terça-feira, 18 de janeiro de 2011

O futuro do entretenimento passa pela TV – e pela internet

  • Por Pedro Doria

Se o assunto era TV, na Consumer Eletronics Show (CES), a maior feira de dispositivos digitais do mundo que ocorreu no início do ano, então a resposta parecia ser 3D. Nos stands de fabricantes havia inúmeras alternativas para a tecnologia – até mesmo uma que dispensa os óculos, da Toshiba.

Enquanto isso, só uma versão da Google TV estava lá, fabricada pela Samsung.

A indústria às vezes é assim. Míope.

Não é que não exista um mercado potencial para TVs capazes de transmitir vídeo em 3 dimensões. Deve ter. Mas é coisa ainda distante no futuro. Só existem um punhado de filmes neste formato. Seu potencial maior, que está na transmissão de esportes, exigirá das emissoras um investimento em novas câmeras inacreditavelmente alto. Não começou a ser feito. Não assistiremos às Olimpíadas de Londres em 3D, dificilmente à Copa do Brasil. Quem sabe, com otimismo, às Olimpíadas do Rio.

Enquanto a CES ocorria, Rich Greenfield, um analista da consultoria Pali Capital, de Wall Street, jogou no YouTube um vídeo. Atende pelo prosaico nome de “Como Roubar Qualquer Filme Que Você Queira na Web”.
Por que um analista de Wall Street criaria um guia para piratear filmes na internet? Porque ele é pago para revelar fragilidades da indústria.

Há até não muito tempo, para copiar um filme ilegalmente era preciso paciência e sorte. Paciência para descobrir e baixar via um sistema razoavelmente complexo de compartilhamento de arquivos como o Bit Torrent. E sorte para conseguir uma cópia de boa qualidade e sem vírus.

O vídeo de Greenfield mostra como isso mudou. Hoje, uma série de sites listam os filmes à disposição de quem quer vê-los. Não ficam só nessa: também resenham os arquivos, comentando sobre sua qualidade. Só baixa um filme sem nitidez quem quer. E não é preciso saber o que é Bit Torrent. Para baixar, sabendo quais os sites certos, basta saber clicar um ou dois links e o download se inicia.

Só havia um modelo de Google TV à disposição dos visitantes da CES porque a indústria do cinema e da televisão está boicotando equipamentos que ligam internet e televisão. Não é só o Google que sofre com isso. A Apple TV também é vítima do boicote. A locadora online Netflix, idem.

A indústria cria dificuldades porque não quer a TV pela internet. Para começar, ela rompe a grade. Se o espectador assiste o que quiser, quando quiser, não há mais horário nobre para cobrar caro em comerciais.
E surgem intermediários sobre os quais a indústria não tem controle. Nos EUA, no Brasil, na Europa, na Ásia, os mesmos conglomerados produzem o filme ou série e vendem a TV por assinatura. Nenhum destes grupos quer Google ou Apple ou qualquer outro no meio para quebrar a intermediação.

É onde entra o manual de pirataria de Rich Greenfield. No fundo, se o público está baixando seus programas pela internet, há duas opções. Uma é vender. Outra é não vender e assistir resmungando a pirataria crescer.
No momento, dificultando a vida das Google TVs que existem por aí, estão optando pela segunda opção.

Esta é uma dança que não para por aí. Uma televisão é, no fim das contas, só um grande monitor. Ela vem cheia de tecnologia: entradas, protocolos, seletor de canais. No mundo das Google TVs, não seria preciso. Compramos uma só televisão excelente que vai durar anos. É só um monitor. E mudamos a caixa, bem mais barata, de tantos e tantos anos. As entradas para os novos aparelhos estão lá. Os novos protocolos, idem.
Também para a indústria dos eletrônicos é um desafio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário