quarta-feira, 2 de março de 2011

RUY CASTRO - Qual Gaddafi?

RIO DE JANEIRO - Woody Allen disse certa vez que a Revolução Russa poderia ter acontecido muito antes de 1917. Mas os mencheviques e os bolcheviques, atirando-se mutuamente às carótidas sobre o que fazer depois que tomassem o poder, custaram a perceber que o Tzar e o Czar eram a mesma pessoa.
O mesmo pode ter se dado na Líbia, onde o ódio ao ditador Muammar Gaddafi vem de longe, mas, até há pouco, os rebeldes não se decidiam sobre quem derrubar: Gaddafi, Khadafi, Gathafi, Quathafi, Qadhafi ou Qadhdhafi? Eu próprio, que nunca me dediquei apaixonadamente à biografia do homem e costumo me perder quando abro um Atlas naquela região, já cheguei a pensar que fossem ditadores diferentes, talvez meio aparentados.
Vestígios dessa confusão ainda devem pairar por aí. É a única explicação para o fato de que Gaddafi, com 2/3 do território líbio em mão dos revoltosos, incluindo os poços de petróleo, abandonado por seus embaixadores, antigos aliados e metade do Exército, tendo contra si os EUA, a ONU e a União Europeia, com seu país sob bloqueio econômico e suas contas pessoais congeladas na Suíça, ainda não tenha sido posto para fora. Estarão atacando o Gaddafi certo?
A depender da rede de televisão ABC, do jornal "New York Times", da agência Associated Press e de outros possantes veículos de comunicação, essa possibilidade de confusão existe. Uns pelos outros, eles já grafaram o nome de Gaddafi de 112 formas diferentes desde que o cujo tomou o poder, em 1969.
Na verdade, há um imbróglio nisto, mas de outra natureza: qual Gaddafi os EUA pretendem enxotar? O atual, que o povo líbio sempre quis ver pelas costas, ou o de, digamos, 2008, que era louvado pela secretária de Estado americana Condoleezza Rice como "nosso forte parceiro na guerra contra o terrorismo" e cuja cooperação ela chamava de "excelente"?

Nenhum comentário:

Postar um comentário