm dificuldade em construir relacionamentos de confiança, e em antecipar o que querem os anunciantes ou lidar com o desejo de privacidade de pessoas e governos. Auletta recomenda às empresas de mídia tradicionais que, em vez de cruzar os braços e culpar a revolução digital por seus prejuízos, aprendam a fazer parcerias com empresas de tecnologia como Google, Amazon e Apple, e a ganhar dinheiro com isso. E cita um clássico da sabedoria popular: "Se não pode vencê-los, junte-se a eles".

O GLOBO: O que faz a Google ser tão revolucionária?
KEN AULETTA: Antigamente você ia a uma biblioteca ou fazia uma chamada de telefone para obter informações. Hoje, a informação está a seu alcance em meio segundo com uma pesquisa no Google. Quer assistir a um vídeo perdido há muito tempo, o YouTube da Google está a seu alcance. Telefones inteligentes, que estão substituindo os PCs? O Google Android tem a maior fatia de mercado. Está perdido e precisa de direções? O Google Maps está lá. E-mail? O Google Gmail está disponível. E o que é verdadeiramente revolucionário é que tudo é gratuito. A Google faz dinheiro da mesma forma que a TV ou o rádio tradicional: com venda de publicidade.

O que as empresas de mídia tradicionais podem aprender com a Google?
AULETTA: Contratem grandes engenheiros e os deixem fazer perguntas desconfortáveis, tais como: "Por que estamos fazendo as coisas dessa maneira? Por que não podemos ser mais eficientes?" No mundo digital, o engenheiro pode ser um criador de conteúdo. Engenheiros criaram Google, Apple e Facebook. Enquanto passamos duas horas pesquisando no Google, explorando o iPad, ou no Facebook, não estamos lendo um livro ou vendo TV.

Como a Google transforma as empresas do mundo real?
AULETTA: A Google tem perturbado muitas indústrias tradicionais. Cobrando anunciantes só quando usuários clicam na propaganda, ou sendo capaz de precisar a audiência alvo de cada campanha publicitária, a Google transformou a publicidade. Permitindo que os internautas localizem notícias que os interessam, a Google ajuda a enfraquecer os jornais. E a busca Google afugentou as pessoas das bibliotecas. São apenas alguns exemplos de indústrias impactadas por essa gigante e pela revolução digital.

Como a Google transforma as empresas do mundo real?
AULETTA: A Google tem perturbado muitas indústrias tradicionais. Cobrando anunciantes só quando usuários clicam na propaganda, ou sendo capaz de precisar a audiência alvo de cada campanha publicitária, a Google transformou a publicidade. Permitindo que os internautas localizem notícias que os interessam, a Google ajuda a enfraquecer os jornais. E a busca Google afugentou as pessoas das bibliotecas. São apenas alguns exemplos de indústrias impactadas por essa gigante e pela revolução
digital

Como empresas tradicionais de mídia e companhias do mundo real podem competir com a Google? Que mudanças devem fazer para enfrentar a revolução digital?
AULETTA: Sentar, cruzar os braços e culpar o Google por seus problemas é uma atitude condenável. As empresas devem ser humildes e perceber que existem formas de parceria com as companhias digitais. Empresas de mídia produzem conteúdo — músicas, notícias, programas de TV, filmes, livros — e a Google oferece plataformas para torná-los disponíveis. A Google já aprendeu que suas plataformas, como o YouTube, precisam de mais conteúdo do que filmes caseiros fornecidos pelos usuários. É assim que a mídia tradicional e o mundo digital estão se aproximando.

Quais as virtudes e os defeitos da Google?
AULETTA: A força de uma empresa como a Google é sua cultura de engenharia; sua fraqueza é sua cultura de engenharia. Engenheiros são hábeis em coisas que podem medir, como algoritmos de busca.
São menos hábeis com o que não podem medir — por exemplo, encontrar formas de construir relações de confiança com outras companhias, antecipar o que anunciantes desejam como forma de construir relações de confiança comoutras empresas, entender por que pessoas e governos se preocupam com sua privacidade ou monopólios, ou compreender as razões das autoridades chinesas ou iranianas para impedir que cidadãos de seus países tenham acesso a todas as informações do mundo.

O que podemos esperar do futuro da Google? Quais desafios ela vai enfrentar?
AULETTA: A Google tem se saído bastante bem na competição com empresas como a Microsoft. Tem se saído pior em lidar com governos ao redor do mundo. Além dos desafios governamentais, redes sociais como o Facebook são outra pedra no caminho. O botão “curtir” do Facebook é uma ameaça mortal à Google, porque receber indicações de seus amigos sobre o que comprar, a qual filme assistir, é mil vezes mais eficiente do que uma avalanche de centenas de links, resultado de uma busca no Google.

A Google realmente está mudando o mundo para melhor, como diziam desejar seus criadores?
AULETTA: Tanto para melhor, quanto para pior. Melhor porque todo tipo de informação está disponível, e de graça. Posso ler nas minhas telas digitais um jornal brasileiro ou o livro de um autor brasileiro traduzido. Mas se essas pesquisas significam que não pagarei pelo jornal ou pelo livro, ou que vou me contentar com uma leitura rápida em vez de me aprofundar, estarei prejudicando o jornal, o escritor e a mim mesmo.

Você lembra no livro que o slogan informal da Google é “não faça o mal”. Ele é seguido ao pé da letra?
AULETTA: Não, é só um slogan. A Google é um negócio, não uma igreja. Às vezes eles fazem coisas nobres, como resistir à censura na China. Mas duvido que um jornal que sofre prejuízos por causa da busca Google vá dizer que tudo que eles fazem é nobre.

Por que estamos há mais de dez anos tentando descobrir como ganhar dinheiro com a internet?
AULETTA: Estamos fazendo progresso lentamente. No iTunes, da Apple, cidadãos pagam não apenas
por música, mas por livros, programas de TV, filmes, jornais e revistas. Pagamos também por vários aplicativos para nossos celulares, incluindo jogos e toques. O YouTube começou a cobrar pela exibição de filmes. A mídia tradicional tem conseguido aumentar suas receitas com parcerias com empresas digitais como Google, Apple e Amazon. A questão é se estas receitas são capazes de compensar as perdas com os lucros perdidos com conteúdo impresso e analógico.

Como a Google transforma nosso comportamento, nossa forma de pensar e apreender o mundo? Você acredita que a humanidade está evoluindo graças à revolução digital? Ou estamos piorando?
AULETTA: É mais saudável olharmos para a revolução digital como uma oportunidade ou um desafio, não como algo que devemos temer. A informação e a capacidade de compartilhá-la alimentaram a Primavera Árabe. As pessoas têm muito mais chances de se educar e se entreter. Mas, se preferirmos usar essa facilidade como um atalho — fazendo uma busca no Google para um trabalho escolar, em vez de mergulhar nos livros — estamos prejudicando a nós mesmos. ■

‘A Google é um negócio, não uma igreja’

KEN AULETTA: O botão Curtir do Facebook é uma ameaça mortal à Google / Divulgação
KEN AULETTA: “O botão Curtir do Facebook é uma ameaça mortal à Google”

SÃO PAULO - Crítico de mídia da revista "New Yorker" há mais de 30 anos, o jornalista Ken Auletta esmiuçou durante dois anos a história da Google, "um dos negócios mais rentáveis, poderosos e estranhos do mundo". O resultado é o livro "Googled" (Agir, 508 páginas, por R$ 64,90), traduzido no Brasil por Débora Chaves, com posfácio de Pedro Doria. Investigando as origens da Google, Auletta leva o leitor a um passeio pela revolução (ainda em curso) digital. A história da maior empresa virtual do planeta serve também para compreender como seu sucesso e crescimento influenciam as chamadas "empresas do mundo real". Em entrevista ao GLOBO por e-mail, Auletta diz que a cultura de engenheiros - fonte da ousadia das empresas "pontocom" - é também o seu maior defeito. Segundo o especialista, ao mesmo tempo em que esses jovens criam ferramentas capazes de reinventar a maneira como fazemos coisas básicas, eles têm dificuldade em construir relacionamentos de confiança, e em antecipar o que querem os anunciantes ou lidar com o desejo de privacidade de pessoas e governos. Auletta recomenda às empresas de mídia tradicionais que, em vez de cruzar os braços e culpar a revolução digital por seus prejuízos, aprendam a fazer parcerias com empresas de tecnologia como Google, Amazon e Apple, e a ganhar dinheiro com isso. E cita um clássico da sabedoria popular: "Se não pode vencê-los, junte-se a eles".

O GLOBO: O que faz a Google ser tão revolucionária?
KEN AULETTA: Antigamente você ia a uma biblioteca ou fazia uma chamada de telefone para obter informações. Hoje, a informação está a seu alcance em meio segundo com uma pesquisa no Google. Quer assistir a um vídeo perdido há muito tempo, o YouTube da Google está a seu alcance. Telefones inteligentes, que estão substituindo os PCs? O Google Android tem a maior fatia de mercado. Está perdido e precisa de direções? O Google Maps está lá. E-mail? O Google Gmail está disponível. E o que é verdadeiramente revolucionário é que tudo é gratuito. A Google faz dinheiro da mesma forma que a TV ou o rádio tradicional: com venda de publicidade.

O que as empresas de mídia tradicionais podem aprender com a Google?
AULETTA: Contratem grandes engenheiros e os deixem fazer perguntas desconfortáveis, tais como: "Por que estamos fazendo as coisas dessa maneira? Por que não podemos ser mais eficientes?" No mundo digital, o engenheiro pode ser um criador de conteúdo. Engenheiros criaram Google, Apple e Facebook. Enquanto passamos duas horas pesquisando no Google, explorando o iPad, ou no Facebook, não estamos lendo um livro ou vendo TV.

Como a Google transforma as empresas do mundo real?
AULETTA: A Google tem perturbado muitas indústrias tradicionais. Cobrando anunciantes só quando usuários clicam na propaganda, ou sendo capaz de precisar a audiência alvo de cada campanha publicitária, a Google transformou a publicidade. Permitindo que os internautas localizem notícias que os interessam, a Google ajuda a enfraquecer os jornais. E a busca Google afugentou as pessoas das bibliotecas. São apenas alguns exemplos de indústrias impactadas por essa gigante e pela revolução digital.

Como a Google transforma as empresas do mundo real?
AULETTA: A Google tem perturbado muitas indústrias tradicionais. Cobrando anunciantes só quando usuários clicam na propaganda, ou sendo capaz de precisar a audiência alvo de cada campanha publicitária, a Google transformou a publicidade. Permitindo que os internautas localizem notícias que os interessam, a Google ajuda a enfraquecer os jornais. E a busca Google afugentou as pessoas das bibliotecas. São apenas alguns exemplos de indústrias impactadas por essa gigante e pela revolução
digital

Como empresas tradicionais de mídia e companhias do mundo real podem competir com a Google? Que mudanças devem fazer para enfrentar a revolução digital?
AULETTA: Sentar, cruzar os braços e culpar o Google por seus problemas é uma atitude condenável. As empresas devem ser humildes e perceber que existem formas de parceria com as companhias digitais. Empresas de mídia produzem conteúdo — músicas, notícias, programas de TV, filmes, livros — e a Google oferece plataformas para torná-los disponíveis. A Google já aprendeu que suas plataformas, como o YouTube, precisam de mais conteúdo do que filmes caseiros fornecidos pelos usuários. É assim que a mídia tradicional e o mundo digital estão se aproximando.

Quais as virtudes e os defeitos da Google?
AULETTA: A força de uma empresa como a Google é sua cultura de engenharia; sua fraqueza é sua cultura de engenharia. Engenheiros são hábeis em coisas que podem medir, como algoritmos de busca.
São menos hábeis com o que não podem medir — por exemplo, encontrar formas de construir relações de confiança com outras companhias, antecipar o que anunciantes desejam como forma de construir relações de confiança comoutras empresas, entender por que pessoas e governos se preocupam com sua privacidade ou monopólios, ou compreender as razões das autoridades chinesas ou iranianas para impedir que cidadãos de seus países tenham acesso a todas as informações do mundo.

O que podemos esperar do futuro da Google? Quais desafios ela vai enfrentar?
AULETTA: A Google tem se saído bastante bem na competição com empresas como a Microsoft. Tem se saído pior em lidar com governos ao redor do mundo. Além dos desafios governamentais, redes sociais como o Facebook são outra pedra no caminho. O botão “curtir” do Facebook é uma ameaça mortal à Google, porque receber indicações de seus amigos sobre o que comprar, a qual filme assistir, é mil vezes mais eficiente do que uma avalanche de centenas de links, resultado de uma busca no Google.

A Google realmente está mudando o mundo para melhor, como diziam desejar seus criadores?
AULETTA: Tanto para melhor, quanto para pior. Melhor porque todo tipo de informação está disponível, e de graça. Posso ler nas minhas telas digitais um jornal brasileiro ou o livro de um autor brasileiro traduzido. Mas se essas pesquisas significam que não pagarei pelo jornal ou pelo livro, ou que vou me contentar com uma leitura rápida em vez de me aprofundar, estarei prejudicando o jornal, o escritor e a mim mesmo.

Você lembra no livro que o slogan informal da Google é “não faça o mal”. Ele é seguido ao pé da letra?
AULETTA: Não, é só um slogan. A Google é um negócio, não uma igreja. Às vezes eles fazem coisas nobres, como resistir à censura na China. Mas duvido que um jornal que sofre prejuízos por causa da busca Google vá dizer que tudo que eles fazem é nobre.

Por que estamos há mais de dez anos tentando descobrir como ganhar dinheiro com a internet?
AULETTA: Estamos fazendo progresso lentamente. No iTunes, da Apple, cidadãos pagam não apenas
por música, mas por livros, programas de TV, filmes, jornais e revistas. Pagamos também por vários aplicativos para nossos celulares, incluindo jogos e toques. O YouTube começou a cobrar pela exibição de filmes. A mídia tradicional tem conseguido aumentar suas receitas com parcerias com empresas digitais como Google, Apple e Amazon. A questão é se estas receitas são capazes de compensar as perdas com os lucros perdidos com conteúdo impresso e analógico.

Como a Google transforma nosso comportamento, nossa forma de pensar e apreender o mundo? Você acredita que a humanidade está evoluindo graças à revolução digital? Ou estamos piorando?
AULETTA: É mais saudável olharmos para a revolução digital como uma oportunidade ou um desafio, não como algo que devemos temer. A informação e a capacidade de compartilhá-la alimentaram a Primavera Árabe. As pessoas têm muito mais chances de se educar e se entreter. Mas, se preferirmos usar essa facilidade como um atalho — fazendo uma busca no Google para um trabalho escolar, em vez de mergulhar nos livros — estamos prejudicando a nós mesmos. ■

sábado, 24 de setembro de 2011

'The Guardian' compara "assassino do ketchup" com Monty Python

Do Globo.com

História do 'assassino do ketchup' da Bahia ganha destaque na imprensa internacional

Reprodução do site do The Guardian

SÃO PAULO - A história do pistoleiro contratado para matar uma mulher, que forjou o crime utilizando ketchup, na Bahia, ganhou destaque na imprensa internacional. O jornal inglês Daily Mail diz que o assassino se apaixonou pela vítima e forjou a morte dela com ketchup. O jornal destaca que o delegado Marconi Lima disse que nunca viu nada parecido em oito anos de trabalho. Também destaca o fato de o assassino e a vítima terem bolado um plano para enganar a mandante do crime.

RELEMBRE O CASO: Pistoleiro forja crime com ketchup na Bahia

O ex-presidiário Carlos Roberto de Jesus foi contratado por Maria Nilza Simões, por R$ 1.000,00, para matar Erenildes Aguiar Araújo. Maria Nilza acreditava que Erenildes estava tendo um caso com seu marido. Mas Carlos Roberto se apaixonou pela vítima e, junto com Erenildes, decidiu forjar a morte dela. Eles compraram ketchup e foram para um matagal. O ex-presidiário derrubou o molho em cima de Erenildes, colocou uma faca presa entre o braço e a costela e tirou uma foto. Com a imagem em mãos, o pistoleiro mostrou para a mandante do crime que o trabalho estava finalizado e recebeu a quantia.

O Daily Mail destaca ainda o espanto de um comerciante da região: Maria não percebeu que a faca estava na axila da vítima? - diz o jornal.

No The Guardian, também da Inglaterra, o título bem-humorado faz referência à história: Assassino do ketchup traz diversão à cidade brasileira. O texto diz que a história é uma "história de amor e inveja".

A matéria do jornal diz que a foto tirada da vítima, com a faca cravada na axila e o ketchup espalhado pelo corpo 'está mais para o Monty Python (grupo de humor) do que para o CSI Miami", mas acabou convencendo a mandante do crime e o pagamento foi feito.

O jornal diz que a mandante do crime foi 'humilhada' na cidade de Pindobaçu, a 400 km de Salvador, depois que o assassino foi visto aos beijos com a suposta vítima em uma feira da cidade.

O delegado chamou o acusado para dar explicações e a história veio à tona.

O caso aconteceu em junho. Maria Nilza foi indiciada por crime de mando, Carlos Roberto por extorsão e Erenildes, como cúmplice no crime de extorsão. Todos vão responder em liberdade.

Trilogia reunida e novo livro atestam qualidade de Roth

CRÍTICA ROMANCE

Trilogia reunida e novo livro atestam qualidade de Roth

"Zuckerman Acorrentado" e "Nêmesis" têm lançamento agora no Brasil

ADRIANO SCHWARTZ
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quando resolveu transformar Nathan Zuckerman, o personagem que aparecera pela primeira vez em "My Life as a Man" (1974), no protagonista de "O Escritor Fantasma", em 1979, Philip Roth provavelmente não podia imaginar que estava tomando a decisão mais importante de sua longa carreira.
Daquele momento até ir embora, em "Fantasma Sai de Cena", em 2007, o escritor ficcional, às vezes um reflexo autobiográfico cruelmente distorcido, às vezes um feroz adversário de seu idealizador, ocupou centenas de páginas em nove obras (sem contar as "participações especiais") e se transformou em uma das principais criações literárias das últimas décadas.
É a parte inicial dessa história, "Zuckerman Acorrentado", que chega ao Brasil pela primeira vez em um único volume, com os romances que, unidos, ficaram conhecidos como a Trilogia Zuckerman ("O Escritor Fantasma", "Zuckerman Libertado" e "Lição de Anatomia").
Também integra o volume o "epílogo", a novela "A Orgia de Praga".
A saga começa com o personagem se lembrando do encontro, aos 23 anos, com o seu autor-modelo, Lonoff.
Ao mesmo tempo em que presencia a implosão da família que visitava, narra ao leitor os conflitos da própria família e nos dá uma amostra de sua produção ficcional, ao imaginar que Anne Frank não havia morrido durante a Segunda Guerra Mundial.
Em "Zuckerman Libertado", já um escritor de meia-idade, autor do transgressor "Carnovsky", é alçado ao papel de "celebridade" e provoca um artigo furioso de um crítico que antes o elogiara (algo muito similar, portanto, ao que aconteceu a Roth quando publicou "O Complexo de Portnoy", em 1969).
E, por fim, em "Lição de Anatomia", doente, cercado de mulheres, incapaz de produzir, Zuckerman quer jogar tudo para o alto e mudar completamente de vida.
Um resumo assim brutal não dá conta, obviamente, de um conjunto de textos que dissecam de um modo avassalador, quase histérico e muitas vezes engraçadíssimo, o lugar difícil da arte na sociedade contemporânea em meio a debates religiosos, longas epifanias sexuais e ao jogo de fascínio e asco do mundo da fama instantânea.
Um romance de natureza completamente diferente é "Nêmesis", que também acaba de ser lançado no Brasil.
Trata-se da obra mais recente do escritor. Aqui, o tom é menor, contido, condizente com a fase atual de Roth, em que os temas da velhice, da morte e da impossibilidade de superar certos limites assumem o primeiro plano.
"Nêmesis" é sobre a dor, o medo e a impotência, materializados em uma epidemia de pólio que atinge uma comunidade judaica em New ark, no verão de 1944.
Relidas em conjunto, essas obras, escritas com mais de 20 anos de distância, comprovam que Roth está em um grupo muito especial de escritores, um clube pequeno e restrito. Aproveitemos.

ADRIANO SCHWARTZ é professor de literatura da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.

ZUCKERMAN ACORRENTADO
AUTOR Philip Roth
EDITORA Companhia das Letras
TRADUÇÃO Alexandre Hubner
QUANTO R$ 49 (552 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo

NÊMESIS
AUTOR Philip Roth
EDITORA Companhia das Letras
TRADUÇÃO Jorio Dauster
QUANTO R$ 36 (200 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo

O escritor de US$ 84 mi

Autor mais bem pago do mundo, James Patterson tenta acontecer no Brasil e diz que não faz 'literatura séria'

Divulgação

O americano James Patterson

FABIO VICTOR
DE SÃO PAULO

A ideia, corrente no mundo literário, de que escritor não ganha dinheiro é balela para James Patterson, 64.
O americano é, segundo a revista "Forbes", o autor mais bem pago do planeta nos últimos dois anos. A lista divulgada no mês passado lhe atribuiu rendimentos de US$ 84 milhões (R$ 158,7 milhões) entre maio de 2010 e abril de 2011.
É mais que o dobro do valor da segunda colocada, a americana Danielle Steel. No ano passado, Patterson havia liderado a lista com ganhos de US$ 70 milhões.
Sozinho ou com a ajuda de colaboradores (cujos nomes aparecem menorzinhos nas capas dos livros), o americano já publicou 83 títulos.
Seu forte são suspenses policiais -como os dois que chegam ao Brasil pela editora Arqueiro, que tenta enfim fazer o autor acontecer no país-, mas ele também está no segmento infantojuvenil, com séries de feitiçaria, mangás etc. E montou um portal para estimular crianças a ler, o readkiddoread.com.
Ex-publicitário que aplica ao livro as mesmas regras de uma mercadoria ("Se o público não gosta de um, não vai ler o outro"), Patterson não se ilude sobre o alcance de sua obra. "O que quero é entreter as pessoas, acho importante que elas às vezes relaxem e acho que meus livros são um bom relaxamento", disse à Folha, em entrevista por telefone, de Nova York.
Admirador do realismo mágico, ele conta que seus livros favoritos são "Cem Anos de Solidão", de García Márquez, e "Ulysses", de James Joyce, mas é sincero: "Nunca escreverei um grande livro de literatura séria, nem quero. Não sou bom como García Márquez, Joyce ou Flaubert. Mas posso escrever uma grande história popular".
Patterson largou a publicidade, mas não os ardis da carreira. É ele quem cria os slogans (como "As páginas viram sozinhas") e anúncios para seus livros.
Ele já vendeu mais de 200 milhões deles. Num patamar desses, quaisquer 10 milhões vêm de lambuja: seu site diz que são 220 milhões; sua nova editora brasileira, 230 milhões; e à Folha ele estima em mais de 250 milhões.
Impossível saber com precisão, mas há dados incontestáveis. A lista da "Forbes" é baseada, entre outras fontes, em números fornecidos pelo Nielsen BookScan, uma das principais ferramenta para mensurar vendas.
O "Guinness" aponta que ele é o autor com mais títulos na lista de mais vendidos do "New York Times" (45, em 2009) e o primeiro a vender mais de 1 milhão de e-books -e ele escreve à mão.
Possivelmente, a única pessoa no mundo que vende mais que ele hoje é a britânica J. K. Rowling, de "Harry Potter", cuja soma já ultrapassou 400 milhões. Paulo Coelho vendeu 146 milhões.




CRÍTICA ROMANCE

Livros de Patterson são como sorvetes, deliciosos e breves

Tramas policiais não têm valor intelectual, mas prendem o leitor até o fim

A NARRATIVA USA A REDUNDÂNCIA PROGRAMADA: SE O LEITOR PERDER UMA INFORMAÇÃO IMPORTANTE, ELA SERÁ REPETIDA A CADA 20 PÁGINAS

NELSON DE OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os thrillers assinados pelo escritor James Patterson podem ser lidos, cada um, em no máximo quatro horas.
Em poucas assentadas, o mistério já está resolvido.
Por isso logo trazem à mente analogias com a culinária. Eles são preparados e deglutidos tão rapidamente que já foram comparados ao fast food, por exemplo.
Prefiro dizer que os romances de Patterson são como os sorvetes. Não têm qualquer valor nutricional, engordam, mas são irresistíveis.
Se, no ponto principal do cardápio, ficam os pratos mais sofisticados -a literatura que fortalece os músculos e os ossos-, no outro extremo nós temos as sobremesas.
Depois de forrar o intelecto com obras fundadas na linguagem -de Lobo Antunes, Paul Harding etc.-, quem consegue resistir a um saboroso romance de investigação, cujo único ingrediente é o enredo?
Patterson e sua equipe de redatores são mestres no enredo-que-realmente-enreda.

SELVAGERIA
"O Dia da Caça" pertence à série protagonizada pelo detetive-psicólogo negro Alex Cross. A trama tem início quando uma família inteira é chacinada dentro de casa. Outros homicídios com o mesmo padrão acontecem.
O foco amplia-se, entram em cena o fisiologismo da CIA e a guerra civil na Nigéria. Cross viaja para a África atrás dos assassinos, é preso e torturado. Os momentos de brutalidade na prisão são os melhores do livro.
"4 de Julho" pertence à série "O Clube das Mulheres contra o Crime".
Nesse romance, duas histórias correm paralelamente: o julgamento da tenente Lindsay Boxer, acusada de má conduta policial, e a investigação dos assassinatos brutais que ocorrem numa cidadezinha praieira.
As cenas de tribunal são de longe as melhores da história. Suspense de primeira, enervante.
É difícil resistir à tentação de saltar as páginas e ir direto ao veredito. Eu não resisti.
Diferentemente dos romances de Stieg Larsson ou Arnaldur Indridason, por exemplo, nos thrillers assinados por Patterson não há nada que se pareça minimamente com o que se convencionou chamar de "alta literatura".
Seus narradores-protagonistas são planos, a linguagem é literal e o realismo politicamente correto é frágil: o bem e a justiça sempre vencem no final.
Além disso, a narrativa faz uso da redundância programada: se o leitor se distrair e perder uma informação importante, tudo bem. Essa informação será repetida a cada 20 páginas.
O engraçado é que nada disso tira o sabor da leitura.
Mas cuidado: o texto das orelhas dos dois romances é do tipo "estraga-prazer", pois adianta pelo menos 30% da trama. Se você não gosta de começar um sorvete já parcialmente chupado, evite as orelhas dos dois.

NELSON DE OLIVEIRA é autor de "Poeira: Demônios e Maldições" (Língua Geral)

O DIA DA CAÇA E 4 DE JULHO
AUTOR James Patterson
TRADUÇÃO Fabiano Morais ("O Dia da Caça) e Marcelo Mendes ("4 de Julho")
EDITORA Arqueiro
QUANTO R$ 24,90 cada um (ambos têm 224 págs.)
AVALIAÇÃO bom




Editora investe R$ 300 mil para tentar, enfim, emplacar o autor

DE SÃO PAULO

James Patterson tem mais de uma dezena de títulos publicados no Brasil desde os anos 1980, com lançamentos regulares. Ainda assim, nunca conquistou por aqui nem um átimo do sucesso que faz no exterior, em especial nos países de língua inglesa.
Alheia à evidência -ou quem sabe desafiada por ela-, a editora Arqueiro apostou alto para lançar dois novos títulos de Patterson no Brasil, "O Dia da Caça" (da série do detetive Alex Cross) e "4 de Julho" (do "Clube das Mulheres contra o Crime").
Chegaram, na Bienal do Livro do Rio, no início do mês, embalados por um investimento de R$ 300 mil em divulgação, que inclui anúncios na TV paga, no metrô de São Paulo e em ônibus do Rio.
"Não quero pensar em por que ele não aconteceu, mas em como vamos fazê-lo acontecer", afirma Marcos Pereira, um dos donos da Arqueiro (e da Sextante, assídua nas listas de best-sellers).
O editor considera que até pouco tempo atrás "o Brasil não tinha uma cultura de [ler] literatura comercial, livros de entretenimento", mas diz que o quadro vem se alterando.
A Arqueiro fechou contrato para lançar 15 livros de Patterson. Os dois primeiros tiveram tiragem inicial de 30 mil exemplares cada um. Em 2012, sai um da série infantojuvenil "A Bruxa e o Mago".
"Às vezes o livro não é publicado corretamente. Isso me ocorre de vez em quando. Quanto mais gente sabe do livro, mais ele acontece", comenta Patterson sobre sua situação peculiar no Brasil.
"'Alex Cross' e o 'Clube das Mulheres contra o Crime' são as séries de mistério mais populares do mundo nos últimos anos. E as pessoas ao redor do mundo não são idiotas", gaba-se o americano.
Questionada sobre quantos livros de Patterson vendeu, a Rocco -que tem em catálogo sete títulos do autor, entre eles "3º Grau" e "Dupla Cilada para Cross"- preferiu não se manifestar. Tampouco quis opinar sobre os motivos de o autor não reproduzir aqui o êxito de outros países.
Antes da Rocco, a obra de Patterson foi editada no Brasil pela Best-Seller e, antes ainda, pela Record, que o publicou em 1980. (FABIO VICTOR)

RITA SIZA - Menino não entra?

O Fenerbahce conseguiu driblar uma punição e tornou seu jogo um 'clube da Luluzinha'



Um estádio de futebol transformado em "clube da Luluzinha" é coisa que não se vê todos os dias.
Aconteceu na Turquia nesta semana, quando o campeão Fenerbahce inventou uma maneira de dar a volta a um castigo por violência dos seus adeptos: o time atuou com bancadas inteiramente ocupadas por mulheres (e numa concessão aos Bolinhas turcos, por meninos de menos de 12 anos).

O escândalo de corrupção que envolve o Fenerbahce já havia custado ao clube a presença na Copa dos Campeões (e levado o seu presidente para a prisão). Na pré-temporada, uma invasão de campo num jogo com o Shakhtar Donetsk acarretou a típica sanção da Uefa, que determinou que banir o público é a melhor forma de punir o comportamento de risco das multidões nas arenas.

No caso, o Fenerbahce foi "condenado" à realização de dois jogos da liga sem público. Mas a imaginação da federação turca permitiu a "inovação" mundial, por meio de uma emenda do regulamento, feita 24 horas antes do jogo, de forma a excluir mulheres e crianças do castigo.

Assim, contra o Manisapor (1 a 1), o clube de Istambul decidiu distribuir bilhetes gratuitos para todas as mulheres que quisessem ir ao estádio. Resultado: 41 mil lugares repletos. "Este é um dia histórico.
Pela primeira vez no mundo, tivemos uma torcida só composta por mulheres e crianças", disse uma das senhoras com assento na direção-executiva do Fenerbahce, Yasemin Mercil.

A evolução da sociedade faz do mundo ocidental um lugar onde "há cada vez mais mulheres" nas universidades, nas empresas e na política. E, se é verdade que também "há cada vez mais mulheres" nos estádios, elas ainda estão longe de assumir a sua verdadeira representatividade -na Inglaterra, onde a torcida feminina é das maiores do mundo, não chegam a 20% dos espectadores.

A experiência turca, disseram os envolvidos, foi fantástica. Em vez do silêncio desconfortável de um estádio vazio, os atletas foram aplaudidos e incentivados com as tradicionais canções da torcida que as mulheres conheciam de cor. Dizem os relatos que a multidão esteve mais afinada do que o costume e que os insultos foram menos audíveis -e que não se registrou nenhum caso de violência.

"Este jogo ficará para sempre na minha memória", disse o capitão do Fenerbahce, Alex. "Só temos que agradecer a todas estas senhoras que decidiram vir para nos apoiar", afirmou Joseph Yobo. Até o meia do Manisapor, Omer Aysan, estava impressionado: "Foi tão agradável e divertido jogar só para mulheres", disse, após se juntar a seus rivais para distribuir flores para a torcida.

Charge - Amarildo

ROBERTO RODRIGUES - Uma grande lição

A maior riqueza é o tempo que uma pessoa consegue dar a si mesma; o tempo para viver com alegria


HÁ POUCOS dias tive a oportunidade de assistir a uma palestra do sr. Nando Parrado, empresário de sucesso do vizinho Uruguai.
Parrado é um dos sobreviventes do terrível acidente aéreo ocorrido há 39 anos, quando uma equipe juvenil uruguaia de rúgbi ia jogar em Santiago do Chile e o avião se chocou contra uma montanha nos Andes, dividindo-se em dois. A parte traseira despedaçou-se no acidente e nenhum de seus ocupantes se salvou.
A parte da frente, por milagre, deslizou por uma longa ravina inclinada na cordilheira, sem bater em nenhuma pedra ou obstáculo, até parar. Era um "charuto" cortado ao meio, e, quando parou, tinha 29 sobreviventes e alguns mortos.
O palestrante contou que, quando os jovens atletas, com idade média de 18 anos, receberam a informação de que havia algumas vagas no avião, ele correu na frente dos demais e convidou sua mãe e irmã: eram viagem e final de semana gratuitos em Santiago, e Parrado ficou entusiasmado quando ambas, alegremente, aceitaram o convite. As duas morreram no acidente.
Ele tratou do tema com profunda dignidade, sem o menor sensacionalismo. Foi desfiando suas ideias, suas perguntas, suas perplexidades e suas crenças.
Assim que o avião parou na ravina, na escura noite andina, em meados de outubro, os jovens tomaram a primeira e fundamental decisão: tapar o buraco traseiro do "charuto" que restava do avião, para reduzir o frio e, com isso, sobreviver. Foi a grande iniciativa que lhes permitiu ficar ali dois meses inteiros, esperando o momento de buscar algum tipo de socorro.
Souberam -ouviram no rádio- que depois de dez dias as buscam foram suspensas, porque se considerava impossível que houvesse algum sobrevivente após esse período. Sabiam também que tinham de esperar o melhor período -o verão- para tentar caminhar na neve até encontrar algum socorro. Não tinham roupas para isso -afinal, eram jovens que iam jogar rúgbi e voltar-, e suas chances eram mínimas. Sofreram todo tipo de percalço, inclusive uma avalanche que cobriu o avião e matou mais alguns deles, deixando os 16 restantes ainda mais desamparados.
Em nenhum momento Parrado tratou do conhecido tema da necessidade de se alimentarem dos mortos, fato que, à época, teve grande repercussão. Não, nada disso. Apenas narrou a saga inacreditável: após os dois meses de louca prisão na fuselagem, ele e mais dois amigos saíram em busca de socorro, sabendo do improvável êxito de sua tentativa. Um deles voltou ao final do segundo dia, mas ele e o outro continuaram. Por dez dias, dormindo duas horas por dia para não congelarem, seguiram adiante, até encontrar socorro.
Da fantástica história, algumas conclusões:
1) O amor é o grande motor das ações humanas. Parrado queria voltar por amor ao pai, que supunha desesperado pela perda de toda a família. O amor ao seu pai fê-lo seguir adiante, superando todas as brutais dificuldades. "Hoje, amo minha família, meus amigos e meus cães. O resto é secundário". Amor, amor, amor acima de tudo.
2) Nada acontece depois que a gente morre: tudo continua, igualzinho, para os que ficam. Os bancos continuaram funcionando normalmente, bem como as lojas e tudo o mais: nada mudara, embora ele estivesse hipoteticamente morto.
3) Quando uma decisão tem de ser entre a vida e a morte, prevalecerá sempre a primeira, e com rapidez, sem maiores considerações.
4) A maior riqueza é o tempo que uma pessoa consegue dar a si mesma. O tempo para viver com alegria, para curtir seus amores, para ser gente, e não escravo do relógio ou dos preconceitos.
5) Para que perguntar, por exemplo, por que convidara a mãe e a irmã? Não adianta nada... Como diz ele: "sorte; destino?"
Parece tudo tão claro, tão óbvio!
Mas como é difícil. É tão evidente que o amor é a maior alavanca do mundo, e a liberdade (o tempo) é o maior bem, mas o homem vive desdenhando o amor e consumindo o tempo, envolto em vaidades vãs e em ambições inúteis.

ROBERTO RODRIGUES, 69, coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp e professor do Depto. de Economia Rural da Unesp - Jaboticabal, foi ministro da Agricultura (governo Lula).

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Vírus de opinião - JOSÈ ROBERTO DE TOLEDO

Quem usa sabe que a repercussão nas redes sociais varia de zero a 1 milhão. E o zero é muito mais frequente. Só de vez em nunca um tuíte/post é maciçamente reproduzido por quem segue seu autor, e pelos seguidores dos seus seguidores, até vários graus de separação. Quando isso acontece, o fenômeno é "viral".

A virulência é o Eldorado do marketing virtual. E, como tal, raramente alcançada. O Instituto Gallup verificou a quase irrelevância das campanhas institucionais via Twitter e Facebook. Os esposos dos usuários de redes sociais, por exemplo, têm 40 vezes mais influência na opinião formada sobre marcas e produtos do que as propagandas no Twitter e no Facebook. Não fosse rara, a virulência mataria o seu alvo por sobrecarga.

Poucos microorganismos hostis conseguem se espalhar maciçamente. Só os que acham uma brecha no sistema de defesa do hospedeiro/vítima e condições ambientais favoráveis se expandem ao nível de epidemia. Notícias, mensagens políticas e ideias em geral só se propagam se conseguem driblar a apatia, essa arma imunológica da opinião pública.

Quem fala não impõe a quem escuta o que é relevante. Por isso, tentativas de controle do que é publicado - por conselhos ou pela censura - são inúteis, além de antidemocráticas. Uma mensagem só segue adiante nas redes sociais se o "receptor" comprá-la com entusiasmo suficientee reproduzi-la. Mesmo isso é insuficiente para alcançar a virulência.

Para pular etapas, marqueteiros virtuais contratam celebridades do Twitter como garotos-propaganda. Mas essa adaptação anacrônica do tiro de canhão para matar uma mosca, típica dos meios de massa unidirecionais, não costuma levar a lugar algum. Na mesma linha, usuários com escores altos em serviços como "Klout" (que medem a suposta influência de cada perfil no Twitter, Facebook, YouTube etc) são bombardeados com mensagens "pessoais" de produtos. Se você está recebendo uma enxurrada de tuítes que começam por seu codinome, conforme-se: você é um trendsetter.

Restrita Esses recursos primitivos são insuficientes para superar os muitos anticorpos que evitam infopandemias. Mesmo quando ultrapassa as primeiras barreiras da transmissão, a mensagem tende a ficar restrita ao segmento da população mais vulnerável àquele conteúdo, a pessoas que compartilham as mesmas características demográficas, que têm um DNA social comum.

Raríssimas campanhas saem dos trending topics para as ruas e influenciam um país. Sem um caldo de cultura propício, campanhas virtuais como "Cansei", pelo voto distrital ou protestos anticorrupção tendem a contaminar sempre a mesma parcela da população - que acaba por se desencantar com a falta de repercussão do movimento e troca a mobilização por frustração, quando não por ressentimento com o resto da sociedade.

Para mobilizar multidões, como nos países árabes, é preciso um tipo de engajamento que só costuma ser produzido por causas muito palpáveis - como fome e perda de direitos fundamentais - ou convicções ideológicas inflamadas, cuja expressão mais atual é o fanatismo religioso.

Sem o acúmulo de tensões sociais nenhum movimento sai do sofá para a praça. O trendsetter ou marqueteiro virtual pode estapear o fundo da garrafa quantas vezes quiser que a virulência não sairá pelo gargalo. Comunicação não é catchup.

domingo, 18 de setembro de 2011

VERÍSSIMO - Com ou sem gás


– Uma mineral – pediu o homem.

– Com ou sem gás?

– Pois é. Decisões, decisões... Com gás. Não, sem. Com.

– O senhor quer couvert?

– Não precisa. Ou então traga, sim. Mas só pão.

– Não quer manteiga? Talvez umas azeitonas?

– Isso. Azeitonas.

– Verdes ou pretas?

– Ah, pode escolher? Verdes. Não, pretas. Verdes. Não importa. Traga as duas.

– O senhor precisa se definir.

– Eu sei, eu sei. É que nem sempre é fácil...

– E a manteiga. Vai querer?

– Hmm. Deixa ver. Você precisa da resposta agora?

– Sim, senhor.

– Manteiga, manteiga... Não. Manteiga não. Ou sim.

– Sim ou não?

– Calma. As escolhas não podem ser assim, definitivas, meu caro. Por exemplo: você quer ser enterrado ou cremado?

– Ainda não pensei nisso.

– Pois é. Eu penso nisso a toda hora. E ainda não cheguei a uma conclusão. Você acredita em vida depois da morte?

– Acredito.

– Eu não sei se acredito. Acredita em Deus?

– Acredito.

– Não tem nenhuma dúvida a respeito?

– Não.

– Eu não sei se acredito ou não.

– Olhe, o prato do dia hoje é filé de peixe a dorê com batatas.

– Pode vir.

– As batatas podem ser fritas ou cozidas.

– Hmm. Certo. Eu quero fritas. Não, cozidas. Fritas!

– Molho remolado ou bechamel?

– O que?

– Com o peixe. Molho remolado ou bechamel?

– Ai meu Deus. Deixa eu pensar.

– Remolado ou bechamel?!

– Espera um pouquinho.

– REMOLADO OU BECHAMEL?!

– Você está me pressionando.

– O senhor precisa se decidir, cavalheiro.

– Eu sei. Pensa que eu não sei?

– Remolado ou bechamel?

– Assim não dá. Querem que a gente tenha opiniões definitivas. Como se tudo pudesse ser decidido assim, na hora. Pena de morte, sim ou não? Pagode, sim ou não? Liberação da maconha, sim ou não? Remolado ou bechamel? Mineral com gás ou sem gás é apenas o começo. Depois querem que eu me posicione a respeito de tudo. Pois não lhes darei essa satisfação. Não quero água mineral nem com gás nem sem gás. Vou tomar vinho!

– Tinto ou branco? – Tinto. Branco. Tinto. Não, branco.

– Seco ou frutado? – Suspende o almoço!

Gastão: espécie em extinção!

Numa época em que só se fala em cortar gastos, um ministro chamado Gastão não deixa de ser engraçado, coisa que, no caso do sucessor de Pedro Novais, já é um grande avanço.

Seja lá quem for esse Gastão Vieira (além de deputado maranhense e amigo do Sarney, pré-requisitos básicos para comandar o Ministério do Turismo), o sujeito assume, junto com o cargo, o desafio de contrariar o verbete de dicionário que define seu nome como sinônimo de “esbanjador, quem gasta excessivamente”, igualzinho seu conterrâneo antecessor.

A piada pronta da semana – “o governo trocou um Gastão por outro” – ganhou panos quentes na versão do deputado Tiririca sobre a mudança anunciada na quarta-feira: “Todo ministro é meio gastão!”

Hoje em dia, como se sabe, ninguém é “gastão” impunemente. Não à toa, o nome próprio homônimo do adjetivo está em extinção no País. O último brasileiro assim batizado deve ter uns 40 anos, ou seja, veio ao mundo no finalzinho do chamado “milagre brasileiro”.

Naquele mundo até então de fantasia, Walt Disney já havia criado para os quadrinhos um personagem que aqui no Brasil foi chamado de Gastão (Gladstone Gander, no original em inglês). Elegante, esnobe e preguiçoso, tinha como principal característica a fama de ser “o pato mais sortudo do mundo” para azar do primo Donald, com quem disputava – sem muita cordialidade, diga-se de passagem – a herança do Tio Patinhas e o amor da Margarida.

É cedo ainda para apostar numa coisa ou noutra, mas fica aqui a torcida para que o ministro Gastão Vieira, em vez de honrar a etimologia de seu nome, seja tão-somente um pato de sorte. Quem sabe, né?