quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Lições de crise egípcia para o debate sobre o livre fluxo de informações na web

Ainda não dá para dizer qual será o desfecho a crise egípcia, mas duas coisas já ficaram claras: 1) o debate sobre o livre fluxo de informações na internet vai subir mais alguns graus de temperatura; e, 2) a web pode ser fantástica para difundir palavras de ordem, mas não substitui os protestos de rua.

O livre fluxo de informações na internet foi colocado na agenda mundial pelo cambaleante regime do presidente egípcio Hosni Mubarak quando ele resolveu, na base da força, bloquear o uso da rede achando que com isto ele impediria a continuidade dos protestos contra sua permanência no poder desde a 30 anos.

Mesmo sem poder usar sistemas de comunicação como correio eletrônico, Twitter, Facebook e fóruns online, os egípcios não só continuaram nas ruas como os protestos aumentaram de intensidade. Isto permitiu contextualizar melhor o papel da internet em crises políticas. Ela é um excelente instrumento para trocar informações, mas, sem uma causa, ela perde todo o seu charme como ferramenta política.

A instabilidade política que está contagiando boa parte dos países do norte da África e do Oriente Médio tem mais a ver com o cansaço da população em relação a governos impopulares, corruptos e autoritários, do que com o uso de ferramentas eletrônicas no jogo político. Curiosamente, é muito provável que os protestos nos vários países acabem empurrando o pêndulo político para a recuperação de tradições islâmicas.

Trata-se de uma reação natural após décadas de ocidentalismo exagerado, em que a modernidade acabou sendo associada pelas elites governantes à corrupção, ao nepotismo e ao autoritarismo. Agora, é bem possível que a reação venha associada a comportamentos tradicionalistas, formando um contraste marcante com a badalação de boa parte da imprensa mundial sobre o uso da tecnologia de ponta na crise egípcia.

Mesmo que seu papel tenha sido exagerado na crise egípcia, graças ao comportamento desastrado de Mubarak, a questão da internet está deixando de ser monopólio dos nerds, tecnocratas, lobistas e executivos das empresas de telecom para entrar no cardápio de discussões do cidadão comum. Já não importam mais as conseqüências e sim o princípio.

É um debate muito interessante porque qualquer ação tomada contra o livre fluxo de informações vai acabar refletindo na sociedade como um todo. Já não estamos mais no tempo em que um militar armado paralisava uma central telefônica ou impunha a censura num jornal. Agora, bloquear a internet equivale a um haraquiri econômico e financeiro.

Um ditador ameaçado pode impedir que seus adversários usem a internet para conspirar, mas se fizer isso vai levar também os bancos, o comércio e o turismo para uma situação insustentável. A globalização e a integração de setores econômicos simplesmente inviabilizaram o bloqueio da internet por um período mais longo de tempo.

Se num primeiro momento a crise egípcia atraiu a atenção mundial pela forma como ela surgiu, graças à polêmica em torno da internet, agora o mais importante passou a ser entendê-la no seu real contexto social, econômico e cultural.

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