segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Deixam Saudades !!

O escritor J.D. Salinger morreu no dia 28 de janeiro aos 91 anos, "de causas naturais", em sua casa em New Hampshire, nos EUA. O seu livro mais conhecido, "O Apanhador no Campo de Centeio", foi lançado em 1951, quando ele tinha 32 anos.

O cantor, pianista e compositor Johnny Alf morreu no dia 4 de março, aos 80 anos. Ele tratava um câncer de próstata há cerca de três anos. Um dos precursores da bossa nova, ele vivia em uma casa de repouso na cidade.

O cartunista da Folha Glauco Villas Boas, 53, foi assassinado no dia 12 de março em sua casa, em Osasco, pelo universitário Carlos Eduardo Sundfeld Nunes. Seu filho, Raoni, 25, também foi morto.

O jornalista Armando Nogueira, criador do "Jornal Nacional", morreu no dia 29 de março, no Rio, aos 83 anos. Segundo informações da Globo News, ele morreu em casa, na Lagoa, vítima de um câncer no cérebro, diagnosticado em 2007.

O ex-empresário da banda punk Sex Pistols, Malcolm McLaren, 64, morreu no dia 8 de abril. Ele enfrentava uma batalha contra o câncer e morreu em uma clínica na Suíça.

O americano Ronnie James Dio, que ficou famoso por integrar bandas como Black Sabbath e Rainbow, morreu no dia 16 de maio, aos 67 anos, de câncer no estômago. A última banda de Dio foi a Heaven and Hell, que se apresentou no Brasil no ano passado.

O músico Paul Gray, da banda Slipknot, foi encontrado morto em um quarto de hotel nos EUA no dia 24 de maio, aos 38 anos. Ele morreu de uma overdose acidental de morfina.

O ator Gary Coleman, 42, famoso pelo personagem Arnold Jackson no seriado "Diff'rent Strokes", morreu no dia 28 de maio. No Brasil, a série foi exibida como "Minha Família é uma Bagunça", no canal pago Nickelodeon, e como "Arnold", no SBT.

O ator Dennis Hopper, mais conhecido por dirigir e estrelar o filme "Easy Rider - Sem Destino" (1969), morreu no dia 29 de maio, aos 74 anos, em sua casa em Venice, Califórnia, por causa de complicações do câncer de próstata.

A artista plástica Louise Bourgeois morreu no dia 31 de maio, aos 98 anos. Ela ficou conhecida no Brasil por sua enorme aranha que até hoje está em exposição no MAM-SP, na marquise do parque Ibirapuera.

O dançarino e coreógrafo japonês Kazuo Ohno morreu no dia 1º de junho, aos 103 anos, em Yokohama, no Japão. Ele era conhecido mundialmente como o pai do butô contemporâneo, mistura de teatro e dança de vanguarda.

O escritor português José Saramago morreu no dia 18 de junho, aos 87 anos. Ele sofria de leucemia. "Estava doente há algum tempo, às vezer melhor outras vezes pior", disse seu editor, Zeferino Coelho.

O jornalista, compositor e produtor musical Ezequiel Neves morreu no dia 7 de julho aos 74 anos, no Rio. A causa da morte foi falência múltipla de órgãos. Neves é um dos autores de "Codinome Beija-Flor" e "Exagerado", clássicos de Cazuza. Os dois eram amigos e parceiros.

O músico Paulo Moura, 77, morreu no dia 13 de julho no Rio. Ele tinha linfoma (câncer do sistema linfático). Clarinetista e saxofonista, Moura era considerado um dos principais nomes da música instrumental no Brasil e tocou com Ary Barroso e Elis Regina, entre outros.

O cartunista Paul Conrad, conhecido por suas provocativas charges políticas que lhe valeram três Prêmios Pulitzer, morreu no dia 5 de setembro aos 86 anos.

O humorista Juvemário de Oliveira Tupinambá morreu no dia 27 de setembro, aos 78 anos. Ele era conhecido por interpretar o personagem Bertoldo Brecha no programa "Escolinha do Professor Raimundo", da TV Globo, e pelo bordão "Veeenha!".

Arthur Penn, diretor do filme "Bonnie and Clyde", morreu no dia 28 de setembro, de uma falha no coração, aos 88 anos, nos Estados Unidos.

O ator americano Tony Curtis morreu aos 85 anos no dia 30 de setembro, de parada cardiorespiratória. Protagonista de várias comédias de Hollywood das décadas de 50 e 60, como "Quanto Mais Quente Melhor" (1959), ele é pai da também atriz Jamie Lee Curtis.

Dino De Laurentiis, célebre produtor de diretores italianos como Federico Fellini e Roberto Rossellini, além de sucessos do cinema americano como "Veludo Azul", "Barbarella" e "Hannibal", morreu no dia 11 de novembro, aos 91 anos, em Los Angeles, Califórnia.

O ator canadense Leslie Nielsen, 84, morreu no dia 29 de novembro de complicações devido a uma pneumonia em um hospital de Ft. Lauderdale, no Estado americano da Flórida. Ele ficou famoso por filmes como "Apertem os cintos, o piloto sumiu!" (1980), "Corra que a polícia vem aí" (1988) e as sequências.

O cineasta italiano Mario Monicelli suicidou-se no dia 29 de novembro, em Roma, aos 95 anos. Ele era considerado um dos mestres da comédia à italiana, gênero que o elevou à celebridade.


O diretor americano Irvin Kershner, conhecido por ter dirigido o segundo filme da segunda trilogia "Star Wars", "O Império Contra-Ataca", morreu aos 87 anos em Los Angeles, também no dia 29 de novembro.

O diretor Blake Edwards, cineasta conhecido pelos filmes de "A Pantera Cor-de-Rosa" com Peter Sellers, morreu no dia 16 de dezembro. Ele tinha 88 anos. As causas da morte ainda não são conhecidas.

A atriz e humorista Lupe Gigliotti, irmã do também ator e humorista Chico Anysio, morreu em sua residência no bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro, no dia 19 de dezembro, aos 84 anos.

Retrô 2010 - Cultura

JANEIRO

"Avatar", de James Cameron, foi o grande vencedor da 67ª edição do Globo de Ouro e levou duas estatuetas: filme dramático e diretor. O filme ganhou ainda oito prêmios Bafta.

Também em janeiro, "Avatar" bateu "Titanic", também dirigido por James Cameron, com arrecadação mundial de mais de US$ 2 bilhões.


FEVEREIRO

Justin Lane/Efe
"O Homem Caminhando 1"
"O Homem Caminhando 1"

A escultura de bronze do artista suíço Alberto Giacometti "O Homem Caminhando 1" (1961) foi leiloada em Londres por 65 milhões de libras (R$ 191,52 milhões), valor mais alto já pago por uma obra de arte.

O filme turco "Bal" (mel em turco), de Semih Kaplanoglu, ganhou o Urso de Ouro do Festival de Berlim. Roman Polanski, ausente do evento por estar em prisão domiciliar na Suíça, levou o Urso de Prata de melhor diretor por "O Escritor Fantasma".

MARÇO

Mark J. Terrill/AP
Kathryn Bigelow
A diretora Kathryn Bigelow

O filme "Guerra ao Terror" ganhou seis prêmios e se consagrou o grande vencedor do Oscar de 2010. Seu principal concorrente, "Avatar", de James Cameron, ficou com três estatuetas. Kathryn Bigelow ganhou o Oscar de direção --a primeira vez que uma mulher leva esse prêmio.

Os arquitetos japoneses Kazuyo Sejima, 54, e Ryue Nishizawa, 44 --famosos por projetar espaços marcados pela leveza e transparência-- ganharam o Prêmio Pritzker de 2010.

MAIO



Chegou ao fim a série "Lost", sem solucionar todos os mistérios da trama, o desfecho decepcionou muitos fãs.

Especialistas em arte identificaram uma pintura, há muito abandonada no porão de um museu na Itália, como sendo do mestre renascentista Rafael Sanzio (1483-1520), com um valor estimado em pelo menos 30 milhões de euros (R$ 70 milhões).

O filme "Lung Boonmee Raluek Chat", do diretor tailandês Apichatpong Weerasethakul, foi o grande vencedor do Festival de Cinema de Cannes.

JUNHO

O mês foi dos atores de Hollywood.

Rick Wilking /Reuters
O ator Charlie Sheen
O ator Charlie Sheen

Denzel Washington ganhou o prêmio Tony, o mais importante do teatro nos EUA, como melhor ator por sua interpretação na peça "Fences", na qual divide o palco com Viola Davis, ganhadora também do prêmio de melhor atriz. Scarlett Johansson venceu na categoria atriz convidada.

Steve Carell anunciou sua saída do seriado "The Office", após a sétima temporada. "Acho que está na hora", afirmou na época.

Já Charlie Sheen, protagonista da série "Two and a Half Men", ficou mais de duas semanas preso por agredir sua mulher no final do ano passado. Ele também deu aulas de teatro para cumprir a pena.

JULHO

A Suíça rejeitou o pedido de extradição do cineasta franco-polonês Roman Polanski para os Estados Unidos, onde ele é acusado de ter mantido relações sexuais com uma menor há 33 anos. Ele ficou mais de seis meses detido em prisão domiciliar.

O quadro "O Enterro", de Cândido Portinari foi furtado no Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco, em Olinda, e recuperado duas semanas depois no Rio.

SETEMBRO

Na Itália, o filme "Um Lugar Qualquer", de Sofia Coppola, ganhou o principal prêmio do 67º Festival de Veneza.

A ex-candidata à Presidência da Colômbia, Ingrid Betancourt, que ficou mais de seis anos refém das Farc, lançou "Não Há Silêncio que Não Termine" --livro saiu em sete idiomas simultaneamente.

OUTUBRO

Javier Lizón/Efe
Mario Vargas Llosa
O autor Mario Vargas Llosa

O escritor peruano Mario Vargas Llosa foi o vencedor do prêmio Nobel de Literatura de 2010. Segundo a Academia Sueca, ele recebeu o prêmio "por sua cartografia de estruturas de poder e suas imagens vigorosas sobre a resistência, revolta e derrota individual".

No Brasil, o jornalista e escritor Edney Silvestre venceu o Jabuti de melhor romance, prêmio de maior prestígio no meio literário nacional.

No Reino Unido, contrariando expectativas, o escritor Howard Jacobson venceu Booker Prize 2010 de ficção pelo livro "The Finkler Question". Como prêmio, o escritor leva 50 mil libras. O favorito para este ano era o escritor Tom McCarthy.

DEZEMBRO

Após 25 anos, o apresentador Larry King deixou seu talk show na CNN e passará a participar eventualmente da programação do canal.

o Brasil, Hebe Camargo, 81, também encerrou seu programa de 25 anos no SBT. Mas não vai se aposentar: ela estreia na Rede TV! em março.

O seu agora ex-patrão, Silvio Santos, completou 80 anos em meio a um escândalo financeiro envolvendo o banco PanAmericando, de sua propriedade.

Em seu aniversário de 103 anos, o arquiteto Oscar Niemeyer foi homenageado na inauguração do prédio que abrigará a fundação que leva o seu nome, em Niterói.

O filme "Tropa de Elite 2", de José Padilha, tornou-se o filme brasileiro mais visto da história com mais de 10,7 milhões de espectadores.


Novo México estuda perdoar lendário Billy the Kid

GABRIELA MANZINI
DE SÃO PAULO

O lendário caubói americano conhecido no mundo todo, e há várias gerações, como Billy the Kid poderá receber nesta semana o perdão do Estado do Novo México, onde viveu. O pedido está nas mãos do governador Bill Richardson, que promete analisá-lo antes de deixar o cargo, no dia 31.

Quase 130 anos depois de sua morte, o maior mito do Velho Oeste gera polêmica porque continua dividido entre a fama de impiedoso matador e a de uma espécie de Robin Hood americano.

De um lado estão, principalmente, os distantes descendentes do xerife que Billy teria assassinado em 1878, William Brady, e do xerife que o assassinou, dois anos mais tarde, Pat Garrett.

De outro estão pesquisadores como o criminalista Joel Jacobsen, autor de "Such Men as Billy the Kid" (algo como "Homens Como Billy the Kid").

Segundo ele, há evidências "fortes, mesmo irrefutáveis" de que, em 1879, o então governador Lew Wallace concordou em perdoar o caubói, que estava preso, em troca de seu testemunho em outro caso.

Os registros mostram que Billy serviu de testemunha, cumprindo a sua parte do acordo, mas o governador, não. "O fora-da-lei foi mais honrado", diz Jacobsen.

Billy aguardava julgamento pela morte do xerife Brady, a quem ele e seus amigos acusavam de corrupção por ter soltado capangas que mataram seu chefe a mando da elite da região.

Os mais ricos, acostumados a acossar pequenos produtores e comerciantes, teriam visto no chefe --e amigo'-- de Billy uma ameaça a seu monopólio.

O caubói foi solto mesmo sem o perdão formal, mas, dois anos depois, se viu à mercê da perseguição do xerife Garrett.

Preso, ele escreveu ao menos quatro cartas ao governador, pedindo que ele fizesse valer o acordo, mas de nada adiantou. Foi condenado à forca.

Transferido de volta a Lincoln, onde iniciara carreira, ele conseguiu se livrar das algemas nas mãos e pés e fugir, matando dois policiais. Para Jacobsen, a fuga mostra que Billy contava com grande apoio entre a população.

"E os assassinatos ocorreram depois que o governador quebrou sua promessa. Se ele a tivesse mantido, esses dois policiais não teriam sido mortos", completa a advogada Randi McGinn, 55, que cresceu perto de Lincoln e é a autora do pedido de perdão.

"Ouvi a história de Billy a vida toda e nunca soube do acordo. Normalmente, são descendentes que movem pedidos de perdão póstumos, mas Billy não possui herdeiros legítimos. Daí, me voluntariei", ela explica.

"Quando o governador promete retirar acusações em troca de você arriscar sua vida para testemunhar, ele precisa manter a palavra."

VILÃO

Mas o neto do xerife Garrett, JP Garrett, diz que o personagem não passa de um "ladrão, mentiroso, aterrorizador de pessoas comuns e matador de policiais".

"O Kid era um notório fora-da-lei. Eu acho que Lew Wallace fez o que planejou, que era fazê-lo testemunhar e, daí, enforcá-lo", disse recentemente em entrevista ao britânico "Telegraph".

Para William Wallace, tataraneto do governador, a concessão do perdão equivaleria a tachar de "um mentiroso desonrado" o seu célebre ancestral, que serviu como general na Guerra Civil.

"O que houve foi que os poderosos ganharam. E foram eles que escreveram a história de Billy the Kid, deixando-o muito mais perigoso do que ele realmente era", argumenta McGinn.

"Muito do que se sabe sobre ele não é verdade. O número de assassinatos que ele cometeu, por exemplo, é cerca de metade do que se diz na internet."

De acordo com a advogada, das 20 a 21 mortes de que ele costuma ser culpado, só quatro foram comprovadas, incluindo as dos policiais.

Há outras cinco, reações à morte do chefe, que podem ter sido cometidas por aliados de Billy e atribuídas a ele por engano. McGinn destaca que, mesmo que Billy seja o autor dessas mortes, elas somariam, no máximo, nove.

"Claro que ainda é muito para alguém com 20 anos, mas eram tempos diferentes", justifica.


Editoria de Arte/Folhapress

“O PC morreu e ninguém percebeu”

Por Alexandre Matias

O escritor norte-americano Bruce Sterling esteve no Brasil na semana passada e foi entrevistado pelo Link.

Na retrospectiva que estamos fazendo no Link, elegemos três assuntos com os principais temas de 2010: Facebook, geolocalização e aplicativos. Você concorda com a escolha? O que estas três tendências têm em comum?
O que há de importante sobre essas três coisas é que nenhuma delas precisa do sistema operacional da Microsoft. Por um bom tempo, ter um computador dizia respeito apenas ao sistema operacional e ao processador. E o Windows criou uma simbiose com fabricantes de chip: lançava um sistema operacional logo que um processador mais rápido chegava ao mercado. E isso tornou-se sufocante, não havia mais nenhum entusiasmo. E até a Microsoft teve um hit neste ano, com seu dispositivo de detecção de movimento, como é o nome mesmo…

Kinect.
Kinect! Kinect é o aparelho eletrônico doméstico que mais vendeu em todos os tempos – e está vendendo duas vezes mais rápido do que o ex-detentor desse título, que era o iPad. E o que há em comum entre Kinect e iPad? Eles não têm nada a ver com os velhos computadores. Quando coisas assim aparecem, eu procuro o que morreu. Se as pessoas estão olhando para aplicativos, geolocalização e redes sociais, em que elas pararam de prestar atenção? O computador pessoal morreu neste ano e ninguém percebeu. Qual é a definição de computação pessoal: eu tenho um computador e ele é meu e tem todas as minhas coisas! Se você oferecer um desses para alguém hoje, um computador em que você não pode entrar na internet, nem compartilhar nada, que só serve para processar dados e, sei lá, editar filmes… Mesmo que ele seja ótimo, ninguém vai querer! Talvez se você pagasse, alguém teria o computador verdadeiramente pessoal.

Você definiu o Facebook como uma favela…
Sim, como as favelas brasileiras, devido à organização política. Ninguém imaginava que ele cresceria tanto, que funcionaria desse jeito, não há um modelo de negócios e ele está crescendo cada vez mais, só no boca-a-boca. Não tem outdoor, programa de TV…

Há o filme.
É, mas o filme não vai fazer ninguém entrar no Facebook. E, principalmente, o Facebook é gerido por um moleque de 26 anos que age como… um cacique (fala em português). É estranha essa estrutura tão grande online, mas ela não é tão incomum se você pensa em termos de cidades, daí a comparação com favelas e metrópoles do terceiro mundo, que crescem sem planejamento.

Então, de certa forma, o mundo está mais terceiro-mundista?
Não sei se terceiro-mundista, pois há favelas no mundo todo. A internet cresceu de forma muito rápida e usa estruturas muito próximas às de casas de lata – junta o que tem à mão, coloca tudo no mesmo lugar e vê se funciona. Se não funcionar, começa do zero. Tudo é beta o tempo todo, o novo é construído sobre o velho, não importa se vai aguentar o peso, se haverá deslizamentos, spam, pornografia, pirataria. Tudo o que você quiser está lá. De vez em quando tem uma batida policial, “vamos derrubar os serviços de compartilhamento de arquivos”. Talvez alguém vá preso, mas quando a polícia vai embora, tudo volta a ser como era. Cada um usa a internet como achar melhor, por isso há uma estrutura semelhante à de uma favela. Não é uma favela literal, mas uma favela cultural.

E como a estrutura do digital afeta o resto do mundo?
Hoje essas estruturas são simbióticas, não somos mais inocentes como éramos antes. O que acontece no mundo digital tem consequências ainda mais graves no mundo real do que antes. Um dos temas deste evento que me trouxe ao Brasil (o festival Arte.mov) é a relação entre arte eletrônica e contexto urbano. Veja um exemplo: pergunte a um jovem, entre 18 e 25, se ele prefere um carro ou estar no Facebook. São escolhas excludentes, quem tiver um carro não entra no Facebook e vice-versa. Tenho quase certeza de que ele escolherá o Facebook. Carros serviam para ir até onde as garotas estavam. Agora basta ir ao Facebook. Além disso, as pessoas estão deixando de gostar de carros pois não dá para usar aparelhos eletrônicos enquanto se dirige. É melhor ir de ônibus usando seu iPhone ou iPad, pois você consegue fazer mais coisas no tempo de locomoção. Essa é uma mudança enorme. Meu amigo Adam Greenfield disse há dois anos que o dispositivos portáteis mudariam mais a cidade do que os carros mudaram. E os carros mudaram as cidades de forma profunda. Quando eu ouvi isso, pensei que era um hype forçado. Mas hoje vejo que ele estava certo.

Isso vai acontecer rápido?
Depende. Talvez baste uma grande crise, seja em energia, combustíveis, exportações, não importa, para as pessoas, preferirem redes sociais a carros. E eu acho que há uma tendência que é o consumo colaborativo: vamos compartilhar objetos físicos via redes sociais. Por exemplo, eu quero pegar um carro, encontro alguém disposto a emprestá-lo, acho o carro no Google Maps, vou até ele e mando, via celular, uma mensagem que destrava porta. Ando uma hora com o carro, estaciono onde for e vou embora.

As pessoas vão sair mais de casa e ficar menos tempo vidradas no computador?
Eu gostaria de dizer que sim, mas não acho que isso vá acontecer. As pessoas se reúnem fora de casa para eventos em que vão assistir a alguma apresentação de conteúdo, como um debate político ou um show. Mas essas apresentações têm o formato de mídia antigo, em que poucas pessoas falam para muitas ao mesmo tempo. E os dispositivos portáteis militam contra isso. Já há casos de pessoas que não conseguem assistir a um filme de duas horas sem mandar um SMS. Quer dizer, vai ser cada vez mais complicado para as multidões se verem como grupo. Mas, certamente, as pessoas sairão das mesas, já que você não precisa de um monte de cabos. Haverá menos dores na coluna pelo simples fato de não ser mais preciso ficar sentado.

Outra grande tendência de 2010 foi a divisão da internet em espaços fechados, sem comunicação entre si, como Facebook, Google, as redes iTunes e a PlayStation Network. Tim Berners-Lee acabou de escrever um artigo para a revista Scientific American (leia acima) em que mostra como essas redes fechadas podem acabar com a natureza livre da internet.
Google, Facebook e Apple querem criar silos verticais que unam seus amigos, seus dados, seus contatos, o algoritmo do seu coração, o que for, como se fossem coisas que pudesse ficar isoladas umas das outras. Embora eu reconheça que essas iniciativas realmente ameaçam a liberdade da web, por outro lado, eu acho que elas são muito frágeis. Não é preciso muito para acabar com a Microsoft. A própria Apple, que já morreu em outra oportunidade, é basicamente o Steve Jobs. Se ele morrer, ela morre junto. Acho que o Google é quem pode sobreviver por mais tempo, mas, mesmo assim, são só dois ex-estudantes esquisitos de Stanford. Se você for um ditador de um país qualquer e estiver com raiva do Google, basta matá-los. Veja Bill Gates. Você acha que ele queria destruir a Microsoft quando saiu? Ele só ficou entediado e preferiu ir curar a malária. É um tipo de idealismo de poetas, pintores, artistas. E não é só Gates que é assim, todos eles são assim.

Você esteve no Brasil há dez anos e agora está de volta. O que mudou?
O país tem crescido muito e ganhou importância. Mas, principalmente, a população é muito jovem. Estamos vendo, especialmente na Europa, o lado sinistro de ter uma população velha. Ninguém faz nada novo. A Europa perdeu a capacidade de esquecer. O Brasil é o oposto. Ninguém olha para trás, o que é saudável. Claro que é bom conhecer sua história, mas é muito ruim ficar preso apenas a ela. Fora que esta é a geração mais conectada e mais culta do país, não no sentido da educação formal, mas de saber o que está acontecendo. E parece ter medo de arriscar.

E em termos de cultura digital brasileira?
Eu não gosto do tecnobrega. Parece umas crianças brincando no quintal. Tudo bem, tem o lado pirata, de reciclar músicas para criar músicas novas, mas isso não é muito diferente de roubar eletricidade da rede pública. Adoraria dizer que a aproximação do então ministro Gilberto Gil com a cultura do software livre irá solucionar os problemas do Brasil, mas isso não vai acontecer.

Tablet no hospital

Por Agências

Um hospital de Israel começou a usar o Apple iPad para permitir que equipes médicas colaborem no tratamento de pacientes, realizem consultas e examinem raios-X e imagens de tomografias a distância.

O Centro Médico Mayanei Hayeshua, localizado em Bnei Brak, um bairro de Tel Aviv cuja maioria dos moradores são judeus ultraortodoxos, anunciou na terça-feira que é o primeiro hospital a programar o iPad, dotado de tela de toque de alta resolução, para interagir com o software Microsoft Chameleon, utilizado em hospitais.

O departamento de computação do hospital programou o iPad com a ajuda de uma consultoria tecnológica externa.

“Agora temos o mesmo programa e o mesmo banco de dados usados nos tratamentos do hospital instalados no iPad”, disse o Dr. Yoram Liwer, presidente do Mayanei Hayeshua, à Reuters. “Os dados dos pacientes estão no computador… de modo que médicos que estejam fora do hospital, mas de plantão, possam ver raios-X e exames de ultrassom em seus iPads e oferecer orientação mais inteligente às equipes internas do hospital.”

Por exemplo, um paciente chegou recentemente ao pronto-socorro com uma fratura de bacia, e precisou de uma cirurgia de prótese.

O médico de plantão consultou um cirurgião ortopédico experiente que não estava no hospital naquele momento e ofereceu orientação para o tratamento depois de estudar os exames de raios-X e tomografias. O médico também pôde acompanhar as imagens da cirurgia logo que esta foi realizada, para verificar os resultados

“A alta resolução das telas permite que os raios-X sejam vistos em detalhe, e o iPad é um aparelho divertido de trabalhar”, disse Liwer. “As pessoas gostam de carregá-lo para onde quer que vão. Não levam seus laptops, mas o iPad está com elas o tempo todo, e com isso temos acesso a consultoria melhor e mais inteligente.”

iPad 2 em janeiro de 2011

Por Alexandre Matias

A segunda versão do tablet da Apple pode vir a público bem antes que poderia ser previsto, segundo uma fonte ligada à fábrica chinesa Foxconn, que produz os aparelhos da empresa californiana. De acordo com o blog japonês Mac Blog, o novo iPad já estaria sendo produzido para que seu lançamento ocorra ainda no próximo mês, coincidindo com o primeiro aniversário do anúncio do tablet.

A nova edição, no entanto, não conta com as tão aguardadas câmeras, embora novos ajustes pareçam estar sendo feitos. Uma das novidades é que o case do novo aparelho contaria com espaços para entradas USB e para cartões SD.


As novas caixas de som (Foto: Mac Blog Reprodução)

As dimensões do aparelho pouco mudam: ele passa a ser 3 mm mais fino que sua versão original. E traria caixas de som embutidas com melhor desempenho que as atuais. O vídeo abaixo mostra possíveis cases para o novo iPad.

O lançamento em janeiro é estratégico para a Apple, independentemente de ser realizado dentro da feira Macworld – como aconteceu até 2009 – ou não. Desde o início da década passada, quando Steve Jobs voltou à empresa trazendo o iPod e a loja iTunes para o mercado, a Apple usa uma apresentação de produto no primeiro mês do ano com uma forma de marcar território em relação aos 11 meses seguintes. Foi neste período que as apresentações de Steve Jobs deixaram de ser apenas uma mera demonstração de produto para assumirem o papel de culto quase religioso. No lançamento do iPhone em 2007 este formato chegou ao auge, sendo seguido pelo anúncio do Macbook Air em 2008 e pela notória ausência de Jobs em 2009, quando esteve fora da empresa para tratar-se de um câncer. Sua volta por cima aconteceu há quase um ano, em 27 de janeiro de 2010, quando apresentou o iPad para o planeta e tornou sua empresa ainda mais onipresente.

O lançamento do iPad 2 no início de janeiro não é apenas estratégico: é crucial para a Apple redefinir as fronteiras de um mercado novíssimo que inagurou em 2010: o dos computadores pessoais sem mouse ou teclado. E, como é de costume, sua opinião sobre o tema pode acelerar ou não o interesse do público por estes dispositivos – como fez antes com o MP3 player e o smartphone.

O balanço negativo das comunicações

O Estado de S. Paulo - 27/12/2010

Ao fim dos oito anos de governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Ministério das Comunicações está esvaziado. Neste ano, em especial, a Pasta foi alijada de decisões específicas de sua área, como a reativação da Telebrás, a elaboração do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) e o anteprojeto da Lei de Comunicação Eletrônica.

O esvaziamento do Ministério das Comunicações demonstra que "essa Pasta precisa ser refundada" - como disse recentemente o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social do governo federal, Franklin Martins, acrescentando que "nessa área, o governo Lula ficou devendo".

O único avanço digno de registro foi a implantação da TV digital no País. Mesmo assim, sob o comando do ex-ministro Hélio Costa, a escolha da tecnologia digital foi conduzida sem transparência, com a preferência explícita do ministro pelo padrão japonês ISDB, tecnologia que não precisaria de nenhum favor para ser considerada a melhor, em especial depois de ter recebido excelentes contribuições de uma centena de cientistas brasileiros.

O Ministério das Comunicações, sem projeto setorial nem quadros profissionais competentes, foi loteado pelo presidente Lula, que o entregou primeiro ao PDT, representado por Miro Teixeira. Em seguida, ao PMDB, com Eunício Teixeira e Hélio Costa. Em 31 de março de 2010, o presidente decidiu esvaziar de vez o Ministério, entregando-o ao chefe de gabinete de Hélio Costa, José Artur Filardi Leite.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou diversas vezes seu inconformismo com a privatização das telecomunicações, criticando insistentemente a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e as operadoras privatizadas, em especial no tocante à banda larga. Tentou esvaziar a Anatel, preenchendo seus cargos com líderes sindicais que combatiam a privatização e eram evidentemente despreparados para assumir a direção de um órgão regulador. Diante das reações, Lula pensou em reverter esse processo em 2007, escolhendo para presidi-la o ex-ministro de Ciência e Tecnologia embaixador Ronaldo Sardenberg.

Um dos maiores problemas das telecomunicações é a política tributária, pois sobre as tarifas telefônicas e de banda larga incidem 43% de impostos - alíquota superior à de artigos de luxo, como perfumes, bebidas e armas esportivas importados.

Não bastasse essa distorção, o governo federal apropria-se da maior parcela dos fundos setoriais de telecomunicações, como o Fundo de Universalização das Telecomunicações (Fust), o Fundo de Fiscalização das Telecomunicações (Fistel) e o Fundo de Tecnologia de Telecomunicações (Funttel). O confisco desses fundos, em 10 anos, foi de R$ 32 bilhões que saíram do bolso dos contribuintes e não foram aplicados, como deveriam, num projeto de inclusão digital e banda larga.

O governo também se omitiu do processo de reestruturação da legislação setorial. Só no segundo semestre de 2010 uma comissão interministerial resolveu elaborar um anteprojeto do que poderá ser um dia a Lei Geral de Comunicações.

Esse anteprojeto precisa ser amplamente debatido e revisto por especialistas independentes, para que se transforme na semente de um novo marco regulatório, mais abrangente do que a legislação atual, porque deverá englobar todas as formas de Comunicações (telefonia, radiodifusão, correios, TV por assinatura, internet e outras formas de comunicação eletrônica) sob uma única agência reguladora, a Agência Nacional de Comunicações (Anacom), com o objetivo, entre outros, de modernizar e harmonizar as relações entre todos os segmentos.

Sempre mal assessorado nesse setor, Lula ignorou ao longo dos oito anos de sua gestão o papel fundamental do Executivo como formulador de políticas públicas para todos os segmentos das comunicações.

Não é de estranhar, portanto, que em seus dois governos tenham se registrado tantas ameaças à liberdade de imprensa e de expressão representadas pelas tentativas de criação de conselhos, com a finalidade de exercer o "controle social da mídia", o "controle do conteúdo" e outros eufemismos para censura.

Mordaça na internet

O Estado de S. Paulo - 27/12/2010

A Venezuela acaba de ingressar no que se poderia chamar G-X, o grupo de regimes autoritários ou ditaduras escancaradas que tentam censurar aquele que, por sua própria estrutura, é o mais arisco dos meios de comunicação - a internet. Nas pegadas da China, Irã e Cuba, a Assembleia Nacional venezuelana aprovou a extensão à mídia eletrônica da restritiva Lei de Responsabilidade Social em Rádio e Televisão, implantada por Hugo Chávez em 2004.

No ano seguinte, a oposição boicotou as eleições legislativas em protesto contra o rolo compressor do governo. Foi um grave equívoco. O Parlamento que se formou em seguida - e cujo mandato se encerra em 4 de janeiro próximo - é um apêndice do chavismo, com um ou outro dissidente. Essa Assembleia de cartolina foi há pouco acionada pelo caudilho para desidratar a que a sucederá. Na nova legislatura, o bloco oposicionista ocupará 65 das 165 cadeiras, o suficiente para privar o autocrata da maioria qualificada de 2/3 que lhe tem permitido dar um verniz de legitimidade às suas políticas ditatoriais.

Para neutralizar os efeitos da rejeição popular expressa nas urnas de setembro último - e que, sob um sistema eleitoral não manipulado, teria se traduzido numa bancada oposicionista bem maior -, Chávez preparou um pacote de medidas encabeçado pela outorga do poder de legislar por decreto, à revelia do Parlamento, em relação a 9 áreas genericamente definidas, como defesa, telecomunicações, economia, tributação e cooperação internacional. O período excepcional - o quarto em 11 anos de chavismo - deveria durar 12 meses. De cócoras, a Assembleia o ampliou para 18 meses, às vésperas, portanto, do início da campanha para o pleito presidencial de dezembro de 2012.

Nada menos surpreendente, portanto, que ao golpe legislativo se seguisse o amordaçamento da internet. A nova lei liberticida obriga os provedores de acesso à rede a bloquear "sem demora" mensagens que possam, por exemplo, "fazer apologia do delito", "fomentar a inquietação entre os cidadãos" e "desconhecer as autoridades legitimamente constituídas". Para se ter ideia do alcance da intimidação, até os anunciantes em sites e portais passarão a ser responsáveis pelos conteúdos que infringirem as regras destinadas, no cínico linguajar dos escribas chavistas, a "fomentar o equilíbrio democrático entre os deveres, direitos e interesses" de provedores, autores e usuários da rede.

As penas para quem não se prestar ao trabalho sujo determinado na lei vão desde multas (de até 10% do faturamento bruto no ano anterior) à cassação do meio, passando pela suspensão do serviço por 72 horas. Contra mais esse golpe da "Revolução Bolivariana" para apressar o advento do "socialismo do século 21", no léxico da ditadura em avançado estágio de construção na Venezuela, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA emitiu um comunicado que considera a iniciativa um atentado "sem precedentes" à liberdade de expressão na internet.

A proposta aprovada, diz a nota, "penaliza os intermediários por manifestações de terceiros, por meio de normas ambíguas, sob pressupostos que a lei não define e sem que existam garantias do devido processo". É rigorosamente isso que fazem os regimes despóticos de todas as latitudes. O que eles não podem fazer é controlar a internet com a mesma brutal simplicidade com que apreendem um jornal ou revista ou encarceram jornalistas. Não que não seja possível cercear o tráfego na rede. Mas isso requer um aparato repressivo operando em tempo integral e com razoável grau de sofisticação tecnológica.

Na Venezuela, é certo que a vigilância sobre os conteúdos considerados hostis ao chavismo - capazes de "fomentar a inquietação entre os cidadãos" - será exercida sob a tutela dos agentes cedidos pelo ditador cubano Raúl Castro ao seu fraternal seguidor de Caracas. Esse é um aspecto do drama do vizinho país que não pode ser ignorado: quanto maior o garroteamento da sociedade e da economia nacional, inspirado por Havana, maior a presença castrista no Estado venezuelano.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Os filmes que devem animar 2011

A volta de Jack Sparrow, o fim de Harry Potter e a chegada do Deus do Trovão prometem diversão nos cinemas

Conheça 15 filmes badalados que devem cravar suas marcas nas salas de exibição do país e fazer do próximo ano um período especial para o cinema.

"Bravura Indômita" (21 de janeiro)

Refilmagem do clássico homônimo estrelado por John Wayne em 1969, o novo trabalho dos irmãos Ethan e Joel Coen, vencedores do Oscar por "Onde Os Fracos Não Têm Vez", vem sendo tratado como um retorno às raízes do western. Seu roteiro conta a história de um velho xerife (Jeff Bridges) que auxilia uma órfã (Hailee Steinfeld) a capturar o assassino de seu pai (Josh Brolin). Saiba mais sobre "Bravura Indômita" no CinemaKi.

"Um Lugar Qualquer" (28 de janeiro)

Vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza de 2010, "Um Lugar Qualquer" é o quarto filme dirigido pela cineasta Sofia Coppola, que tem no currículo os elogiados "Encontros e Desencontros" e "Maria Antonieta". Na trama um ator encrenqueiro (Stephen Dorff) que vive no hotel Chateau Marmont, em Hollywood, é forçado a rever suas escolhas ao receber a visita da filha de onze anos (Elle Fanning). Saiba mais sobre "Um Lugar Qualquer" no CinemaKi.

"Cisne Negro" (4 de fevereiro)

Novo filme do diretor de "O Lutador", Darren Aronofsky, "Cisne Negro" acompanha a conturbada relação de uma dançarina de balé veterana (Natalie Portman) e sua possível rival (Mila Kunis) durante o período que antecede a estreia de um espetáculo. Com clima pesado e atuações elogiadíssimas, o longa-metragem deve estar na lista do Oscar de 2011. Saiba mais sobre "Cisne Negro" no CinemaKi.

Foto: Divulgação

A atriz Natalie Portman em cena do drama "Cisne Negro", novo filme do diretor Darren Aronofsky

"O Discurso do Rei" (4 de fevereiro)

Baseado na história real do monarca inglês Jorge VI (Colin Firth), "O Discurso do Rei" aborda o momento decisivo na vida do governante, que durante a Segunda Guerra Mundial precisa vencer a gagueira nervosa e levar o país à vitória. Forte concorrente ao Oscar, o filme ainda conta com Helena Bonham Carter no papel da esposa do rei e Geoffrey Rush como seu mentor. Saiba mais sobre "O Discurso do Rei" no CinemaKi.

"Sucker Punch – Mundo Surreal" (25 de março)

Zack Snyder, diretor das adaptações dos quadrinhos "300" e "Watchmen", resolveu apostar em um roteiro original de sua autoria e produziu "Sucker Punch – Mundo Surreal", história da garota (Emily Browning) que é internada em uma instituição mental por seu padrasto e acaba refugiando-se em sua imaginação, um mundo que mistura dragões, militares, samurais e diversas referências do universo nerd. Saiba mais sobre "Sucker Punch - Mundo Surreal" no CinemaKi.

"Rio" (8 de abril)

Depois de emplacar os últimos sucessos da saga "A Era do Gelo", o diretor brasileiro Carlos Saldanha se prepara para lançar "Rio", animação que mostra a aventura um pássaro caseiro norte-americano que é levado ao Rio de Janeiro para acasalar com a última fêmea de sua espécie - e acaba sequestrado por criminosos. Saiba mais sobre "Rio" no CinemaKi.

Foto: Divulgação

Os pássaros fugitivos da animação "Rio", cuja ação acontece nas praias e matas da capital carioca

"Thor" (29 de abril)

Depois do sucesso de "Homem de Ferro", a Marvel resolveu produzir filmes dos heróis que integram uma de suas principais equipes, os Vingadores. "Thor", que conta a história de como o Deus do Trovão (Chris Hemsworth) foi banido por seu pai e exilado na Terra, promete fazer tanto barulho como as aventuras do playboy Tony Stark (Robert Downey Jr). Saiba mais sobre "Thor" no CinemaKi.

"Piratas do Caribe: Navegando em Águas Misteriosas" (20 de maio)

Apesar de ser o quarto filme da franquia "Piratas do Caribe", "Navegando em Águas Misteriosas" inaugura uma nova etapa na vida do capitão pirata Jack Sparrow (Johnny Depp), sendo a primeira parte de uma trilogia que deve fazer tanto sucesso quanto a original. Dessa vez Jack promove uma busca pela mítica fonte da juventude acompanhado de uma misteriosa mulher (Penélope Cruz) e do temido Barba Negra (Ian McShane). Saiba mais sobre "Piratas do caribe 4" no CinemaKi.

"Se Beber, Não Case! 2" (27 de maio)

A comédia ""Se Beber, Não Case!" fez tanto sucesso em 2009 que seus produtores encomendaram uma segunda aventura para os amigos Phil (Bradley Cooper), Stu (Ed Helms), Doug (Justin Bartha) e Alan (Zach Galifianakis). Dessa vez, ao invés de passar por uma despedida de solteiro em Las Vegas, o quarteto protagoniza um inocente café da manhã na Tailândia - em que obviamente as coisas não acontecem como esperado. Saiba mais sobre "Se Beber, Não Case! 2" no CinemaKi.

Foto: Divulgação

Penélope Cruz, Johnny Depp e Ian McShane em "Piratas do Caribe: Navegando em Águas Misteriosas"

"Lanterna Verde" (17 de junho)

Grande aposta da DC Comics para 2011, a versão cinematográfica de "Lanterna Verde" apresentará ao grande público a história de como o piloto de testes Hal Jordan (Ryan Reynolds) foi escolhido pelo anel para tornar-se um guardião do universo. A Tropa dos Lanternas Verdes, assim como outros personagens dos quadrinhos, serão introduzidos nessa primeira aventura. Saiba mais sobre "Lanterna Verde" no CinemaKi.

"Carros 2" (24 de junho)

Após comprovar o talento para sequências com a trilogia "Toy Story", a Pixar retoma a história de Relâmpago McQueen (Owen Wilson) e seu amigo Mate (Larry the Cable Guy) em "Carros 2", que deixa de ser uma animação exclusiva sobre corridas para ganhar ares de espionagem, com direito a participação de Michael Caine como o agente secreto britânico Finn McMissile. Saiba mais sobre "Carros 2" no CinemaKi.

"A Árvore da Vida" (1º de julho)

O espaço entre os filmes do diretor Terrence Malick, um dos mais conceituados cineastas em atividade, faz com que "A Árvore da Vida" seja considerado algo muito maior que um simples lançamento. O longa-metragem, que começa no Big Bang e avança até o futuro, é centrado na perda da inocência de Jack O'Brien (Sean Penn) nos anos 1950, com participação diretas de seu pai (Brad Pitt) e sua mãe (Jessica Chastain). Saiba mais sobre "A Árvore da Vida" no CinemaKi.

Foto: Divulgação

O ator Sean Penn em cena de "A Árvore da Vida", aguardada produção do cineasta Terrence Malick

"Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2" (15 de julho)

Último filme da saga do bruxo, "Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2" tem tudo para tornar-se uma das maiores bilheterias do ano, mostrando aos fãs o tão esperado combate final entre o adolescente Harry Potter (Daniel Radcliffe) e seu inimigo mortal, o vilão Lord Voldemort (Ralph Fiennes). Saiba mais sobre "Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2" no CinemaKi.

"Captain America: The First Avenger" (29 de julho)

Ainda sem nome oficial em português, o longa-metragem do Capitão América promete revelar ao público a origem do herói, ainda na Segunda Guerra Mundial, período em que o franzino Steve Rogers (Chris Evans) submete-se a um experimento militar e acaba tornando-se o soldado perfeito do exército norte-americano - fazendo frente ao vilão nazista Caveira Vermelha (Hugo Weaving). Saiba mais sobre "Captain America: The First Avenger" no CinemaKi.

"A Saga Crepúsculo: Amanhecer - Parte 1" (18 de novembro)

Assim como ocorreu com "Harry Potter", o último filme de "A Saga Crepúsculo" foi dividido em duas partes, o que permite que a trama seja melhor adaptada às telas e garante mais tempo das fãs diante do triângulo amoroso formado pela humana Bella (Kristen Stewart), o vampiro Edward (Robert Pattinson) e o lobisomem Jacob (Taylor Lautner).

Globo de Ouro anuncia os indicados; O Discurso do Rei lidera com 7

Foram anunciados hoje os filmes indicados ao 68º Globo de Ouro, dado pela imprensa estrangeira estabelecida em Los Angeles. Os filmes mais mencionados foram “O Discurso do Rei”, de Tom Hooper, com 7 nomeações, e “A Rede Social”, de David Fincher, e “O Vencedor”, de David O. Russel, com 6 cada. A cerimônia de entrega aos prêmios ocorre no dia 16 de janeiro.


Melhor filme de Drama

Cisne Negro
O Vencedor
A Origem
O Discurso do Rei
A Rede Social

Melhor atriz em drama

Halle Berry - Frankie e Alice
Nicole Kidman - Rabbit Hole
Jennifer Lawrence – Inverno da Alma
Natalie Portman - Cisne Negro
Michelle Williams - Blue Valentine

Melhor ator em drama

Jesse Eisenberg - A Rede Social
Colin Firth - O Discurso do Rei
James Franco - 127 Horas
Ryan Gosling - Blue Valentine
Mark Wahlberg - O Vencedor
Melhor filme de comédia ou musical

Alice no País das Maravilhas
Burlesque
Minhas Mães e Meu Pai
Red - Aposentados e Perigosos
O Turista
Melhor atriz em comédia ou musical

Annette Bening - Minhas Mães e Meu Pai
Anne Hathaway - Amor e Outras Drogas
Angelina Jolie - O Turista
Julianne Moore - Minhas Mães e Meu Pai
Emma Stone - Easy A

Melhor ator em comédia ou musical

Johnny Depp - Alice no País das Maravilhas
Johnny Depp - O Turista
Paul Giamatti – Barney’s Version
Jake Gyllenhaal - Amor e Outras Drogas
Kevin Spacey - Casino Jack

Melhor filme de animação

Meu Malvado Favorito
Como Treinar seu Dragão
O Mágico
Enrolados
Toy Story 3

Melhor filme estrangeiro

Biutiful (México/ Espanha)
O Concerto (França)
The Edge (Rússia)
I am Love (Itália)
In a Better World (Dinamarca)

Melhor performance de atriz coadjuvante

Amy Adams - O Vencedor
Helena Bonham Carter - O Discurso do Rei
Mila Kunis - Cisne Negro
Melissa Leo - O Vencedor
Jacki Weaver - Animal Kingdom

Melhor performance de ator coadjuvante

Christian Bale - O Vencedor
Michael Douglas - Wall Street - o Dinheiro Nunca Dorme
Andrew Garfield - A Rede Social
Jeremy Renner - Atração Perigosa
Geoffrey Rush - O Discurso do Rei

Melhor diretor

Darren Aronofsky - Cisne Negro
David Fincher - A Rede Social
Tom Hooper - O Discurso do Rei
Christopher Nolan - A Origem
David O. Russel - O Vencedor

Melhor roteiro

Danny Boyle, Simon Beaufoy - 127 Horas
Lisa Cholodenko, Stuart Blumberg - Minhas Mães e Meu Pai
Christopher Nolan - A Origem
David Seidler - O Discurso do Rei
Aaron Sorkin - A Rede Social

Melhor canção original em filme
“Bound to You” — Burlesque - Música: Samuel Dixon - Letra: Christina Aguilera, Sia Furler
“Coming Home” — Country Strong - Música e letra: Bob DiPiero, Tom Douglas, Hillary Lindsey, Troy Verges
“I See the Light” — Enrolados - Música: Alan Menken - Letra: Glenn Slater
“There’s a Place for Us” — As Crônicas de Nárnia: A Viagem do Peregrino da Alvorada - Música e letra: Carrie Underwood, David Hodges, Hillary Lindsey
“You Haven’t Seen the Last of Me” — Burlesque - Música e letra: Diane Warren

Rumer - Aretha (New single out now) Aposta para 2011

Brasil deve encerrar 2010 com mais de 200 milhões de celulares

Marca deve ser batida com as fortes vendas de dezembro; até o mês passado, já eram 197,5 milhões de linhas ativas


Karla Mendes, da Agência Estado

BRASÍLIA - O Brasil deve encerrar o ano com mais de 200 milhões de celulares. Até novembro, o mercado brasileiro já contabiliza 197,53 milhões de linhas ativas, conforme levantamento divulgado nesta terça-feira, 21, pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Como dezembro é o melhor mês de vendas para as operadoras, por causa do Natal, essa marca deve ser facilmente ultrapassada, pois só em novembro ocorreram 3,09 milhões de novas habilitações. A Anatel destaca, também, que já há mais de um celular por habitante nas regiões Centro Oeste, Sudeste e Sul.

No ranking por tipo de plano de serviço, os celulares pré-pagos lideram. Dos 197,5 milhões de aparelhos, 162,4 milhões operam dentro do sistema pré-pago, o que representa 82,21% do total. Os pós-pagos somam 35,1 milhões de celulares, ou seja, 17,79% do total.

A partir deste mês, a Anatel divulga a consolidação dos números por tecnologia, o que permitirá acompanhar a evolução da banda larga móvel no Brasil, que no mês passado contabilizou 19,45 milhões de acessos ou 9,85% da base total de celulares. A líder nesse segmento é a Claro, com 39,83%. Na sequência, figuram Vivo (32,10%), TIM (22,26%), Oi (5,47%), CTBC (0,33%) e Sercomtel (0,02%).

Ao analisar a base total de assinantes do Serviço Móvel Pessoal (SMP), contudo, a Vivo mantém a liderança, com 29,8%. A Claro aparece na vice-liderança (25,55%), seguida da TIM (24,91%) e Oi (19,38%). A CTBC detém 0,32% do mercado, a Sercomtel 0,04% e a Unicel 0,01%.

Considerando o estoque de celulares ao final de novembro, o Brasil tem 101,96 celulares para cada cem habitantes, com maior densidade no Centro-Oeste, Sudeste e Sul do País. O Centro-Oeste tem 17.287.298 celulares, o que representa 121,83 terminais por cem habitantes. Na região Sudeste, que terminou novembro com 90.761.616 celulares, há 111,82 aparelhos por cem habitantes. No Sul do Brasil, a Anatel contabiliza 29.485.707 telefones móveis, o que significa 105,28 celulares por cem habitantes. Na região Norte há 13.570.615 celulares, representando 85,93 aparelhos por cem habitantes. A região Nordeste tem 46.428.750 terminais móveis, o que resulta em média de 85,08 aparelhos por cem habitantes. Individualmente, a região de registro com a maior densidade de celulares, é a área "71", ou seja, a região de Salvador (BA), onde há 150,57 celulares por cem habitantes.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

2010: o ano em que fomos apresentados a novos dilemas

  • Por Pedro Doria

De vez em quando acontece: vem um ano assim e, do nada, muda tudo. Assim foi 2010. Antes nossa vida digital era uma, agora os dilemas serão diversos. Dentre as muitas novidades do ano, algumas discretamente apontam os rumos futuros da vida em rede. Todas representam dilemas que estamos apenas começando a encarar.

Discretamente como, por exemplo, a questão do conteúdo digital pago. Kindle, iPad e outros tablets são suportes que ficarão cada vez mais comuns. Neles, muitos consumidores já compram livros, revistas, jornais, séries de TV. Depois de comprado, no entanto, de quem é aquele produto?

A pergunta engana em sua simplicidade. Por duas vezes, em 2010, a Amazon avaliou ser seu direito entrar no Kindle de seus clientes e apagar de lá livros que já haviam sido comprados.

No primeiro caso foi por erro seu. Pôs à venda sem ter o direito de fazê-lo uma edição eletrônica de 1984, clássico de George Orwell. No segundo episódio, semana passada, atacou alguns romances eróticos que tinham por tema o incesto. Alegou que o conteúdo é ilegal nalguns cantos.

No mundo físico, seria como se o dono da livraria entrasse em sua casa, tirasse um livro da estante, devolvesse o dinheiro e fosse embora. No mundo digital é fácil fazer. Todos que produzem conteúdo – e isso inclui a nós, jornalistas – querem encontrar uma maneira de vender informação digital. Mas ainda não se deixou claro o que está a venda. É o livro de fato? O direito de lê-lo? É como se fosse um aluguel, algo que expira após um tempo, é posse perpétua?

Discutiremos muito essa questão nos próximos anos. E a Amazon não será a única revendedora que, em alguns momentos, se verá tentada a apagar aquilo que vendeu.

Outra questão nova é a TV via internet. Finalmente aconteceu. Não foi obra de uma máquina. A nova Apple TV não é um sucesso. Os aparelhos de Google TV tampouco estão sendo bem recebidos. Porém a locadora virtual americana Netflix está agitando o mercado. Quase todo aparelho que liga a TV à internet, nos EUA, tem Netflix. E os usuários estão alugando filmes e baixando via rede alucinadamente.

O sucesso da Netflix já despertou uma discussão e despertará outra. De início, há um conflito entre locadora e os provedores de banda larga. Quem vende acesso à internet reclama que a Netflix força um tráfego muito pesado e deveria pagar um dinheiro extra pelo direito de explorar a internet de forma assim tão intensa. Tem uma esperteza no argumento: provedores de banda larga, não raro, também vendem TV a cabo. E já tem gente cancelando o serviço porque pode ver o filme ou série que quiser pagando apenas pelo que consome, se abstendo do pacote completo.

É o que leva à segunda questão da TV digital. O negócio da televisão vive de impor uma grade rígida que tem horário nobre, horário para crianças, horários tantos que fatia e revende aos anunciantes na forma de intervalos comerciais. Um Netflix quebra a grade e desmonta seu modelo de negócios. Vai haver resistência, e resistência dura.

Até agora, a TV aberta é a única mídia que não sofreu muito o impacto da internet. Acabou a calmaria.
E há o caso do WikiLeaks. O vazamento mais famoso feito pela imprensa no período anterior à internet ocorreu em 1968, quando o New York Times publicou uma série de reportagens baseadas num conjunto de documentos conhecidos como os Papéis do Pentágono. Eles provavam que o governo americano já sabia que a Guerra do Vietnã ia mal enquanto dizia o contrário para a população. O presidente mentia.

Ao menos por enquanto, os documentos vazados neste pacote do WikiLeaks mostram só como a salsicha da diplomacia americana é feita. Bonito, não é. Mas tampouco há qualquer coisa de aterradora, que mude de todo nossa percepção do que acontece.

Não importa. Com ou sem WikiLeaks, haverá, no futuro, um ou mais sites na internet publicando segredos vazados aos borbotões. Uns serão responsáveis, outros não. Uns servirão a vinganças pessoais, outros ao interesse público. Viveremos numa sociedade mais transparente e isto afetará diretamente a maneira como governos e empresas funcionam. Seremos mais paranoicos com segurança a princípio. Depois regras mudarão. Provavelmente um dia nos acostumaremos.

Ou não. Existe sempre a possibilidade de o governo americano, que controla o Icann, órgão gestor da internet, intervir. Os EUA nunca se sentiram tentados a intervir agressivamente na gestão da rede porque governos estrangeiros e empresas reagiriam imediatamente. Mas e se, e esta é apenas uma hipótese, quase todos os governos estrangeiros concordarem que algum tipo de controle é necessário?

Aí, pela primeira vez, uma exceção seria aberta. A censura seria instituída na internet, programada em sua estrutura.

Dilemas não nos faltam. Já estavam insinuados antes, mas em 2010 se impuseram definitivamente. E continuaremos agora a seguir nosso caminho, construindo uma nova cultura, uma nova realidade cada vez mais distinta daquela que existiu antes da grande rede. Que tenhamos, todos, um bom ano novo.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Você sabe o que o WikiLeaks tem a ver com o Napster?


Por Pedro Doria
O mundo todo está falando de Julian Assange e sua criatura, o site para recepção de informação vazada WikiLeaks. Do Departamento de Estado americano a empresas privadas, como a operadora de cartões de crédito Mastercard e o braço de serviços da Amazon.com, quem pode bater e se afastar do monstro criado por Assange o faz.
Estão errados.
Não é que estejam errados do ponto de vista da liberdade de fluxo da informação. Em alguns lugares, receber informação vazada é crime. Em outros, caso do Brasil, não é. Mesmo do ponto de vista ético, há bons argumentos para justificar os dois lados. Aqueles de tendência liberal sempre penderão pelo lado da liberdade, mesmo quando a liberdade incomoda. Assim como há quem, na direita e na esquerda, acredite com força que deve haver leis mais rígidas para proteger segredos.
Governos e corporações que bombardeiam o WikiLeaks estão errados por falta de pragmatismo. Estão cometendo o erro que as gravadoras cometeram com o Napster.
Porque a internet é assim: quem quer controlar o fluxo de informação, nela, terá dificuldades. Alguns, caso das gravadoras, querem controlar o fluxo de informação porque pretendem cobrar. Outros, governos certamente fazem parte deste grupo, precisam manter segredos. A internet é uma máquina de copiar e distribuir informação. No tempo do papel era mais fácil.
As gravadoras conseguiram, na virada do século, tirar o Napster do ar. O que ganharam foi uma penca de similares do Napster muito mais difíceis de conter. Depois que o público descobriu que podia trocar arquivos de música com facilidade, nunca mais foi possível conter o monstro. Se, no entanto, as gravadoras tivessem entrado em algum tipo de acordo com o Napster, a história poderia ter sido diferente. Era só um e sua arquitetura, centralizada, possibilitava maior controle.
O mesmo ocorre com WikiLeaks. É o pesadelo de corporações e diplomatas? Por certo. Mas, para o bem ou para o mal, WikiLeaks não publica tudo o que recebe. Faz a informação passar por uma série de jornais estrangeiros respeitáveis. Editores tarimbados, internacionalmente reconhecidos, analisam a informação antes de publicá-la.
O mais importante é que WikiLeaks é um só. É mais fácil conversar com um do que com muitos.
Se o WikiLeaks deixar de existir, bem, todos já vimos essa história. O povo da rede já aprendeu que uma de suas utilidades é facilitar a vida de quem quer vazar informação. Na ausência do único site do mundo que o permite, uma pletora de alternativas surgirá. E sabe-se lá que critérios seguirão.
Segundo a revista Forbes, um grupo de ex-companheiros de Assange já está criando o OpenLeaks. Neste, quem vaza a informação terá o direito de dizer que veículos de comunicação ou ONGs poderão receber o material. Ainda há algum controle.
O risco é que um grupo de anarquistas pode em algum momento criar um site assim sem qualquer controle editorial. Tudo é imediatamente tornado público. Vida de muita gente, nessas circunstâncias, pode ser realmente posta em risco. E empresas podem quebrar, inclusive por informação falsa plantada com facilidade.
É nessa hora que quem acha o WikiLeaks ruim sentirá saudades.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

A política depois do WikiLeaks

Autor(es): Maria Cristina Fernandes
Valor Econômico - 10/12/2010
Primeiro grande conflito armado transmitido em larga escala ao vivo e em cores, a Guerra do Vietnã marcou a ascensão da mídia nos ditames do poder. As imagens da guerra injusta numa sociedade embalada por ideais libertários impulsionaram a retirada dos americanos e a inflexão na sua política externa até a era Reagan.

Primeiro grande conflito armado vazado pela internet, a Guerra do Afeganistão repagina a influência da mídia. O WikiLeaks mostra um poder que mata, corrompe e subverte qualquer noção de ordem democrática mundial que os Estados Unidos algum dia possam ter pretendido representar.

O vazamento dos despachos de embaixadas americanas no mundo agora ganhou escala planetária, mas foi nos documentos do Afeganistão que o WikiLeaks começou a delinear seu alvo. As imagens militares de fuzileiros em helicópteros alvejando civis no Iraque e documentos mostrando os desmandos do governo de Karzai foram divulgados antes das eleições legislativas americanas. E pouco a impactaram. O eleitor que ainda vê no Afeganistão a resposta ao 11 de setembro inflou o Tea Party e acreditou ser capaz de castigar Barack Obama pelas promessas de emprego não cumpridas.

Julian Assange conseguiu até devolver notoriedade internacional à candidata derrotada à Vice-Presidência, Sarah Palin, para quem os Estados Unidos deveriam caçar o criador do WikiLeaks como a Bin Laden. A distância da Era de Aquário parece maior que quatro décadas. Custa imaginar que enredo a acusação de crime sexual contra Assange daria para Milos Forman.

Em manifestos, o criador do WikiLeaks busca desamarrar sua guerrilha virtual de teses de direita ou de esquerda e firma seu único compromisso com os benefícios à população que podem advir de instituições mais transparentes. E nem os movimentos filhotes, como o Anonymous, desprezam a política tradicional. Num texto recente urge seus seguidores a pressionar parlamentares locais, prefeitos ou qualquer autoridade pública: "Peça seus comentários sobre os vazamentos. E grave cada palavra que for dita".

Se o WikiLeaks dependesse unicamente da personalidade desse australiano de 39 anos que margeou a educação formal e cismou com o poder institucional ao enfrentar um processo pela guarda do filho, poderia ter sido ferido de morte com a prisão do seu criador esta semana em Londres.

A invasão de hackers nos serviços de Visa e Mastercard, que interromperam o recolhimento de doações ao site, é apenas uma medida da adesão da comunidade virtual à guerra pela informação livre. As empresas que repentinamente descobriram em seus estatutos vetos a parcerias com o WikiLeaks já estão sendo vítimas de campanhas virtualmente orquestradas que expõem contratos com entidades financiadoras de movimentos racistas, como o Ku Klux Klan. "Derrubem-nos e mais fortes nos tornamos", diz o lema.

Os vazamentos do Afeganistão tiveram acolhida de parte da mídia americana que reconheceu o endosso dado ao engodo das armas de destruição em massa no Iraque. Já os vazamentos dos despachos de embaixadas americanas, que trouxeram à tona até estratégias de espionagem avalizadas pelo Departamento de Estado, colocaram na berlinda o grau de comprometimento da imprensa com a informação livre.

Ao advogar limites a essa liberdade, a diplomacia defende a tese de que é preciso consultar, especular e discutir até que um argumento possa se tornar uma posição oficial abertamente exposta à crítica. E que, sem confiança, não existe diplomacia. Muitos jornalistas também poderiam argumentar que sem o "off the records", a informação passada sob sigilo do informante, não é possível produzir notícia.

O que há de mais comprometedor no WikiLeaks, no entanto, não é a política que consulta, especula e discute, mas a que corrompe. E os interesses cimentados pelo poder que corrompem são aqueles que a imprensa tem mais dificuldade em combater.

Os vazamentos custariam a ter repercussão sem os acordos que os permitiram ser editados nos principais jornais do mundo. O papel da imprensa na esfera pública passará a depender do seu grau de compromisso com os interesses que a comunidade virtual tem enfrentado e de sua disposição para resistir a pressões políticas.

É desastroso para a diplomacia americana que sua visão sobre um Berlusconi fantoche de Putin ou um Nelson Jobim como atalho a um Itamaraty anti-ianque seja escancarada ao contribuinte. O que é realmente comprometedor, porém, são os planos americanos para espionar o secretário-geral das Nações Unidas, o sul-coreano Ban Ki-Moon, que passam até pelo rastreamento de seu cartão de crédito ou os subornos oferecidos a governos para que abriguem presos de Guantánamo.

A diplomacia americana sempre usou o apelo à liberdade de informação como trunfo de sua pressão sobre ditaduras não aliadas. A questão agora é como restringir essa liberdade sem apagar Thomas Jefferson do mapa da história americana - "Se eu tivesse de decidir entre ter um governo sem jornais e ter jornais sem um governo, eu não hesitaria nem por um momento antes de escolher a segunda opção". Ainda que o vazamento de informações sigilosas seja crime em qualquer lugar do mundo, é nos fundadores da democracia americana que a Suprema Corte tem se baseado para garantir que sua divulgação não o seja.

Os críticos do WikiLeaks têm argumentado que os vazamentos só foram possíveis porque o ataque às torres de Nova York levaram a que o governo americano decidisse por compartilhar mais informações. E os vazamentos, que um chanceler italiano considerou o 11 de setembro da diplomacia, acabariam contribuindo para que o compartilhamento de informações fosse reduzido.

Essa visão talvez subestime a capacidade de a comunidade virtual romper as fronteiras que lhe são impostas. Se a economia não sobrevive mais sem a internet, tinha que chegar o dia em que a política deixaria de lhe ficar incólume.

Maria Cristina Fernandes é editora de Política. Escreve às sextas-feiras

domingo, 5 de dezembro de 2010

Projeto de TV paga provoca polêmica

Autor(es): Renato Cruz
O Estado de S. Paulo - 05/12/2010

Proposta de lei de TV por assinatura dá superpoderes à Ancine, diz jurista


Quem acompanhou, na semana passada, a audiência no Senado sobre o Projeto de Lei Complementar 116, pode ter achado que existe um apoio unânime das empresas às mudanças nas regras de TV por assinatura. Longe disso. Para atores importantes desse mercado, a aprovação do texto como está é inadmissível.

Na visão do jurista Ives Gandra Martins, o projeto cria mecanismos de controle de conteúdo ao dar superpoderes à Agência Nacional de Cinema (Ancine), atentando contra o direito constitucional de liberdade de expressão. Foi a Sky, empresa de TV paga via satélite, que contratou parecer do jurista.

"De rigor, os dispositivos são cerceadores dos meios de comunicação", diz Gandra Martins. "Há uma violência em diversos dispositivos. O próprio conteúdo da informação passa a ser limitado pelos artigos."

O projeto prevê que as empresas de programação ou empacotamento de conteúdo precisarão ser credenciadas pela Ancine. O artigo 36 determina que, se essas empresas descumprirem as obrigações definidas pela lei, estão sujeitas a multa, suspensão ou até cancelamento de seu credenciamento.

"Entraríamos numa espécie de ditadura semelhante à do Mussolini, do Hitler e do Stalin, que existe ainda em Cuba e começa a acontecer na Venezuela", disse Gandra Martins. "O projeto dá à Ancine poder punitivo ao exercício da liberdade de expressão toda vez que essa não se sujeitar às restrições impostas pela agência. Essa excessiva regulamentação objetiva facilitar a vida dos amigos, dificultar a dos inimigos e fazer um controle efetivo sobre a comunicação."

Segundo o jurista, o PLC 116 tem pontos de contato com os projetos do Conselho Nacional de Jornalismo (CNJ) e da criação da Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual (Ancinav), apresentados no começo do governo Lula e que não prosperaram, identificados como ameaças à liberdade de expressão.

"Se conseguirem aprovar o projeto e isso não for contestado no Supremo Tribunal Federal, é um caminho aberto para o controle de imprensa", alertou Gandra Martins. "Eles começam numa área de expressão menor, a TV paga. Se conseguirem, por que não avançar e atingir todos os meios de comunicação?"

Oposição. Além da Sky, estão entre os que defendem mudanças no projeto os radiodifusores Bandeirantes e SBT e os canais internacionais de TV paga. Os principais pontos polêmicos são três: a criação de cotas de conteúdo nacional, a proibição aos radiodifusores de controlar empresas de TV paga e o papel proposto para a Ancine no setor.

Na semana passada, representantes das operadoras de telecomunicações, das empresas de TV paga, dos produtores independentes e da Ancine defenderam a aprovação do chamado PLC 116 (que, na Câmara, era conhecido por PL 29) ainda este ano. Para terça-feira está marcada uma nova audiência no Senado para tratar do projeto.

Os canais internacionais, representados pela Associação Brasileira de Programação de Televisão por Assinatura (ABPTA), defendem que o PLC 116 seja discutido no Senado, como foi na Câmara. "A implantação de cotas fere o conceito de grade de canal e a própria natureza da TV por assinatura", disse Carlos Alkimim, diretor executivo da ABPTA. "Queremos tempo para discutir todas essas particularidades".

Além de criar uma proporção de um canal brasileiro em cada três ofertados nos pacotes das empresas (dependendo do tipo de conteúdo), o projeto obriga os canais internacionais a colocarem produções nacionais em sua programação, de no mínimo 3h30 semanais no horário nobre.

Na visão de Alkimim, uma política de fomento seria mais eficiente do que as cotas. "Nos últimos quatro ou cinco anos, 85 novas obras foram coproduzidos, com investimento de R$ 150 milhões", disse o diretor da associação, referindo-se às parcerias entre produtores brasileiros e canais internacionais. Segundo ele, metade dessa produção foi resultado da política de fomento, e a outra metade foi uma resposta ao próprio mercado.

O diretor da ABPTA destacou que a Ancine funciona hoje como uma agência de fomento. "Dar a ela um cunho fiscalizador não está de acordo com a natureza com que foi concebida", disse Alkimim. "Já existe a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) para exercer esse papel." O projeto prevê que a Ancine poderia aplicar multas de R$ 2 mil a R$ 5 milhões.

Capital. A Lei do Cabo, atualmente em vigor, foi promulgada em 1995, e impõe limite de 49% ao capital estrangeiro nas empresas de cabo. O PLC 116 surgiu como uma proposta de se acabar com a restrição, já que as Organizações Globo têm interesse de vender sua participação na Net à Embratel (que pertence ao bilionário mexicano Carlos Slim Helú) e o Grupo Abril tem interesse em vender sua fatia na TVA à espanhola Telefônica.

Durante a tramitação na Câmara, foram criadas as cotas de programação, num texto cada vez mais complexo, que acabou desagradando à maior parte das empresas. As teles e a maioria das companhias de TV paga acabaram concordando com as cotas para que o projeto não demorasse ainda mais no Congresso.

A Bandeirantes e o SBT são contra um dispositivo que impede radiodifusores de controlar empresas de TV paga. O SBT é dono da TV Alphaville, em São Paulo, e a Bandeirantes da TV Cidade, que tem TV a cabo em 16 cidades brasileiras, e enfrentou problemas financeiros sérios.

A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) anunciou no mês passado novas regras para a TV paga, que, na prática, abririam o mercado às teles, apesar de não acabarem com a restrição legal ao capital estrangeiro. Essa decisão tornou mais urgente a aprovação da lei.

Os verdadeiros inimigos do Capitão Nascimento

História Viva - edição 82 - Agosto 2010

Nascido há um século e meio no sul da Itália, o crime organizado se tornou um meganegócio global que movimenta cerca de 3 trilhões de dólares por ano e fez do Brasil uma de suas principais bases de operação
por Carlos Amorim*
(C) Marie Hippenmeyer / AFP
Integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) lideram rebelião em presídio de Sorocaba, em dezembro de 1997
No verão de 1863, os atores e compositores Giuseppe Rizzotto e Gaetano Mosca apresentaram no Teatro Popular de Palermo, na capital da Sicília, uma ópera que marcou época. O espetéculo Il mafiusi de la Vicaria (“Os mafiosos da prisão de Vicária”) revelou a existência de uma organização criminosa chamada Máfia e mostrou como um grupo de homens comandava as atividades criminosas na Sicília de dentro de uma penitenciária. A montagem descrevia também os rituais de iniciação, os esquemas de proteção e extorsão atrás das grades e o código de silêncio – a Omerta – da quadrilha. Um enredo que conhecemos muito bem e que vemos se repetir no Brasil um século e meio mais tarde.

No dialeto siciliano, a palavra máfia queria dizer belo, audacioso, autoconfiante. No entanto, já em 1864, o nobre italiano Nicoló Turrisi Colonna, o barão de Buonvicino, denunciava a verdadeira natureza do grupo em seu livro A segurança pública na Sicília. Segundo ele, a Máfia era uma organização familiar, armada e secreta, surgida na década de 1840. Além da autoproteção e da cobrança de “taxas de funcionamento” a comerciantes e empresários, os criminosos sicilianos controlavam as plantações de limões e laranjas, principal riqueza da ilha. A cada ano, 400 mil caixas de cítricos italianos eram exportadas para os Estados Unidos.

Nas duas primeiras décadas do século XX, além dos limões, a Máfia exportou para a América dezenas de milhares de homens, mulheres e crianças membros das famílias que fundaram a organização. Em 1930, os mafiosos sicilianos dominavam todas as atividades ilícitas em cidades como Nova York, Seatle, Chicago e Filadélfia. Controlavam a venda e a produção ilegal de bebidas, a prostituição, o jogo e o tráfico de ópio vindo do Extremo Oriente. Em terras do Tio Sam, fundaram a Cosa Nostra (Coisa Nossa).

Um desses jovens e ambiciosos imigrantes era Charles “Lucky” Luciano, nascido na Sicília em 24 de novembro de 1897. Seu nome verdadeiro era Salvatore Lucania e ele organizou e comandou a maior e mais violenta gangue de Nova York (“The Five Points Gang”), especializada em assassinatos por encomenda e cobrança de dívidas. Trabalhava para os capos da família Genovese, uma das cinco maiores da Máfia nos Estados Unidos, mas não recusava pedidos dos demais chefes do crime, como os Bonanno, os Lucchese, os Gambino e os Colombo. Os Gambino deram origem à trilogia do Poderoso chefão, no cinema, originários que eram da cidade de Corleonne, na Sicília; a família Colombo, por sua vez, inspirou a série de TV Os Sopranos.

Reprodução
Charles Lucky Luciano organizou a Máfia em moldes empresariais, criando o modelo das modernas redes de contravenção


Na época, as famílias travavam longas e sangrentas guerras entre si. “Lucky” Luciano não se conformava com essas lutas fratricidas, que considerava uma perda de tempo e de dinheiro. Usando seu prestigio – e suas armas – impôs a criação de uma comissão dirigente na Cosa Nostra, formada por elementos das cinco famílias e capaz de organizar o crime em escala nacional. O comitê existe até hoje.

Visionário, Luciano percebeu que a Máfia podia acompanhar o ritmo acelerado de crescimento dos Estados Unidos. Apostou no controle dos sindicatos de trabalhadores, promovendo ou contendo greves, ganhando dinheiro por meio de filiações, fundos de pensão e extorquindo os capitalistas. Atuando no submundo e nos negócios legais, ele é considerado o “pai” da moderna criminalidade organizada, que se estabelece como empresa.

No início da década de 1950, os Estados Unidos viviam sua “Era de Ouro”, e a Máfia de aproveitou da prosperidade generalizada: faturava centenas de milhões de dólares por ano, não pagava impostos e era tolerada pelas autoridades governamentais. Um dos seus colaboradores mais notáveis era Joseph Kennedy, pai do futuro presidente John Fitzgerald Kennedy. Muitos outros políticos, incluindo governadores e senadores, estavam na folha de pagamento da Máfia.

A prosperidade levou a organização criminosa a investir em outras terras, especialmente no Caribe e na América do Sul. Transformou Cuba na “Disneylândia” do jogo, da prostituição e do tráfico. Colocou dinheiro também nas lavouras de coca na Colômbia e no Peru, inaugurando a etapa dos cartéis da cocaína. O chefe mafioso da operação tinha um nome verdadeiro muito curioso e sugestivo: Johnny Traficantte.

A coisa toda ia muito bem até que Fidel Castro derrubou o governo de Fulgêncio Batista (sócio de Traficantte), expropriou todos os cassinos e acabou com os mafiosos em Havana. A organização criminosa teve um prejuízo de 1 bilhão de dólares em Cuba, e jurou vingança: participou, com a CIA, de oito tentativas de assassinar o líder revolucionário.




Com a morte de Charles “Lucky” Luciano, em 1962, a Cosa Nostra voltou a se dividir: os conservadores queriam continuar com a influência política, o jogo, as mulheres e as bebidas; os “modernos”, no entanto, queriam inaugurar a etapa industrial do tráfico de drogas. E foram eles que ganharam a parada. Nos anos 1960 e 1970, investiram furiosamente nas drogas, assumindo o controle das rotas da heroína do Extremo Oriente para a Europa e da cocaína da América Latina para os Estados unidos e o Canadá.

Um relatório do FBI de 2005 revela que as organizações da Máfia, chamadas de “empresas criminosas” pela polícia federal americana, empregam 250 mil pessoas em todo o mundo. O documento oficial do Departamento de Justiça, assinado por Robert Muller III, então diretor-geral do órgão, informa ainda que tais “empresas criminosas” têm lucro anual de 1 trilhão de dólares. Isso remeteria a um movimento total de 2 ou 3 trilhões de dólares.

O primeiro registro de atuação da Máfia no Brasil data de 1972. O capo mafioso Tommaso Buscheta, o Dom Masino, um dos mais influentes líderes da Máfia siciliana, instalou no litoral de São Paulo a “Conexão Ilha Bela”, destinada a trazer drogas por atacado do porto de Marselha, na França, para os Estados Unidos e o Canadá, passando pelo litoral paulista. Foi preso no Rio de Janeiro, pagou propina, fugiu, foi apanhado novamente pela Polícia Federal e terminou extraditado para a Itália. Durante os anos de chumbo da ditadura militar, as atividades de Tommaso Buscheta não prosperaram. Só uma década depois o crime organizado conseguiria fincar suas garras entre nós.

Na América Latina, um homem poderoso era sócio da Máfia na exportação de cocaína. Em 1982, o megatraficante colombiano Pablo Escobar, chefe do cartel de Medellín, que produzia 60% da cocaína consumida no mundo, decidiu que o Brasil, além de corredor de passagem da droga, poderia se tornar um importante mercado consumidor.

Governado por um general decadente, com um regime militar caindo pelas tabelas, reinando a corrupção e a especulação financeira, o Brasil parecia aos olhos de Escobar um território fértil para implantar o tráfico em níveis comerciais. Com a população concentrada em grandes cidades, uma juventude que despertava de duas décadas de tirania, com uma vida noturna agitada, o país reunia algumas das condições para o consumo de drogas em larga escala.

(C) Sergio Moraes / Reuters / Latinstock
Fernandinho Beira-Mar, o homem que liga os cartéis colombianos aos traficantes brasileiros, fotografado em 2002 no complexo penitenciário de Bangu


O traficante entrou em contato com o crime organizado local: os “banqueiros do bicho”, que também tinham um comando unificado, por meio do qual controlavam as apostas, o contrabando, a prostituição, as escolas de samba e as casas noturnas no Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo e Bahia. Os grandes “bicheiros”, como Castor de Andrade, Capitão Guimarães e Anísio Abrahão David, no entanto, tinham atividades legais, apoiavam políticos, apareciam na televisão e frequentavam as altas rodas. Como não queriam ser confundidos com traficantes, nossos mafiosos optaram por não se envolver com as drogas.

Das negociações com Pablo Escobar, resultou um acordo por meio do qual um contraventor de segundo escalão, Antônio José Nicolau, o Toninho Turco, fundou uma organização especialmente voltada para o tráfico, uma espécie de interface com o Cartel de Medellín. O problema era: onde colocar as drogas, onde vendê-las? Os melhores lugares, evidentemente, seriam as favelas localizadas na zona sul do Rio e nas proximidades do centro da cidade, onde estariam concentrados os consumidores em potencial.

Essas comunidades pobres, no entanto, estavam sob o controle de uma organização surgida nos porões da penitenciária da Ilha Grande, nos tempos da convivência de presos políticos com detentos comuns nas cadeias da ditadura militar. O nome do grupo era Comando Vermelho (CV). Fortemente influenciado pela opção revolucionária dos anos 1970, o grupo se dedicava ao roubo armado e ao resgate de companheiros presos.

Aos poucos, em virtude de suas ações espetaculares, a organização sentiu o peso da repressão e perdeu alguns dos seus melhores quadros. Nas cadeias, líderes como Willian da Silva Lima, o Professor, fundador do CV e ideólogo da organização, foram substituídos por bandidos como Rogério Lengruber, o Bagulhão, José Carlos dos Reis Encina, o Escadinha, e outros ligados ao tráfico. Estava aberto o caminho para o acordo com Escobar.

Toninho Turco formou uma quadrilha de 90 integrantes, dos quais 61 eram policiais e ex-policiais. Chegou a traficar, junto com o CV, entre 8 e 15 toneladas de cocaína por mês, de acordo com os arquivos da Polícia Federal. A droga era vendida no país ou enviada aos Estados Unidos e Canadá. Toninho foi morto em 11 de fevereiro de 1986, em uma ação conjunta dos federais, do Exército e da polícia estadual do Rio de Janeiro. Seu braço direito, um tenente da Polícia Militar carioca, foi preso, anos depois, em Lugano, na Suíça, durante uma investigação de lavagem de dinheiro.


(C) Rogério Cassimiro / Folhapress
Assalto ao poder: em plena campanha presidencial, o PCC lançou várias ofensivas contra o poder público de São Paulo em 2006


A morte de Toninho Turco é o fio da meada que nos leva a Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, que o substituiu nas negociações internacionais do tráfico de drogas. Até ser preso na Colômbia, atuando junto ao Bloco 16 das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, as Farc.

Agora não sabemos mais quem são os nossos criminosos organizados envolvidos com o tráfico em escala comercial. Os próprios colombianos resolveram morar aqui, como Juan Carlos Abadia, o poderoso chefão do Cartel Del Norte, organização que substituiu Pablo Escobar. Ele foi preso pela Polícia Federal, em 7 de outubro de 2007, a partir de pistas reveladas pelo DEA (Drug Enforcement Administration, agência americana de combate ao tráfico), em Aldeia da Serra, bairro de luxo de São Paulo onde vivem artistas de televisão, empresários e gente acima de qualquer suspeita. Abadia foi extraditado para os Estados Unidos em tempo recorde, mandado para uma prisão no estado de Nova York e jogado em uma cela de vidro blindado, de onde jamais sairá.

Desde a criação do Comando Vermelho, após a anistia de 1979, inúmeras organizações do gênero surgiram no país: o Primeiro Comando da Capital (PCC), o CV Nordeste, a Organização Plataforma Armada (OPA) e mais um incontável número de grupos que seguem o exemplo da primeira organização político-militar do crime, o CV. O PCC, de São Paulo, que se intitula o “Partido do Crime”, sinaliza que pretende atuar no cenário político. Em maio e junho de 2006, durante a campanha para presidente, realizou 295 ataques armados contra “alvos” do poder público no estado.

As previsões de Pablo Escobar, de que o Brasil poderia se transformar em um enorme centro consumidor de drogas, se confirmaram. Hoje somos o segundo maior mercado de entorpecentes do mundo ocidental. A Polícia Federal brasileira, entre as dez melhores do mundo, apreende de 8 a 9 toneladas de cocaína por ano, um recorde continental. Em termos de maconha, são 40 toneladas. Das drogas sintéticas, tipo LSD e Ecstasy, quase duas toneladas são interceptadas por ano. Os especialistas no assunto, no entanto, asseguram que as apreensões representam apenas de 10 a 12% do movimento total do tráfico. Faça as contas, leitor, para ver o quanto passa pelas alfândegas e pelas fronteiras.

Esses números mostram que o Brasil se tornou um dos maiores celeiros do crime organizado mundial, com todas as consequêcias que isso traz em matéria de corrupção das instituições, compra de sentenças, punição apenas para os pobres, violência gratuita e banalizada. Na condição de segundo maior consumidor de drogas do mundo ocidental, temos um futuro duvidoso e alarmante.

*Carlos Amorim é jornalista, escritor e autor da primeira trilogia sobre violência urbana e crime organizado no Brasil: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (1994), CV-PCC – A irmandade do crime (2003) e Assalto ao poder – O crime organizado (2010), todos publicados pela Editora Record. Atualmente dirige o Núcleo de Programas Especiais de Jornalismo da TV Brasil em São Paulo