quinta-feira, 28 de abril de 2011

Thor | Omelete Entrevista Kenneth Branagh

Diretor fala da escala épica, dos ecos shakespeareanos e do trabalho com a Marvel


Steve Weintraub
27 de Abril de 2011

Embora tenha participado de franquias como Harry Potter e filmes de ação como As Loucas Aventuras de James West, o ator Kenneth Branagh é conhecido no cinema pelas adaptações de clássicos literários, especialmente de peças de William Shakespeare, como as três que ele dirigiu: Henrique V, Muito Barulho por Nada e Hamlet.

Foi com surpresa, portanto, que veio a notícia de que a Marvel queria Branagh para dirigir Thor. A versão para as telas da HQ do Deus do Trovão chega aos cinemas no Brasil nesta sexta, e o irlandês exercita seu lado teatral ao narrar as trágicas intrigas palacianas de Asgard.

Já haviamos conversado com Branagh durante a Comic-Con do ano passado. Agora nosso correspondente em Los Angeles e editor do Collider, Steve Weintraub, fala com o diretor sobre o desafio de levar Thor ao cinema.

Você usou sua formação shakespeareana em Thor?

Thor tem uma escala imensa. Levamos meses - anos - de planejamento nele. Mas o conteúdo combina o que temos nos quadrinhos com histórias bastante pessoais e reconhecíveis, como a temática do pai e filho de Hamlet, por exemplo. Então, neste caso, em que a família em questão é dotada de enorme poder e consequência, quando seus integrantes discutem é o universo que paga o preço. É isso que dá o tom épico do filme. Ao mesmo tempo, eu não queria que os personagens soassem shakespeareanos, queria mostrar que eles ainda são como nós. Especialmente nas cenas intimistas, o desafio foi encontrar um modo de falar que conseguisse cumprir o que eu acho que as pessoas gostam nos quadrinhos, uma certa diferença na maneira de falar, para que você acredite que eles são deuses, são inumanos, mas ao mesmo tempo não fiquem muito shakespereanos. Acho que nós conseguimos capturar muito bem isso.

Um dos grandes problemas em adaptar Shakespeare é que você não pode ligar pra ele pra conversar. [risos] Eu tentei várias vezes e ele não retorna as ligações, não escreve de volta... Já em Thor foi o contrário. Dá pra falar com Stan Lee, com [J. Michael] Straczynski... Existem várias pessoas-chaves nisso tudo que podem te auxiliar. Existe também o extremo entusiasmo das pessoas que estão trabalhando nesse projeto, você sente que eles realmente querem fazer esses filmes e é assim que eu gosto de trabalhar.

Houve grande colaboração com a Marvel então? Como foi?

Há mais ou menos dois anos, eu almocei com Stan Lee, quando começamos a falar sobre Thor. Depois, ele veio ao set e mostrou um grande interesse por tudo. Além dele, também discutimos bastante com outras pessoas de importância na Marvel, com as quais tentamos encontrar um equilíbrio entre o passado - não é por acidente que a Marvel ainda está por aqui, que os quadrinhos deles ainda estão no mercado - e a linguagem do cinema. As versões de Straczynski para as HQs foram um novo marco para o personagem. Ele deu um tratamento imaginativo fantástico para os personagens e as paisagens de Asgard e também para a Terra contemporânea. Eu realmente gostei da natureza colaborativa de todo o projeto. Meu trabalho foi guiar, mover algumas coisas de lugar, mas ao mesmo tempo eu tive que selecionar material de uma enorme variedade de talentos que conhecem essa história muito bem. Essas pessoas têm um conhecimento e um entusiasmo incríveis e gostam desse tipo de desafio. Há muitas maneiras de errar, muitas armadilhas para evitar, o que faz de tudo isso muito interessante e difícil, mas realmente emocionante, mesmo quando você pensa que está chegando perto de acertar.

Como era a atmosfera no set?

Éramos um grupo incrível de pessoas muito animadas e bem motivadas durante as filmagens. Demos muita sorte com os atores também. Todos estavam muito interessados em seus personagens, nos quadrinhos e na história em si. Jamie Alexander, por exemplo, conhecia cada fala e cada cena.

O seu passado em filmes épicos de época, como Henrique V, te ajudou na preparação e no entendimento da escala desse mundo?

Eu acho que sim. Eu fico muito animado quando o assunto é o gênero dos épicos. Eles não me assustam. Eu gosto daquele momento em que você entra em uma sala escura, com centenas de pessoas, em frente a uma tela grande, pronto para aceitar coisas que vão além da realidade. Você está pronto para aceitar um tipo de realidade aumentada que dá uma liberdade catártica; te deixa curtir problemas muito maiores daqueles que qualquer pessoa jamais terá que enfrentar - a não ser que você tente governar nove reinos diferentes através do Cosmo. [risos] Mas, ainda assim, existem os problemas humanos centrais que se mantêm os mesmos.

A escala de Thor foi determinante para a sua aceitação do projeto, então?

Por mais que o tamanho das coisas me atraia, essa atração é só parcial. Há também a preocupação em tornar isso interessante. É claro que nós sempre estamos interessados nas vidas de pessoas grandiosas e o que acontece entre quatro paredes com elas. É como na série The West Wing, que mostra o que acontece nos corredores do poder e como existem "pessoas normais" envolvidas em coisas como inaugurações épicas ou coroações; como essa dinâmica funciona. Eu já tenho prática nisso, nessa fusão de escala, mas isso não torna tudo mais fácil, mas eu acho divertido. É bem legal estar em um mundo onde tudo pode ser discutido de um modo que possa oferecer reflexão mas, no fundo, também oferece entretenimento. Nós fizemos um filme bem divertido e que não insulta o público, mas que também não tenta ser um filme artístico.


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