quinta-feira, 17 de março de 2011

Terremotos e tsunamis são temas onipresentes nos mangás japoneses

Le Monde
Damien Leloup

  • Cena do clássico de animação Akira (Japão, 1988, 124 min.), inspirado na obra de Katsuhiro Otomo Cena do clássico de animação "Akira" (Japão, 1988, 124 min.), inspirado na obra de Katsuhiro Otomo
Hokuto no Ken, Akira, Neon Genesis Evangelion. O apocalipse, qualquer que seja sua forma, é um tema importante do mangá, as histórias em quadrinhos japonesas sempre muito populares e de incrível dinamismo. O espectro do tsunami e do terremoto aparece em inúmeras séries, onde pode servir de motor da intriga, de pano de fundo para uma história água-com-açúcar, de campo de ação ou de ponto de partida distante que justifica a existência de um mundo pós-apocalíptico.
É o reflexo do cenário do mangá, que, de acordo com seu público-leitor, é dividido em “seinen” (para adultos, com temática “séria”), “shojo” (para meninas), “shonen” (para meninos) e muitas outras subcategorias.
Em “Tokyo Mew Mew” (2000), um mangá leve para jovens garotas, o personagem principal se vê dotado de poderes mágicos e de uma aparência felina após um terremoto; do outro lado do espectro, “Tokyo magnitude 8” (2009) pinta com realismo cuidado as consequências de um sismo gigantesco que devasta o arquipélago. Esta última série descreve um caminho iniciático bastante clássico, o de dois sobreviventes nas ruínas de uma ilha artificial atingida por um terremoto, mas também procura descrever a organização dos resgates com grande atenção aos detalhes.
Dentre essas várias obras, uma se destaca de forma particular: “Spirit of the Sun” (2003), de Kaiji Kawaguchi. O mangá começa com um terremoto gigantesco, tão forte que corta Honshu, a principal ilha do Japão, em duas partes, seguido por um tsunami que devasta o que resta do país. O exército chinês, fingindo levar ajuda humanitária, toma posse daquilo que logo vem a se tornar o “Norte-Japão”, enquanto o exército americano se instala ao sul.
Publicações suspensas
Com ares de mangá pós-apocalíptico clássico, “Spirit of the Sun” também pincela, com certa sutileza, um retrato crítico do Japão dos anos 2000. Faz alusões mal-disfarçadas à severa política de imigração conduzida por Tóquio nas páginas que descrevem as condições de vida dos refugiados japoneses em Taiwan.
São temas correntes e transversais, mas nem por isso o terremoto e o tsunami são assuntos neutros. “X”, um mangá fantástico inspirado na Bíblia e mais particularmente no Apocalipse, teve sua publicação suspensa por vários meses em 1995: por mostrar inúmeros terremotos, que deveriam anunciar a iminência do fim do mundo, o mangá afetou a sensibilidade de muitos leitores, uma vez que Kobe acabava de ser atingida por um terremoto que deixou quase 6.500 mortos.
Várias publicações deverão ser suspensas nos próximos dias no Japão: as reprises na televisão da adaptação para desenho animado de “Tokyo magnitude 8” já foram suspensas, e outros animês que incluem cenas de tsunamis foram tirados da programação ou estão sendo modificados.


Tradução: Lana Lim

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