terça-feira, 12 de julho de 2011

A teia de problemas - Denise Rothenburg

Os políticos apontam Dilma como uma presidente brava, que não conversa muito sobre política, e ainda diz a seus auxiliares que eles precisam de babá. Isso pega bem até certo ponto. Quem não funciona não precisa de babá, e sim de demissão

Ouvi de assessores palacianos e de políticos que, passada essa última semana de funcionamento do Congresso, o governo terá tempo de reorganizar a base parlamentar e começar agosto longe de sobressaltos. Difícil acreditar. Em 2005, no auge da crise do mensalão, o recesso foi branco e a crise não arrefeceu. Agosto chegou fervendo. Este ano, são vários os sintomas que indicam febre alta na política. Vamos a eles:

CPI do Dnit — O diretor do Departamento de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Luiz Antonio Pagot, interrompe as "férias" para falar na terça-feira no Congresso. No Senado, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) comentava na sexta-feira que faltam apenas três assinaturas para que o governo Dilma comece seu segundo semestre com uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o setor de transportes. E, em política, sempre chega uma hora em que a turma que não se sente governo prefere arrumar encrenca, como eles se referem às CPIs, e lá na frente valorizar o passe. Foi assim nos tempos do mensalão, em 2005. A crise só esfriou porque Lula se agarrou no povão — não saía dos palanques de inaugurações, pedra fundamental de uma obra aqui, outra ali. E na política, levou o PMDB para cargos de ponta como o Ministério de Minas e Energia e o de Integração Nacional.

Briga geral — A relação entre PT e PMDB, que nunca foi assim aquele casamento recheado de afinidades, ganha aos poucos novos ingredientes. O PT não se conforma em ver o deputado Mendes Ribeiro (PMDB-RS) como líder do governo no Congresso. Até porque os partidos são adversários no Rio Grande do Sul. E também está de cara feia para Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo no Senado desde os tempos de Fernando Henrique Cardoso. Se o PT tomar a liderança do governo no Senado, Dilma corre o risco de ver o PMDB começar a lavar as mãos e reforçar o pedido de CPI.
Para completar, dentro do PMDB no Senado há descolamento entre a cúpula e o G-8, formado por Jarbas Vasconcelos (PE), Pedro Simon (RS), Ricardo Ferraço (ES), Eduardo Braga (AM), Waldemir Moka (MT), Luiz Henrique (SC), Casildo Maldaner (SC) e Roberto Requião (PR). E quando o PMDB briga entre si, quem paga o pato é o governo federal, que se vê obrigado a negociar com as diversas alas da legenda para fazer valer seus interesses. E tome mais problema.

PT x PT — Do alto de quem viu muita coisa na política, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), estava coberto de razão quando disse, em entrevista ao Correio, que o PT se desestrutura sem Lula. Os petistas têm encontro marcado no Rio de Janeiro, em 5 de agosto, para debater as alianças para 2012. Tem ainda o mensalão de volta à pauta, porque o procurador-geral da República recomendou a condenação de 36 dos envolvidos, entre eles o presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP). O PT voltará a estremecer e estará mais preocupado em se safar e lançar candidatos a prefeito do que em defender a administração Dilma. Aliás, os defensores do governo no Congresso estão cada vez mais escassos e muitos colocam a culpa no estilo da presidente.

Estilo nanny — Os políticos apontam Dilma como uma presidente brava, que não conversa muito sobre política, e ainda diz a seus auxiliares que eles precisam de babá. Isso pega bem até certo ponto. Quem não funciona não precisa de babá, mas sim de demissão. Como Dilma não procura os partidos, só chama para um almoço de vez em quando, os políticos se sentem descompromissados com o governo. E isso é ruim. Por mais bem-intencionada que a presidente seja — e ela é — tentar mudar a relação política na brabeza não funciona. É preciso conversar e trocar esse pneu com o carro andando, com jeito para não deixar que os descompromissados com o país terminem atrapalhando o que está caminhando. Ela ainda não encontrou esse tom para lidar com a base e tem que evitar corrupção e cuidar para que uma CPI não desgaste seu governo. Bem, eu como não tenho babá em julho para cuidar das crianças, vou assumir o lugar dela pelas próximas três semanas. Volto em agosto.

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