segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A crise no Rio e o pastiche midiático

A crise no Rio e o pastiche midiático

Sempre mantive com jornalistas uma relação de respeito e cooperação. Em alguns casos, o contato profissional evoluiu para amizade. Quando as divergências são muitas e profundas, procuro compreender e buscar bases de um consenso mínimo, para que o diálogo não se inviabilize. Faço-o por ética –supondo que ninguém seja dono da verdade, muito menos eu--, na esperança de que o mesmo procedimento seja adotado pelo interlocutor. Além disso, me esforço por atender aos que me procuram, porque sei que atuam sob pressão, exaustivamente, premidos pelo tempo e por pautas urgentes. A pressa se intensifica nas crises, por motivos óbvios. Costumo dizer que só nós, da segurança pública (em meu caso, quando ocupava posições na área da gestão pública da segurança), os médicos e o pessoal da Defesa Civil, trabalhamos tanto –ou sob tanta pressão-- quanto os jornalistas.
Digo isso para explicar por que, na crise atual, tenho recusado convites para falar e colaborar com a mídia:
(1) Recebi muitos telefonemas, recados e mensagens. As chamadas são contínuas, a tal ponto que não me restou alternativa a desligar o celular. Ao todo, nesses dias, foram mais de cem pedidos de entrevistas ou declarações. Nem que eu contasse com uma equipe de secretários, teria como responder a todos e muito menos como atendê-los. Por isso, aproveito a oportunidade para desculpar-me. Creiam, não se trata de descortesia ou desapreço pelos repórteres, produtores ou entrevistadores que me procuraram.
(2) Além disso, não tenho informações de bastidor que mereçam divulgação. Por outro lado, não faria sentido jogar pelo ralo a credibilidade que construí ao longo da vida. E isso poderia acontecer se eu aceitasse aparecer na TV, no rádio ou nos jornais, glosando os discursos oficiais que estão sendo difundidos, declamando platitudes, reproduzindo o senso comum pleno de preconceitos, ou divagando em torno de especulações. A situação é muito grave e não admite leviandades. Portanto, só faria sentido falar se fosse para contribuir de modo eficaz para o entendimento mais amplo e profundo da realidade que vivemos. Como fazê-lo em alguns parcos minutos, entrecortados por intervenções de locutores e debatedores? Como fazê-lo no contexto em que todo pensamento analítico é editado, truncado, espremido –em uma palavra, banido--, para que reinem, incontrastáveis, a exaltação passional das emergências, as imagens espetaculares, os dramas individuais e a retórica paradoxalmente triunfalista do discurso oficial?
(3) Por fim, não posso mais compactuar com o ciclo sempre repetido na mídia: atenção à segurança nas crises agudas e nenhum investimento reflexivo e informativo realmente denso e consistente, na entressafra, isto é, nos intervalos entre as crises. Na crise, as perguntas recorrentes são: (a) O que fazer, já, imediatamente, para sustar a explosão de violência? (b) O que a polícia deveria fazer para vencer, definitivamente, o tráfico de drogas? (c) Por que o governo não chama o Exército? (d) A imagem internacional do Rio foi maculada? (e) Conseguiremos realizar com êxito a Copa e as Olimpíadas?
Ao longo dos últimos 25 anos, pelo menos, me tornei “as aspas” que ajudaram a legitimar inúmeras reportagens. No tópico, “especialistas”, lá estava eu, tentando, com alguns colegas, furar o bloqueio à afirmação de uma perspectiva um pouquinho menos trivial e imediatista. Muitas dessas reportagens, por sua excelente qualidade, prescindiriam de minhas aspas –nesses casos, reduzi-me a recurso ocioso, mera formalidade das regras jornalísticas. Outras, nem com todas as aspas do mundo se sustentariam. Pois bem, acho que já fui ou proporcionei aspas o suficiente. Esse código jornalístico, com as exceções de praxe, não funciona, quando o tema tratado é complexo, pouco conhecido e, por sua natureza, rebelde ao modelo de explicação corrente. Modelo que não nasceu na mídia, mas que orienta as visões aí predominantes. Particularmente, não gostaria de continuar a ser cúmplice involuntário de sua contínua reprodução.
Eis por que as perguntas mencionadas são expressivas do pobre modelo explicativo corrente e por que devem ser consideradas obstáculos ao conhecimento e réplicas de hábitos mentais refratários às mudanças inadiáveis. Respondo sem a elegância que a presença de um entrevistador exigiria. Serei, por assim dizer, curto e grosso, aproveitando-me do expediente discursivo aqui adotado, em que sou eu mesmo o formulador das questões a desconstruir. Eis as respostas, na sequência das perguntas, que repito para facilitar a leitura:
(a) O que fazer, já, imediatamente, para sustar a violência e resolver o desafio da insegurança?
Nada que se possa fazer já, imediatamente, resolverá a insegurança. Quando se está na crise, usam-se os instrumentos disponíveis e os procedimentos conhecidos para conter os sintomas e salvar o paciente. Se desejamos, de fato, resolver algum problema grave, não é possível continuar a tratar o paciente apenas quando ele já está na UTI, tomado por uma enfermidade letal, apresentando um quadro agudo. Nessa hora, parte-se para medidas extremas, de desespero, mobilizando-se o canivete e o açougueiro, sem anestesia e assepsia. Nessa hora, o cardiologista abre o tórax do moribundo na maca, no corredor. Não há como construir um novo hospital, decente, eficiente, nem para formar especialistas, nem para prevenir epidemias, nem para adotar procedimentos que evitem o agravamento da patologia. Por isso, o primeiro passo para evitar que a situação se repita é trocar a pergunta. O foco capaz de ajudar a mudar a realidade é aquele apontado por outra pergunta: o que fazer para aperfeiçoar a segurança pública, no Rio e no Brasil, evitando a violência de todos os dias, assim como sua intensificação, expressa nas sucessivas crises?
Se o entrevistador imaginário interpelar o respondente, afirmando que a sociedade exige uma resposta imediata, precisa de uma ação emergencial e não aceita nenhuma abordagem que não produza efeitos práticos imediatos, a melhor resposta seria: caro amigo, sua atitude representa, exatamente, a postura que tem impedido avanços consistentes na segurança pública. Se a sociedade, a mídia e os governos continuarem se recusando a pensar e abordar o problema em profundidade e extensão, como um fenômeno multidimensional a requerer enfrentamento sistêmico, ou seja, se prosseguirmos nos recusando, enquanto Nação, a tratar do problema na perspectiva do médio e do longo prazos, nos condenaremos às crises, cada vez mais dramáticas, para as quais não há soluções mágicas.
A melhor resposta à emergência é começar a se movimentar na direção da reconstrução das condições geradoras da situação emergencial. Quanto ao imediato, não há espaço para nada senão o disponível, acessível, conhecido, que se aplica com maior ou menor destreza, reduzindo-se danos e prolongando-se a vida em risco.
A pergunta é obtusa e obscurantista, cúmplice da ignorância e da apatia.
(b) O que as polícias fluminenses deveriam fazer para vencer, definitivamente, o tráfico de drogas?
Em primeiro lugar, deveriam parar de traficar e de associar-se aos traficantes, nos “arregos” celebrados por suas bandas podres, à luz do dia, diante de todos. Deveriam parar de negociar armas com traficantes, o que as bandas podres fazem, sistematicamente. Deveriam também parar de reproduzir o pior do tráfico, dominando, sob a forma de máfias ou milícias, territórios e populações pela força das armas, visando rendimentos criminosos obtidos por meios cruéis.
Ou seja, a polaridade referida na pergunta (polícias versus tráfico) esconde o verdadeiro problema: não existe a polaridade. Construí-la –isto é, separar bandido e polícia; distinguir crime e polícia-- teria de ser a meta mais importante e urgente de qualquer política de segurança digna desse nome. Não há nenhuma modalidade importante de ação criminal no Rio de que segmentos policiais corruptos estejam ausentes. E só por isso que ainda existe tráfico armado, assim como as milícias.
Não digo isso para ofender os policiais ou as instituições. Não generalizo. Pelo contrário, sei que há dezenas de milhares de policiais honrados e honestos, que arriscam, estóica e heroicamente, suas vidas por salários indignos. Considero-os as primeiras vítimas da degradação institucional em curso, porque os envergonha, os humilha, os ameaça e acua o convívio inevitável com milhares de colegas corrompidos, envolvidos na criminalidade, sócios ou mesmo empreendedores do crime.
Não nos iludamos: o tráfico, no modelo que se firmou no Rio, é uma realidade em franco declínio e tende a se eclipsar, derrotado por sua irracionalidade econômica e sua incompatibilidade com as dinâmicas políticas e sociais predominantes, em nosso horizonte histórico. Incapaz, inclusive, de competir com as milícias, cuja competência está na disposição de não se prender, exclusivamente, a um único nicho de mercado, comercializando apenas drogas –mas as incluindo em sua carteira de negócios, quando conveniente. O modelo do tráfico armado, sustentado em domínio territorial, é atrasado, pesado, anti-econômico: custa muito caro manter um exército, recrutar neófitos, armá-los (nada disso é necessário às milícias, posto que seus membros são policiais), mantê-los unidos e disciplinados, enfrentando revezes de todo tipo e ataques por todos os lados, vendo-se forçados a dividir ganhos com a banda podre da polícia (que atua nas milícias) e, eventualmente, com os líderes e aliados da facção. É excessivamente custoso impor-se sobre um território e uma população, sobretudo na medida que os jovens mais vulneráveis ao recrutamento comecem a vislumbrar e encontrar alternativas. Não só o velho modelo é caro, como pode ser substituído com vantagens por outro muito mais rentável e menos arriscado, adotado nos países democráticos mais avançados: a venda por delivery ou em dinâmica varejista nômade, clandestina, discreta, desarmada e pacífica. Em outras palavras, é melhor, mais fácil e lucrativo praticar o negócio das drogas ilícitas como se fosse contrabando ou pirataria do que fazer a guerra. Convenhamos, também é muito menos danoso para a sociedade, por óbvio.
(c) O Exército deveria participar?
Fazendo o trabalho policial, não, pois não existe para isso, não é treinado para isso, nem está equipado para isso. Mas deve, sim, participar. A começar cumprindo sua função de controlar os fluxos das armas no país. Isso resolveria o maior dos problemas: as armas ilegais passando, tranquilamente, de mão em mão, com as benções, a mediação e o estímulo da banda podre das polícias.
E não só o Exército. Também a Marinha, formando uma Guarda Costeira com foco no controle de armas transportadas como cargas clandestinas ou despejadas na baía e nos portos. Assim como a Aeronáutica, identificando e destruindo pistas de pouso clandestinas, controlando o espaço aéreo e apoiando a PF na fiscalização das cargas nos aeroportos.
(d) A imagem internacional do Rio foi maculada?
Claro. Mais uma vez.
(e) Conseguiremos realizar com êxito a Copa e as Olimpíadas?
Sem dúvida. Somos ótimos em eventos. Nesses momentos, aparece dinheiro, surge o “espírito cooperativo”, ações racionais e planejadas impõem-se. Nosso calcanhar de Aquiles é a rotina. Copa e Olimpíadas serão um sucesso. O problema é o dia a dia.
Palavras Finais
Traficantes se rebelam e a cidade vai à lona. Encena-se um drama sangrento, mas ultrapassado. O canto de cisne do tráfico era esperado. Haverá outros momentos análogos, no futuro, mas a tendência declinante é inarredável. E não porque existem as UPPs, mas porque correspondem a um modelo insustentável, economicamente, assim como social e politicamente. As UPPs, vale dizer mais uma vez, são um ótimo programa, que reedita com mais apoio político e fôlego administrativo o programa “Mutirões pela Paz”, que implantei com uma equipe em 1999, e que acabou soterrado pela política com “p” minúsculo, quando fui exonerado, em 2000, ainda que tenha sido ressuscitado, graças à liderança e à competência raras do ten.cel. Carballo Blanco, com o título GPAE, como reação à derrocada que se seguiu à minha saída do governo. A despeito de suas virtudes, valorizadas pela presença de Ricardo Henriques na secretaria estadual de assistência social --um dos melhores gestores do país--, elas não terão futuro se as polícias não forem profundamente transformadas. Afinal, para tornarem-se política pública terão de incluir duas qualidades indispensáveis: escala e sustentatibilidade, ou seja, terão de ser assumidas, na esfera da segurança, pela PM. Contudo, entregar as UPPs à condução da PM seria condená-las à liquidação, dada a degradação institucional já referida.
O tráfico que ora perde poder e capacidade de reprodução só se impôs, no Rio, no modelo territorializado e sedentário em que se estabeleceu, porque sempre contou com a sociedade da polícia, vale reiterar. Quando o tráfico de drogas no modelo territorializado atinge seu ponto histórico de inflexão e começa, gradualmente, a bater em retirada, seus sócios –as bandas podres das polícias-- prosseguem fortes, firmes, empreendedores, politicamente ambiciosos, economicamente vorazes, prontos a fixar as bandeiras milicianas de sua hegemonia.
Discutindo a crise, a mídia reproduz o mito da polaridade polícia versus tráfico, perdendo o foco, ignorando o decisivo: como, quem, em que termos e por que meios se fará a reforma radical das polícias, no Rio, para que estas deixem de ser incubadoras de milícias, máfias, tráfico de armas e drogas, crime violento, brutalidade, corrupção? Como se refundarão as instituições policiais para que os bons profissionais sejam, afinal, valorizados e qualificados? Como serão transformadas as polícias, para que deixem de ser reativas, ingovernáveis, ineficientes na prevenção e na investigação?
As polícias são instituições absolutamente fundamentais para o Estado democrático de direito. Cumpre-lhes garantir, na prática, os direitos e as liberdades estipulados na Constituição. Sobretudo, cumpre-lhes proteger a vida e a estabilidade das expectativas positivas relativamente à sociabilidade cooperativa e à vigência da legalidade e da justiça. A despeito de sua importância, essas instituições não foram alcançadas em profundidade pelo processo de transição democrática, nem se modernizaram, adaptando-se às exigências da complexa sociedade brasileira contemporânea. O modelo policial foi herdado da ditadura. Ele servia à defesa do Estado autoritário e era funcional ao contexto marcado pelo arbítrio. Não serve à defesa da cidadania. A estrutura organizacional de ambas as polícias impede a gestão racional e a integração, tornando o controle impraticável e a avaliação, seguida por um monitoramento corretivo, inviável. Ineptas para identificar erros, as polícias condenam-se a repeti-los. Elas são rígidas onde teriam de ser plásticas, flexíveis e descentralizadas; e são frouxas e anárquicas, onde deveriam ser rigorosas. Cada uma delas, a PM e a Polícia Civil, são duas instituições: oficiais e não-oficiais; delegados e não-delegados.
E nesse quadro, a PEC-300 é varrida do mapa no Congresso pelos governadores, que pagam aos policiais salários insuficientes, empurrando-os ao segundo emprego na segurança privada informal e ilegal.
Uma das fontes da degradação institucional das polícias é o que denomino "gato orçamentário", esse casamento perverso entre o Estado e a ilegalidade: para evitar o colapso do orçamento público na área de segurança, as autoridades toleram o bico dos policiais em segurança privada. Ao fazê-lo, deixam de fiscalizar dinâmicas benignas (em termos, pois sempre há graves problemas daí decorrentes), nas quais policiais honestos apenas buscam sobreviver dignamente, apesar da ilegalidade de seu segundo emprego, mas também dinâmicas malignas: aquelas em que policiais corruptos provocam a insegurança para vender segurança; unem-se como pistoleiros a soldo em grupos de extermínio; e, no limite, organizam-se como máfias ou milícias, dominando pelo terror populações e territórios. Ou se resolve esse gargalo (pagando o suficiente e fiscalizando a segurança privada /banindo a informal e ilegal; ou legalizando e disciplinando, e fiscalizando o bico), ou não faz sentido buscar aprimorar as polícias.
O Jornal Nacional, nesta quinta, 25 de novembro, definiu o caos no Rio de Janeiro, salpicado de cenas de guerra e morte, pânico e desespero, como um dia histórico de vitória: o dia em que as polícias ocuparam a Vila Cruzeiro. Ou eu sofri um súbito apagão mental e me tornei um idiota contumaz e incorrigível ou os editores do JN sentiram-se autorizados a tratar milhões de telespectadores como contumazes e incorrigíveis idiotas.
Ou se começa a falar sério e levar a sério a tragédia da insegurança pública no Brasil, ou será pelo menos mais digno furtar-se a fazer coro à farsa.

Morre o ator Leslie Nielsen, protagonista de "Corra que a Polícia Vem Aí"

Fonte: Folha de SP

O ator canadense Leslie Nielsen, 84, morreu neste domingo (28) de complicações devido a uma pneumonia em um hospital de Ft. Lauderdale, no Estado americano da Flórida.


A notícia foi divulgada pela rádio canadense CJOB, com informações de Doug Nielsen, sobrinho do ator.

Apesar de ter trabalhado nos clássicos "O Planeta Proibido", de 1956, e "O Destino do Poseidon", de 1972, foi por seus papéis cômicos em filmes como "Apertem os cintos, o piloto sumiu!" (1980), "Corra que a polícia vem aí" (1988) --e as sequências "Corra que a Polícia Vem Aí 2 1/2" (1991)" e "Corra que a Polícia Vem Aí 33 1/3" (1994)--, "Drácula - morto, mas feliz" (1995), "Duro de espiar" (1996) e "Mr. Magoo" (1997) que o ator ganhou fama mundial.

Nascido em Regina (Canadá) em 11 de fevereiro de 1926, Nielsen apareceu em mais de 100 filmes e centenas de programas de televisão ao longo de sua carreira.

Casado quatro vezes, teve duas filhas com sua segunda esposa, Maura e Thea Nielsen.

TV digital: próximos capítulos

Autor(es): Agencia o Globo/ Mônica Tavares
O Globo - 29/11/2010

Governo quer acelerar adoção do software Ginga, que permitirá mais interatividade

A TV digital brasileira completa 3 anos no próximo dia 2. Desde que as primeiras transmissões foram feitas, em São Paulo, o padrão se expandiu - e hoje cobre quase 40% da população brasileira. Mais que isso, ele está ganhando o mundo. Agora, no entanto, a tecnologia nipo-brasileira enfrenta o desafio da interatividade, com a adoção do software Ginga. Desenvolvido no Brasil, o Ginga permitirá, por exemplo, que se recebam informações adicionais da programação, além de publicidade dirigida.

Os telespectadores, que nos últimos três anos ganharam qualidade de som e imagem, certamente mudarão sua relação com a televisão. Às emissoras, abre-se um novo modelo de negócios. Já as indústrias e o varejo vêem-se diante da oportunidade de aceleração da produção e das vendas.

Atualmente, mais de 90% dos televisores novos com conversores de sinal analógico para digital e as próprias caixinhas para acoplar nas TVs antigas e captar as imagens com novo padrão ainda não contam com o Ginga. Ou seja: para aproveitar integralmente a tecnologia, o consumidor terá que comprar equipamentos cuja produção só agora as indústrias estão começando a despejar no mercado.

É apostando neste valor agregado à TV pelo Ginga que o governo prevê que o país chegará à produção de cerca de 15 milhões de conversores e TVs com interatividade até 2013.

Porém, o governo terá que superar uma grande barreira: popularizar o conversor, cujo preço ainda é muito salgado. A meta oficial é baixar o preço, próximo de R$300 hoje, para a casa de R$180.

Para isso, o governo, em conjunto com a indústria, vem trabalhando para tentar reduzir os custos de logística - armazenamento, transporte e distribuição dos conversores.

Produção em alta e preços atraentes

Para o diretor-geral da Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e TV (Abert), Luis Roberto Antonik, o preço ideal dos conversores ficaria em torno dos R$100, para se conseguir atingir todo o público.

Ainda assim, Antonik reconhece que este ano a indústria está conseguindo um desempenho excepcional na produção e na venda de televisores de tela plana e de plasma. Em Manaus, foram produzidas mais de cinco milhões de TVs com conversores embutidos em 2010. O executivo afirmou ainda que, no varejo, a TV mais vendida, a de 32 polegadas, pode ser encontrada por um preço atrativo: entre R$1.100 e R$1.200.

A indústria aposta ainda nos eventos programados para os próximos anos como impulsionadores das vendas, como a Copa das Confederações de 2013, a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016.

- A TV digital vai crescer, mas não podemos ficar ansiosos. Sou extremamente otimista - garantiu o diretor-geral da fabricante Telesystems, Marco Szili.


Grandes redes de varejo estão na linha de frente na venda de conversores, como Extra, Carrefour e Ponto Frio. As redes chegam a parcelar em dez vezes o preço médio de R$299 do aparelho. Mesmo sem o Ginga, as vendas estão aquecidas.


As emissoras de TV, de acordo com a Abert, ainda estão desenvolvendo o modelo de negócios que a interatividade do Ginga vai permitir. Um dos exemplos de interatividade é a escolha de um programa ou fazer compras pela televisão.


Para o governo, o Ginga terá um papel social muito importante, porque por meio dele poderá levar informações de utilidade pública a 54,7 milhões dos lares brasileiros ou 95,1% do total da população que tem acesso a televisão no país.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O buraco no muro

Portinari na internet e para todos

Portinari na internet e para todos

3/11/2010

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – Pesquisador das áreas de engenharia de telecomunicações e de matemática, João Candido Portinari deixou a carreira acadêmica de lado há 35 anos, quando decidiu se dedicar integralmente a um projeto grandioso: localizar, digitalizar e catalogar as mais de 5 mil obras de seu pai, Candido Portinari (1903-1962), um dos principais artistas brasileiros.

O Projeto Portinari conseguiu disponibilizar em forma digital praticamente toda a obra do artista. De acordo com João Candido, a iniciativa é uma forma de corrigir uma consequência perversa da importância e do reconhecimento da obra de seu pai: com a maior parte de seus quadros dispersa em coleções privadas de todo o mundo, o pintor que dedicou sua vida a retratar o povo tem sua obra inacessível ao público geral.

Depois de 20 anos de pesquisas, qualificadas por João Candido como “um verdadeiro trabalho de detetive”, toda a obra foi catalogada. Nos últimos 13 anos, o Projeto Portinari tem divulgado a obra do pintor por todo o Brasil, realizando exposições itinerantes em comunidades afastadas, com foco especial nas crianças.

O próximo passo do projeto será grandioso: trazer de volta ao Brasil, temporariamente, a obra Guerra e Paz: dois painéis de 14 metros de altura que foram concebidos especialmente para a sede das Nações Unidas, em Nova York.

Com a sede passando por uma grande reforma, o Projeto Portinari conseguiu a guarda dos dois painéis até 2013. A obra, concluída em 1956, foi a última de Portinari e causou sua morte. Durante os cinco anos em que trabalhou nos painéis de 140 metros quadrados, o pintor já estava intoxicado pelo chumbo das tintas a óleo. Ele morreria no início de 1962 em decorrência do envenenamento.

Considerada pelo próprio Portinari como sua melhor obra, os painéis de Guerra e Paz serão apresentados em dezembro, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, cidade onde foram apresentadas ao público brasileiro por uma única vez antes de serem embarcados para os Estados Unidos, há 53 anos. Em seguida, serão submetidos a uma restauração que poderá ser acompanhada pelo público, em processo que levará alguns meses. Após o restauro, passarão por diversas cidades, acompanhados de 120 estudos preparatórios executados por Portinari entre 1952 e 1956.

No dia 21 de outubro uma exposição com reproduções das 25 obras de Portinari que ilustram o Relatório de Atividades FAPESP 2009 foi inaugurada na sede da Fundação, em São Paulo. Na ocasião, João Candido concedeu à Agência FAPESP a seguinte entrevista:

Agência FAPESP – O Projeto Portinari fez a digitalização de praticamente todas as obras de seu pai. Quais foram as dificuldades encontradas para realizar o levantamento de uma obra tão extensa?
João Candido Portinari – De fato é uma obra extensa. Conseguimos catalogar mais de 5 mil obras. Esse número correspondia à estimativa que tínhamos, antes de iniciar o trabalho, de que ele teria produzido um trabalho a cada três dias, em média, durante cerca de 40 anos, incluindo os grandes painéis e murais que levavam vários meses ou anos para ser realizados. Quando começamos o levantamento, a situação era dramática, pois o paradeiro da maioria das obras era desconhecido, não havia nenhum museu, nenhum catálogo e os livros sobre sua vida e obra estavam esgotados.. Foi um trabalho de detetive que consumiu muitos anos, porque se trata de uma obra dispersa não só em coleções privadas do Brasil, mas em vários países. Encontramos obras nas Américas, na Finlândia, na antiga Tchecoslováquia, no Canadá, na África do Sul, em Israel, no Haiti e em muitos outros países.

Agência FAPESP – Quanto tempo levou esse processo?
João Candido– Essa fase de atividade de rastreamento, localização, catalogação e digitalização consumiu inteiramente os primeiros 20 anos do projeto. Foi uma aventura que só teve sucesso graças à solidariedade da sociedade brasileira. Esse trabalho imenso não se restringiu apenas ao levantamento das obras, conseguimos também reunir mais de 30 mil documentos.

Agência FAPESP – Qual é a natureza dessa documentação?
João Candido – Todo tipo de documento, incluindo 9 mil cartas que Portinari trocou com intelectuais e artistas de sua época, como Mario de Andrade, Manuel Bandeira, Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Luís Carlos Prestes, Heitor Villa-Lobos, Cecília Meirelles, Jorge Amado, Carlos Drummond de Andrade e muitos outros. É um tesouro extraordinário. Além disso, temos 12 mil recortes de periódicos que vão de 1920 até os dias de hoje. Além de compilar esse material, também produzimos novos documentos. Fizemos um programa de história oral que, ao longo de anos, entrevistou 74 contemporâneos de Portinari. Disso resultaram 130 horas gravadas em vídeo, que não se restringem a comentar sobre Portinari ou arte, mas também abordam preocupações estéticas, culturais, sociais e políticas daquela geração. Tudo isso está consubstanciado em um site, onde qualquer um pode encontrar toda a documentação.

Agência FAPESP – O Projeto Portinari tem uma sede física ou se concentra no universo virtual?
João Candido– Nossa sede fica na PUC-RJ, no Rio de Janeiro, mas você tem razão em dizer que se trata de algo primordialmente virtual. O projeto poderia estar em qualquer lugar, pois não temos nenhuma obra original, apenas reunimos os conteúdos e a pesquisa sobre o artista. Projetamos criar, no futuro, um Museu Portinari, no qual o público pudesse ter contato, em um só lugar, com toda a obra do artista. Faríamos isso com reproduções impressas em alta definição. Avaliamos que reunir reproduções de alta qualidade das 5 mil obras sairia mais barato do que fazer um museu com apenas dez obras originais. Foi o que a FAPESP fez com a exposição de reproduções atualmente em sua sede.

Agência FAPESP – Podemos dizer que, em relação ao tamanho de sua obra, Portinari é pouco conhecido?
João Candido – Sim, essa foi uma das principais motivações para o projeto e é também o que nos inspira o sonho de um dia ter um Museu Portinari. Meu pai dizia que sua obra era dedicada ao povo, mas o destino dela foi vítima de uma ironia perversa: hoje, o povo não tem acesso à sua obra, que está dispersa em coleções privadas e museus em várias partes do planeta. Isso motivou o questionamento de Antonio Callado: "segregado em coleções particulares, em salas de bancos, Candinho vai se tornando invisível. Vai continuar desmembrado o nosso maior pintor, como o Tiradentes que pintou?".

Agência FAPESP – Com a conclusão da catalogação e digitalização das obras, o Projeto Portinari cumpriu sua missão?
João Candido – Não, pelo contrário, consideramos que o verdadeiro trabalho começou a partir do momento em que tivemos todos os conteúdos levantados, catalogados, cruzados entre si e pesquisados minuciosamente. Desde então, passamos a desenvolver uma série de ações. A mais importante delas é o trabalho com crianças, realizado nos últimos 13 anos: o Brasil de Portinari.

Agência FAPESP – Como é desenvolvido esse trabalho?
João Candido– Percorremos escolas, centros culturais e prefeituras em todos os estados brasileiros. Visitamos também hospitais, populações ribeirinhas e presídios. Mas a prioridade é apresentar o trabalho às crianças. Realizamos, por exemplo, uma excursão no Pantanal recebendo crianças para uma exposição em um barco. Em 2009, fizemos uma parceria com a Marinha e percorremos o Amazonas e seus afluentes, ficando 19 dias no rio Purus. Nos navios, moradores de povoados muito precários têm contato com a obra de Portinari e recebem assistência médica e odontológica, tiram documentos, entre outras atividades.

Agência FAPESP – Como é a reação das crianças?
João Candido – Às vezes as crianças têm uma percepção visual bem mais aguçada que a dos adultos. Eles se envolvem muito e entendem imediatamente o que diz o pintor. O resultado tem sido de um sucesso extraordinário. Procuramos incentivar a criança a uma reflexão crítica sobre a realidade do mundo. A ideia é colocá-los em contato com a obra de Portinari e sua poderosa mensagem de não-violência, de fraternidade, de solidariedade, de compaixão e de respeito pelo sagrado da vida. Nada disso seria possível com uma obra que não tivesse a força do trabalho de Portinari.

Agência FAPESP – Podemos dizer que a força do trabalho de Portinari vem da preocupação com a questão social?
João Candido – Sim e isso é muito interessante. O trabalho do meu pai foi caracterizado por um experimentalismo incessante – a ponto de críticos dizerem que em sua obra há uma dezena de pintores diferentes. Mas a temática é sempre a mesma: a profunda preocupação social. Ele foi mudando o estilo e a forma de expressão. Dava importância à técnica, dizia que sem ela é impossível expressar o que vai na alma, mas destacava que seu tema era o homem. Está presente invariavelmente em sua obra esse desejo profundo de solidariedade e de compaixão.

Agência FAPESP – O excluído é o personagem central da obra do pintor?
João Candido – O excluído é um personagem absolutamente central. Ele vivia em uma região cafeeira do interior paulista que era passagem de retirantes que vinham do Nordeste. Isso impressionou de forma indelével as retinas daquele menino que presenciou a tragédia das famílias que viajavam em condições desumanas. Essa experiência despertou nele, de forma muito precoce, um sentimento de solidariedade incondicional com o excluído. Eu diria que esse sentimento solidário – e de revolta e denúncia contra a violência e as injustiças – é uma das características mais fundamentais para compreender Portinari. Esse foco na exclusão encontraria sua síntese máxima em sua última obra, os monumentais painéis Guerra e Paz. Ali, o excluído é a espécie humana inteira, submetida ao flagelo da guerra e excluída da paz.

Agência FAPESP – Quais são os outros temas importantes em Portinari?
João Candido – A partir desse eixo da preocupação com a exclusão social, a temática dele é muito abrangente, abordando questões universais e trazendo também um grande retrato do Brasil. Algo que pouca gente sabe, por exemplo, é que Portinari foi um dos maiores pintores sacros do mundo. É extraordinário como pintou tantas vezes o Cristo e as cenas bíblicas. Uma produção sacra que levou Alceu Amoroso Lima – grande pensador católico – a levantar um intrigante paradoxo: como um pintor comunista como Portinari fazia a pintura sacra com tanto fervor.

Agência FAPESP – Trata-se de fato de um paradoxo?
João Candido – O próprio Amoroso Lima concluiu que não havia paradoxo quando foi a Brodowsky, cidade natal de Portinari, visitar sua casa. Conhecendo a mãe, a avó e as tias do pintor, compreendeu que se tratava de uma típica família matriarcal italiana, de católicas fervorosas. E percebeu que não havia contradição: Portinari era um homem de um misticismo ancestral e nunca abandonou isso. Ele se recusou a seguir as diretivas do Partido Comunista Russo, de que os pintores socialistas deviam seguir os cânones do realismo socialista. Luis Carlos Prestes, que era seu amigo, teve a grandeza de perceber essa dimensão e não fazer qualquer restrição ao meu pai no Partido Comunista.

Agência FAPESP – Além da temática religiosa, o que é mais presente em sua obra?
João Candido – Por tomar para si o partido do desfavorecido, Portinari se tornou um dos maiores pintores de negros das Américas. Isso foi dito por Assis Chateaubriand, que escreveu um texto sobre a presença da África na obra de meu pai: "Portinari é o maior e mais fantástico pintor de negros que ainda viu a espécie humana. Ele sente a África com sua magia, os seus mistérios, a sua volúpia, como nenhum outro artista do pincel". A infância também é um tema recorrente. A infância está em sua obra poética, lírica. Porque é uma infância do interior do Brasil, que, apesar de ser pobre é passada sob as estrelas, no mato, brincando na rua, com animais. Isso está na obra dele de forma riquíssima, impregnada de poesia. Outro elemento é o trabalho. O trabalhador é um tema que percorre toda a sua trajetória. Tudo isso foi abordado de uma forma que apresenta sempre uma dialética entre o drama e a poesia, entre a fúria e a ternura e entre o trágico e o lírico. Em qualquer ponto da trajetória de Portinari veremos essa dialética.

Agência FAPESP – O senhor é pesquisador do ramo de engenharia de telecomunicações. Como foi sua carreira acadêmica? Ainda atua na área?
João Candido – Estudei matemática na França e lá prestei concurso para escolas de engenharia e me formei em telecomunicações. Fiz o doutoramento no Instituto de Tecnologia de Massachussetts (MIT), ainda na área de engenharia elétrica, mas já com meu interesse todo voltado, novamente, para matemática. Terminando o doutoramento, depois de dez anos fora do Brasil, em 1966 fui convidado pela PUC do Rio de Janeiro para ajudar a criar seu Departamento de Matemática. Eu tinha 28 anos. No ano seguinte fui diretor do departamento e fiquei 13 anos totalmente absorvido na pesquisa, ensino e administração. Em 1979 concebemos o Projeto Portinari. Rapidamente vi que seria impossível conciliar as duas atividades, porque o projeto ia se desdobrando e, infelizmente, tive que abrir mão da matemática.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

10 estratégias de manipulação

O lingüista estadunidense Noam Chomsky elaborou a lista das “10 estratégias de manipulação” através da mídia:


1- A ESTRATÉGIA DA DISTRAÇÃO.
O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração que
consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e
das mudanças decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante a
técnica do dilúvio ou inundações de contínuas distrações e de
informações insignificantes. A estratégia da distração é igualmente
indispensável para impedir ao público de interessar-se pelos
conhecimentos essenciais, na área da ciência, da economia, da
psicologia, da neurobiologia e da cibernética. “Manter a atenção do
público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por
temas sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado,
sem nenhum tempo para pensar; de volta à granja como os outros animais
(citação do texto ‘Armas silenciosas para guerras tranqüilas’)”.

2- CRIAR PROBLEMAS, DEPOIS OFERECER SOLUÇÕES.
Este método também é chamado “problema-reação-solução”. Cria-se um
problema, uma “situação” prevista para causar certa reação no público, a
fim de que este seja o mandante das medidas que se deseja fazer
aceitar. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou se intensifique a
violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o
público seja o mandante de leis de segurança e políticas em prejuízo da
liberdade. Ou também: criar uma crise econômica para fazer aceitar como
um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento
dos serviços públicos.

3- A ESTRATÉGIA DA GRADAÇÃO.
Para fazer com que se aceite uma medida inaceitável, basta aplicá-la
gradativamente, a conta-gotas, por anos consecutivos. É dessa maneira
que condições socioeconômicas radicalmente novas (neoliberalismo) foram
impostas durante as décadas de 1980 e 1990: Estado mínimo,
privatizações, precariedade, flexibilidade, desemprego em massa,
salários que já não asseguram ingressos decentes, tantas mudanças que
haveriam provocado uma revolução se tivessem sido aplicadas de uma só
vez.

4- A ESTRATÉGIA DO DEFERIDO.
Outra maneira de se fazer aceitar uma decisão impopular é a de
apresentá-la como sendo “dolorosa e necessária”, obtendo a aceitação
pública, no momento, para uma aplicação futura. É mais fácil aceitar um
sacrifício futuro do que um sacrifício imediato. Primeiro, porque o
esforço não é empregado imediatamente. Em seguida, porque o público, a
massa, tem sempre a tendência a esperar ingenuamente que “tudo irá
melhorar amanhã” e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isto dá
mais tempo ao público para acostumar-se com a idéia de mudança e de
aceitá-la com resignação quando chegue o momento.

5- DIRIGIR-SE AO PÚBLICO COMO CRIANÇAS DE BAIXA IDADE.
A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discurso,
argumentos, personagens e entonação particularmente infantis, muitas
vezes próximos à debilidade, como se o espectador fosse um menino de
baixa idade ou um deficiente mental. Quanto mais se intente buscar
enganar ao espectador, mais se tende a adotar um tom infantilizante. Por
quê? “Se você se dirige a uma pessoa como se ela tivesse a idade de 12
anos ou menos, então, em razão da sugestão, ela tenderá, com certa
probabilidade, a uma resposta ou reação também desprovida de um sentido
crítico como a de uma pessoa de 12 anos ou menos de idade (ver “Armas
silenciosas para guerras tranqüilas”)”.

6- UTILIZAR O ASPECTO EMOCIONAL MUITO MAIS DO QUE A REFLEXÃO.
Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um
curto circuito na análise racional, e por fim ao sentido critico dos
indivíduos. Além do mais, a utilização do registro emocional permite
abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou enxertar
idéias, desejos, medos e temores, compulsões, ou induzir comportamentos…

7- MANTER O PÚBLICO NA IGNORÂNCIA E NA MEDIOCRIDADE.
Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os
métodos utilizados para seu controle e sua escravidão. “A qualidade da
educação dada às classes sociais inferiores deve ser a mais pobre e
medíocre possível, de forma que a distância da ignorância que paira
entre as classes inferiores às classes sociais superiores seja e
permaneça impossível para o alcance das classes inferiores (ver ‘Armas
silenciosas para guerras tranqüilas’)”.

8- ESTIMULAR O PÚBLICO A SER COMPLACENTE NA MEDIOCRIDADE.
Promover ao público a achar que é moda o fato de ser estúpido, vulgar e inculto…

9- REFORÇAR A REVOLTA PELA AUTOCULPABILIDADE.
Fazer o indivíduo acreditar que é somente ele o culpado pela sua própria
desgraça, por causa da insuficiência de sua inteligência, de suas
capacidades, ou de seus esforços. Assim, ao invés de rebelar-se contra o
sistema econômico, o individuo se auto-desvalida e culpa-se, o que gera
um estado depressivo do qual um dos seus efeitos é a inibição da sua
ação. E, sem ação, não há revolução!

10- CONHECER MELHOR OS INDIVÍDUOS DO QUE ELES MESMOS SE CONHECEM.
No transcorrer dos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência têm
gerado crescente brecha entre os conhecimentos do público e aquelas
possuídas e utilizadas pelas elites dominantes. Graças à biologia, à
neurobiologia e à psicologia aplicada, o “sistema” tem desfrutado de um
conhecimento avançado do ser humano, tanto de forma física como
psicologicamente. O sistema tem conseguido conhecer melhor o indivíduo
comum do que ele mesmo conhece a si mesmo. Isto significa que, na
maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um grande poder
sobre os indivíduos do que os indivíduos a si mesmos.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Inventor do pen drive faz nova aposta

Inventor do pen drive faz nova aposta

Inventor do pen drive faz nova aposta
Autor(es): João Luiz Rosa
Valor Econômico - 12/11/2010

Essa história daria um filme. Em 1998, o israelense Dov Moran assistia a uma palestra nos EUA quando percebeu a aflição de alguns executivos que não conseguiam transferir informações de um notebook para outro. "Pensei: tenho que criar alguma coisa para facilitar isso", conta Moran, que é engenheiro elétrico. Dois anos depois, sua invenção começou a ser vendida pela IBM, um aparelhinho que parece um chaveiro - o pen drive.

Os primeiros pen drives custavam US$ 50, mas hoje são tão banais que viraram um brinde mais barato que os chaveiros. A criação de Moran aposentou os disquetes e se tornou tão importante que sua empresa, a M-Systems, acabou sendo comprada pela americana SanDisk por US$ 1,6 bilhão.

Esse poderia ser o epílogo do filme, com uma cena mostrando Moran dirigindo um iate nas ilhas gregas. Mas o executivo vive em um cenário bem diferente. Vai diariamente aos escritórios em Kfar-Saba, em Israel, sede do seu novo negócio - a Modu, uma fabricante de telefones celulares.

A nova aposta do engenheiro Moran, hoje com 54 anos, é na simplicidade. Ele criou um celular que tem uma única finalidade: telefonar.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

COMÉDIA MTV - TV Afeganistão TOP 3 - Jeito Afegão "Latifa"

Morreu o produtor de cinema Dino de Laurentis

Morreu o produtor de cinema Dino de Laurentis

13h46m

Dino de Laurentis, produtor de filmes de realizadores como Fellini e Rosselini, considerado o representante máximo do cinema italiano do pós-guerra, morreu hoje, quinta-feira, em Los Angeles, aos 91 anos. "Arroz amargo", "As noites de Cabíria", "Barbarella", "Hannibal" e "Veludo Azul" são alguns dos filmes produzidos por Dino de Laurentis.




Agostino de Laurentis, que adoptou Dino De Laurentis como nome artístico, nasceu a 18 de Agosto de 1919 em Torre, Annunziata, na Campânia (Itália).

Filho de um fabricante de massa, rumou para Roma aos 17 anos para estudar no Centro Experimental de Cinema, tendo trabalhado como actor, figurante ou câmara para pagar os estudos.

Aos 20 anos já tinha participado na produção da sua primeira película - "Tropp tardi t"ho conosciuta" (1939), de Emanuelle Caracciolo, na qual também entrou como actor.

Depois de servir o exército italiano durante a 2.ª Guerra Mundial regressou ao mundo do cinema e em 1949 conseguiu o primeiro êxito comercial e de crítica com o filme "Arroz amargo", de Giuseppe de Santis, protagonizado por Silvana Mangano e Vittorio Gassman.

No início de 1950, juntamente com Carlo Ponti, fundou a produtora "Ponti - De Laurentis". São desta época "A Estrada" (1954) e "As noites de Cabíria" (1956), de Federico Fellini, que venceram o Óscar para o Melhor Filme de Língua não Inglesa em 1956 e 1957, respectivamente.

Depois de romper com Carlo Ponti, em 1957, de Laurentis propôs-se construir os seus próprios estúdios em Roma e em 1964 inaugurou os estúdios "Dinocitta".

Daí saíram filmes como "A Bíblia" de John Huston (1966), "O Estrangeiro" (1967), de Luchino Visconti, "Barbarella" (1968), de Roger Vadim, ou "Waterloo" (1971), de Sergei Bondarchuck.

Estes estúdios também fecharam devido à crise da indústria cinematográfica italiana e a fracassos do próprio De Laurentis, que acabou por vender a propriedade ao Governo italiano.

Em 1972, De Laurentis mudou-se para Nova Iorque com a família e em 1983 criou uma produtora em Wilmington (Carolina do Norte), chamada "DeLaurentiis Entertainment Group Studios", que também foi forçado a vender em 1988 devido a dificuldades económicas.

Dois anos mais tarde criou a "Dino De Laurentis Communications" (DDLC).

Nos Estados Unidos, De Laurentis produziu alguns êxitos da crítica como "Ragtime" (1981), de Milos Forman, e "Veludo Azul (1986), de David Lynch, mas também fracassos de bilheteira como "Hurricane" (1979), de Jan Troell, ou "Tai-Pan" (1986), de Daryl Duke.

Entre os êxitos destacam-se títulos como "Flash Gordon" (1980), de Mike Hodges, e as duas sequelas de "O Silêncio dos Inocentes": "Hannibal" (2000), de Ridley Scott, e "Dragão Vermelho" (2002), de Brett Ratner.

"Barrabás" (1962), "O tigre perfuma-se com dinamite" (1965), de Claude Chabrol, "Serpico" (1973), protagonizada por Al Pacino, "Os três dias do Condor" (1975), "Mandingo" e sua sequela, "Drum", "king Kong" (1976), "Casanova" (1976) de Federico Fellini ou "Dune" (1984), de David Lynch, contam-se entre os êxitos produzidos por De Laurentis.

O seu último projeto foi "Virgin Territory (Decameron: Angels & Virgins)", em 2007, de David Leland.

O Leão de Prata do Festival de Veneza de 1952, o prémio do Círculo de Críticos de Nova Iorque e um Globo de Ouro em 1956 e o Prémio Irving G. Thalberg, em 2000, contam-se entre os galardões que recebeu, assim como o Leão de Ouro do festival de Veneza em 2003.

Em 1949, Dino de Laurentis casou-se com a atriz Silvana Mangano, com a qual teve três filhas e um filho, e da qual se divorciou em 1983.

Um ano depois da morte da ex-mulher, em 1989, casou-se com a produtora Marta Schumacher com a qual tem duas filhas.

Rafaela De Laurentis, uma das filhas do produtor, seguiu a carreira do pai. É produtora em Hollywood e trabalha na sua companhia desde 1987.

Fonte: Jornal de Noticias

http://jn.sapo.pt/paginainicial/

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Luta entre imprensa e governo é antiga

Luta entre imprensa e governo é antiga

Por Gilberto Marotta

Revista História Viva, edição 85 - Novembro 2010


Historiador que pesquisou papel dos jornais na queda de Jango afirma que o debate ganha mais repercussão quando líderes com alta popularidade tentam dar continuidade a seus projetos

por Bruno Fiuza

A campanha eleitoral de 2010 foi marcada por um intenso debate entre o governo federal e alguns dos maiores meios de comunicação brasileiros. De um lado, o presidente Lula se queixou que certos veículos agiram como partidos políticos; de outro, o chefe de Estado, seu governo e seu partido foram acusados de atentar contra a liberdade de imprensa. Engana-se, porém, quem acha que essa é uma situação inédita em nossa história republicana. Lançado recentemente, o livro A rede da democracia – O Globo, O Jornal e Jornal do Brasil na queda do governo Goulart, do historiador e cientista político Aloysio Castelo de Carvalho, mostra, justamente, como o embate entre o governo de João Goulart e alguns órgãos de imprensa esteve no centro do enfrentamento ideológico que levaria ao golpe militar de 1964. No intuito de situar a discussão atual em um contexto mais amplo, História Viva conversou com o pesquisador para saber o que aproxima e o que difere o embate atual dos enfrentamentos do passado entre mídia e poder no Brasil.

História Viva – As eleições presidenciais de 2010 foram marcadas por um embate entre alguns órgãos de imprensa e o governo federal. Essa é uma situação nova ou trata-se de um tema recorrente na história republicana do país?

Aloysio Castelo de Carvalho - O embate entre alguns órgãos de imprensa e o governo federal é um tema recorrente no ambiente democrático, que tem mais repercussão nos períodos eleitorais, sobretudo quando um governo com alto índice de aceitação na opinião popular pretende dar continuidade aos seus projetos. Os governos de Getúlio Vargas (1951-54), de João Goulart (1961-964) e agora o de Lula são exemplos desse tipo de conflito, no qual a imprensa de natureza privada coloca em questão decisões políticas que podem favorecer os interesses populares.

HV – A maior parte dos meios de comunicação brasileiros hoje se apresenta como intérprete imparcial e neutro da opinião pública. Isso sempre foi assim ou já houve épocas em que os veículos assumiam abertamente suas posições
políticas?


Aloysio - No período democrático de 1945 a 1964 os diversos setores da imprensa assumiam abertamente suas preferências eleitorais, diferentemente da dissimulação que ocorre hoje em dia, baseada na idéia da objetividade jornalística. Por outro lado, os atores políticos, entre eles a própria imprensa, eram muito menos comprometidos com a estabilidade democrática. O clima de radicalização e golpes era uma constante no processo político.

HV – Em seu livro, o senhor afirma que o discurso da defesa da liberdade de imprensa nem sempre é neutro, e às vezes pode ser a expressão de um determinado projeto político que historicamente orientou a maior parte dos veículos de comunicação do país. Que projeto é esse?

Aloysio - A liberdade de imprensa é um dos direitos do indivíduo, já que o cidadão precisa ser informado. É uma conquista democrática manter esse direito. No passado recente no Brasil, durante a ditadura militar, perdemos parte desses direitos e foi preciso muita luta para reconquistá-los. Portanto, a liberdade de imprensa deve fazer parte de todos os projetos políticos comprometidos com a ampliação da democracia. O problema ocorre quando em nome desse direito pretende-se remover governos cujos projetos políticos são comprometidos com o questionamento da propriedade privada. Durante a administração de João Goulart não havia nenhuma restrição ao trabalho dos meios de comunicação e o governo foi submetido a uma intensa campanha em favor da liberdade de imprensa. É um paradoxo, pois a existência de uma campanha indica que havia liberdade para realizá-la. Então, o que estava em jogo não era a liberdade de imprensa, mas a questão da propriedade privada, sobretudo no campo, vinculada ao debate da reforma agrária. O governo Lula tem muito menos comprometimento com o questionamento da propriedade privada do que o governo Goulart e está sob ataque da imprensa que se vê ameaçada em sua liberdade, já que colocou em pauta o controle social da mídia. Se a liberdade de imprensa pode de fato ser ameaçada pelos governos, ela também corre riscos com o poder dos monopólios privados de comunicação, que impedem vozes e interesses de se expressarem. Adam Smith tinha menos receio do governo em relação ao funcionamento do mercado livre do que dos arranjos dos empreendedores privados voltados para controlar os preços com o objetivo de aumentarem seus lucros.

HV - O senhor mostra também que, em momentos de polarização política, o discurso da imprensa liberal buscou distinguir duas formas de mobilização popular: uma legítima, da qual seria a representante, e outra ilegítima. Quais seriam essas duas formas de mobilização? O que difere uma da outra?

Aloysio - Na pesquisa refiro-me a determinados setores da imprensa, em particular aos jornais O Globo, O Jornal e Jornal do Brasil, definidos como liberais conservadores. Esses veículos defendiam a participação política por meio das instituições vigentes, que estavam sendo questionadas pelos setores da esquerda trabalhista e comunista, defensores de mobilizações diretas como forma de pressionar a sociedade e governo em favor das reformas sociais. Na visão liberal, essas ações são consideradas ilegítimas, pois prescindem dos debates e argumentações racionais que caracterizam as instituições parlamentares e que seriam próprios também da imprensa. As mobilizações diretas defendidas pelas esquerdas são consideradas pelos liberais formas de coação que precisam ser contidas pelo poder vigente.

HV - Ao tratar do papel da imprensa liberal na crise que levou à destituição do presidente João Goulart, em 1964, seu livro mostra que vários veículos agiram como atores políticos, atuando como porta-vozes de grupos partidários. Nas últimas eleições o presidente Lula acusou parte da imprensa de agir como partido político. A crítica do presidente se justifica? Existem semelhanças no comportamento da imprensa liberal nos dois episódios?

Aloysio - O fato de agirem como atores políticos não significa que os veículos agiam como porta-vozes de grupos partidários, embora houvesse correspondência entre os projetos políticos de representantes da imprensa e partidos de oposição ao governo Goulart. Argumento que a imprensa disputa com os partidos a hegemonia sobre a representação da opinião pública. Ela pode compartilhar valores, mas no processo competitivo da democracia adquire uma visão própria do seu papel. Na crise política de 1964, alguns órgãos jornalísticos como O Globo, O Jornal e Jornal do Brasil atribuíram à própria imprensa o papel de autêntica representante da opinião pública, com base na percepção de que o Congresso estava paralisado politicamente e não agia para conter as propostas de reformas do Executivo que ameaçavam a propriedade privada.

HV - Existe pluralidade ideológica na imprensa brasileira? Isso sempre foi assim ou houve mudanças nos padrões de alinhamento político dos veículos de comunicação do país ao longo do século XX?

Aloysio - A dificuldade de se vivenciar uma pluralidade ideológica não parece ser uma característica do atual momento. Vejamos, por exemplo, a opinião de Mino Carta publicada na revista Carta Capital em setembro. Quando se refere ao período eleitoral que acabamos de viver, ele sustenta que “A campanha midiática a favor do candidato tucano não é digna do país que o Brasil merece ser, e sim adequada ao manicômio”. Segundo o jornalista, “A união da mídia já produziu alguns entre os piores momentos da história brasileira.” Ele cita como exemplo a morte de Getúlio Vargas, presidente eleito; a resistência a Juscelino Kubitschek; o golpe de 1964; a oposição à campanha das “Diretas Já”, além do apoio maciço à candidatura de Fernando Collor, à reeleição de Fernando Henrique e às privatizações vergonhosamente manipuladas. Trata-se, portanto, de um longo período histórico de hegemonia dos representantes da imprensa liberal conservadora que resistem em se adequar à convivência das regras democráticas.





Smartphone dói no bolso

Smartphone dói no bolso

Autor(es): Gustavo Henrique Braga
Correio Braziliense - 10/11/2010

Comprar um smartphone no Brasil sai mais caro do que nos principais mercados da América Latina, aponta um levantamento da Marco Consultora. Enquanto por aqui o gadget custa cerca de R$ 1.444 (US$ 852), a média internacional é de R$ 944 (US$ 557). Isso significa que o brasileiro precisa desembolsar quase que a totalidade de um mês de salário para comprar um aparelho, já que dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística indicam uma renda média no país de R$ 1.499.

A facada no bolso dos usuários é agravada pelo custo do pacote de dados, necessário para navegar pela internet por meio do telefone. Outro estudo, da Organização das Nações Unidas (ONU), comprova que apenas no Brasil e no Zimbábue o preço médio do serviço passa dos R$ 203 (US$ 120), e nos coloca atrás de países como Congo, Haiti e Bangladesh. O preço médio mundial da internet 3G, é de R$ 78,90 (US$ 46,54).

Apesar dos custos acima da média internacional, o Brasil lidera a oferta de smartphones para os consumidores. Aqui, 55% dos celulares ofertados são dessa categoria, contra uma média de 35% na América Latina. Na avaliação de Henrique de Campos Júnior, gerente de mercado e inteligência de negócios da Marco Consultora, os preços acima dos padrões mundiais refletem o excesso de tributos sobre os telefones móveis.

“No mercado nacional, o celular é visto como símbolo de status. É uma situação semelhante à do setor automotivo: o brasileiro paga mais que a média mundial, mas o mercado automobilístico continua aquecido, porque as pessoas de certa forma buscam esse status.” Só na Fnac, por exemplo, os smartphones respondem por cerca de 65% das vendas de celulares.

Hamilton Yoshida, diretor de Marketing de Telecom da Samsumg, também culpa os impostos pelo alto preço dos smartphones no Brasil, mas acrescenta que o aquecimento das vendas se deve à maturidade do mercado nacional. “A telefonia móvel alcançou níveis próximos aos 100% de penetração em território brasileiro. Isso significa que o consumidor daqui já não quer apenas ter uma linha. As pessoas preferem trocar de aparelho por algo mais sofisticado, daí a procura pelos smartphones.”

Os educatecas do Enem levaram bomba

Os educatecas do Enem levaram bomba

Élio Gaspari - Élio Gaspari
Autor(es): Agencia o Globo
O Globo - 10/11/2010


O presidente do Inep, Joaquim José Soares Neto, titular da lambança ocorrida com a prova do Enem, deveria ter pedido demissão no sábado, desculpando-se junto aos três milhões de jovens cuja vida atrapalhou.

Não tendo-o feito, o ministro da Educação, Fernando Haddad, deveria têlo demitido na segunda-feira. Não tendo-o feito, Haddad deveria ter pedido demissão ontem.

Os educatecas do Inep e Haddad mostraram que um raio cai duas vezes no mesmo lugar. No ano passado, uma sucessão de prepotências e inépcias transformou o projeto do Enem como substituto do vestibular num dos maiores fracassos do governo Lula. O ministro culpou a lei das licitações.

Livrou-se dela e foi de Waterloo para Stalingrado.

O educateca pernóstico é o sujeito que inventa um teste de “linguagem, códigos e suas tecnologias” para designar aquilo que se chamava prova de português. É um chato, mas não faz mal a ninguém. Maligno é o educateca com alma de bedel. O doutor Soares Neto, por exemplo. O Inep proibiu que os estudantes levassem lápis para a prova. Com isso tirou o direito da garotada de rabiscar cálculos e anotações à margem da prova. Na hora de aporrinhar, o educateca pode tudo. Na hora de fazer o seu serviço, pode nada.

O dia do Enem é uma jornada de tensão na vida de milhões de jovens e de suas famílias. A nota do teste habilita os estudantes para as bolsas do ProUni e em muitos casos determinalhes o futuro. Nessa hora, em vez de o poder público aparecer com uma face benevolente, vem com os dentes de fora. Em 2009 furtaramse as provas; em 2010, inverteramse os gabaritos e distribuíramse exames com questões repetidas ou inexistentes. Segundo o MEC, a responsabilidade é da gráfica.

Segundo a gráfica, a lambança atingiu apenas 0,33% dos 10 milhões de cadernos. Conclusão: 100% da culpa é das vítimas.

Descobertos os erros, não ocorreu aos doutores tirar dos portais do Inep e do MEC uma autoglorificação do doutor Soares José Neto Joaquim: “O primeiro dia de provas do Enem transcorreu em normalidade.” Segundo ele, a lambança “de forma alguma prejudica a credibilidade do Enem”. Empulhação.

No dia seguinte, ameaçaram chamar a Polícia Federal para xeretar tuiteiros.

(A propósito, inversões são um estorvo. O nome do educateca é Joaquim José Soares Neto.) O ministro Fernando Haddad foi de Waterloo para Stalingrado porque acreditou nas próprias promessas.

Quis fazer uma coisa, fez outra, deu errado em 2009 e voltou a dar e r r a d o e m 2 0 1 0 . Q u a n d o o Enem/Vestibular foi lançado, a garotada poderia fazer a prova duas vezes por ano, talvez três. Desistiram, preservando a máquina de moer carne, obrigando o jovem a jogar seu futuro num só fim de semana.

Haddad e o Inep sabem que um similar americano do Enem, o SAT, é oferecido à garotada em sete ocasiões ao longo do ano. O teste é feito on-line e as questões são praticamente individuais, complicandose conforme o desempenho do estudante.

Os educatecas não gostam desse exame, porque os obrigaria a trabalhar muito mais, expandindo seu acervo de questões e obrigandoos a conviver com uma cultura de provas eletrônicas, abandonando o método medieval do papel e caneta (lápis é proibido).

Burocrata gosta é de assinar contrato, de preferência sem licitação.

Deu no que deu.

Fernando Haddad acreditou nas próprias palavras, foi de Waterloo para Stalingrado, mas a conta do fracasso foi para a garotada

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Mídia: governo faz seminário e discute regular conteúdo

Mídia: governo faz seminário e discute regular conteúdo

Evento discute regulação de conteúdo de mídia
Autor(es): Agencia o GloboEvandro Éboli, Fábio Fabrini e Mônica Tavares
O Globo - 09/11/2010

Seminário promovido pelo governo será realizado hoje e amanhã; objetivo é fazer anteprojeto para o setor


O governo promove, a partir de hoje, seminário internacional de comunicação eletrônica e admite a possibilidade de criar uma agência reguladora de conteúdo das mídias. Até meados de dezembro, o Executivo concluirá o texto de um anteprojeto para o setor que será entregue à presidente eleita, Dilma Rousseff. Organizador do evento, o secretário de Comunicação, Franklin Martins, disse que o debate pode apontar o formato a ser adotado. Entidades desse mercado condenam a iniciativa, sob o argumento de que abre a possibilidade de controle sobre informações veiculadas.

Franklin nega a intenção de criar um sistema para cercear a liberdade de imprensa.

— Temos uma agência no Brasil (Agência Nacional de Telecomunicações, a Anatel) que regula os meios eletrônicos do ponto de vista técnico. Vários países do mundo adotam duas agências: uma que regula os meios eletrônicos e outra que regula o conteúdo. E ninguém acha que é censura. Não é dizer que você pode publicar isso ou aquilo — disse Franklin. E completou: — A questão é fixar regras em defesa da produção da cultura nacional, regional e da produção independente. São princípios gerais de equilíbrio e respeito à privacidade que devem ser observados.

O diretor-geral da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), Luís Roberto Antonik, diz que o debate traz preocupação ao setor: — Nós vemos isso com medo, embora a maturidade institucional que atingimos não permita a censura que tínhamos antes. Estamos bem melhor que a Venezuela e a Argentina.

Segundo ele, não está claro o que significaria o controle proposto pelo governo: — Vão avaliar o conteúdo que uma empresa produz? O diretor-executivo da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Ricardo Pedreira, informou que a entidade acompanhará as discussões para conhecer as experiências internacionais.

Ele afirmou que a ANJ não considera adequada a criação de qualquer entidade governamental ou de Estado que interfira em conteúdo jornalístico: — O mais adequado é a autorregulamentação.

O Seminário Internacional das Comunicações Eletrônicas e Convergências de Mídia acontece hoje e amanhã e contará com presença de autoridades estrangeiras de países que adotam a regulação da mídia via agências.

São 300 convidados.

Franklin disse que o propósito é regulamentar os artigos 220, 221 e 222 da Constituição sobre comunicação, que tratam, por exemplo, da garantia de um espaço à produção de conteúdos regionais. Ele diz acreditar que presidente eleita enviará o projeto ao Congresso Nacional. No anúncio, o ministro cometeu um ato falho ao falar em “primeiro mandato de Dilma”: — Ela (Dilma) tem uma visão moderna e completa da importância da comunicação, os desafios da convergência de mídia.

Arrisco dizer que, da mesma forma que foi fundamental estabelecer novo marco regulatório e refundar o Estado na questão de energia, para impedir novos apagões, hoje em dia, no primeiro mandato da presidente Dilma, as comunicações jogam papel semelhante (ao da energia).

Para o governo, a atual legislação que trata de radiodifusão está ultrapassada. O Código Brasileiro de Telecomunicações é de 1962. A Abert pondera que várias propostas em tramitação no Congresso já propõem a regulamentação de dispositivos constitucionais. Em vez de uma ampla reformulação, capitaneada pelo Executivo, a Abert propõe mudanças pontuais no marco regulatório para cobrir a evolução do setor e ajustá-lo às exigências constitucionais.

Antonik cita a atuação de multinacionais de telefonia na produção jornalística. A Constituição diz que, para exercer a atividade, as empresas devem ter ao menos 70% de capital total e votante brasileiro, como forma de preservar a soberania e o interesse nacionais: — Estão em flagrante desrespeito à lei e têm de se ajustar.

O presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Celso Schröder, afirma que a revisão da lei equilibraria forças no mercado e seria positiva para a radiodifusão, apesar de o segmento se posicionar contra novos instrumentos reguladores.

Ele diz que os portais de internet e TVs a cabo, embora produzam e divulguem conteúdo, não se sujeitam às mesmas regras de rádios e TVs: — Temos de criar parâmetros de isonomia, para que as teles cumpram as mesmas obrigações.

É o setor mais poderoso do país. Se não, criamos uma condição desfavorável à produção nacional — diz.

Segundo Franklin, as empresas de radiodifusão têm um faturamento de R$ 13 bilhões ao ano, enquanto as teles têm uma receita de R$ 180 bilhões: — Ou a gente olha e regula para frente ou olha para trás e as jamantas das telecomunicações passam por cima da radiodifusão.

O ministro afirmou que não está em debate o aumento da participação do capital externo nas empresas do setor; isto só entraria em discussão se o debate público decidisse por isso.

O diretor-executivo do Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviço Móvel Celular e Pessoal (SindiTelebrasil), Eduardo Levy, um dos mediadores do seminário, disse que é fundamental a atualização da legislação do setor. Ele defendeu regras claras e estáveis, e um debate sem ideologia, público, para dar segurança aos investidores.

Para Levy, “ninguém está querendo matar o outro”.

— Tem que correr com a legislação.

A tecnologia e o mercado são implacáveis — defende Ministro critica a cobertura da imprensa no Brasil Ao defender uma regulamentação para a mídia do país, Franklin Martins criticou o comportamento da imprensa e classificou como uma “bobagem monumental” a tese de que a liberdade de imprensa está ameaçada no Brasil. Para ele, setores da mídia não gostam de críticas, e reafirmou que imprensa livre não quer dizer que é necessariamente boa: — Pode ser ruim, pode cometer erros e, ao cometer erros, pode ser criticada. A não ser que a gente ache que a imprensa se ache acima da crítica e da liberdade de expressão.

Um exemplo de que há liberdade de imprensa no país, segundo o ministro, é que o governo Lula foi alvo de muitas críticas, foi “espinafrado”

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Tin Tin de Spielberg



As Aventuras de Tintim: O Segredo do Licorne, o primeiro longa de uma prometida trilogia do personagem criado pelo escritor e desenhista Hergé.

Confira ao lado Spielberg no set de filmagens. O filme foi rodado usando a mesma tecnologia de captura de movimentos 3-D de Avatar.

A animação foi feita pela Weta Workshop, estúdio de Peter Jackson, que cuidou da produção. Steven Spielberg dirige. O longa chegará aos cinemas em 23 de dezembro de 2011.

ENFIM, UM HERÓI DO LADO CERTO

ENFIM, UM HERÓI DO LADO CERTO

RECORDISTA DE PÚBLICO, TROPA DE ELITE 2 CONSAGRA O TENENTE-CORONEL NASCIMENTO, VIVIDO POR WAGNER MOURA, COMO O EXEMPLO DO POLICIAL HONRADO COM QUE TODOS OS BRASILEIROS GOSTARIAM DE CONTAR
Veja - 08/11/2010


Já tendo atraído quase 8,5 milhões de pessoas aos cinemas, Tropa de Elite 2 entra em sua quinta semana de exibição como o filme mais visto do ano e o segundo filme brasileiro de maior público na história. Tem todas as chances de ultrapassar os 10 milhões do ainda campeão Dona Flor e Seus Dois Maridos, de 1976. Para além desses números impressionantes, Tropa de Elite - o primeiro filme, de 2007 - e sua sequência são fenômenos de repercussão. O tenente-coronel (no primeiro filme, capitão) Roberto Nascimento, vivido com intensidade assustadora por Wagner Moura, tomou-se um personagem da cultura brasileira. Os dois filmes protagonizados por ele merecem ser vistos duas vezes: uma vez para observar o que se passa na tela e outra para ver a reação do público, que costuma ovacionar Nascimento quando ele tortura bandidos (no primeiro Tropa) e quando espanca barbaramente um político corrupto (em Tropa 2).

Por terem suscitado essa reação barulhenta, os filmes de José Padilha já receberam a velha pecha com que os patrulheiros tentam coibir tudo o que não se enquadre nas suas ideias de acepção ideológica: "fascista". A torcida por um personagem de ficção, porém, não significa necessariamente endosso a todos os seus atos. A aclamação a Nascimento vem, em grande parte, de um legítimo anseio comum aos brasileiros de bem, de qualquer região ou classe social: todos querem circular pelas ruas de sua cidade sem medo do assédio da bandidagem, e desejam que essa segurança seja garantida por uma polícia impecavelmente honesta, gerida por homens públicos probos. Nascimento é irredutível em seu repúdio à corrupção, seja ela praticada pelo soldado da PM ou pelo secretário de Segurança do estado. E essa pureza brutal fez dele um verdadeiro herói nacional.

O código de ética de Nascimento é - para usar a expressão de José Padilha – “torto”: não condescende com a desonestidade, mas admite a tortura. “Como o estado falha na segurança, nós, que somos vítimas, temos a tendência de buscar soluções personalizadas, individuais. Nascimento dá vazão a essa ânsia por soluções imediatas. Ele é um justiceiro do século XXI brasileiro”, define o historiador Marco Antonio Villa, da Universidade Federal de São Carlos. Engana-se quem imagina que essa demanda por soluções efetivas na segurança e, sobretudo, por honestidade por parte dos agentes do poder público seja veleidade de uma classe média amedrontada. Ex-policial da ‘tropa de elite” aludida no título dos filmes - o Batalhão de Operações Especiais (Bope) do Rio de Janeiro -, Rodrigo Pimentel, colaborador essencial de Padilha na elaboração de seus enredos, já assistiu à Tropa de Elite 2 uma dezena de vezes, nos mais variados pontos do Rio de Janeiro, de shopping centers da Zona Sul a favelas dominadas por milícias (tema central de Tropa 2). A cena em que o tenente-coronel encarnado por Wagner Moura mói de pancadas um político ficha-suja foi aplaudida vigorosamente em todos os lugares.

A corrupção da polícia, em particular, faz-se sentir mais dolorosamente pela população das favelas. Em 2006, uma pesquisa feita pelo Núcleo de Pesquisa das Violências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro com 3.500 habitantes de bairros distintos da capital mostrou que 60% não confiam na polícia, que consideram corrupta e violenta. A pesquisa ainda revelou que 4,4% desse universo foi vítima de violência física, 7,1 % de violência verbal e 10% de extorsão por policiais militares. “Esses números podem ser ainda maiores. Em áreas violentas e pobres, as pessoas têm medo de acusar a polícia”, diz Alba Zaluar, coordenadora da pesquisa. Em 2007, Alba realizou outro estudo similar, com foco social mais estreito: foram entrevistados 660 moradores de favelas cariocas. O dado é chocante: 52% dos entrevistados disseram já ter visto alguém pagando propina a um policial.

“Nenhuma polícia pode ser eficiente se tiver corrupção em seus quadros”, diz José Vicente da Silva Filho, ex-coronel da Polícia Militar de São Paulo e um dos maiores especialistas brasileiros em segurança. As experiências de cidades americanas como Los Angeles revelam uma relação direta entre a moralização da polícia e a queda nos índices de criminalidade. Historicamente marcado por casos de corrupção (que, aliás, forneceram argumento para uma penca de bons filmes, como Chinatown e Los Angeles - Cidade Proibida), o Departamento de Polícia de Los Angeles passou por uma longa intervenção federal entre 2000 e 2009. Dois episódios foram decisivos para determinar essa medida drástica: o espancamento do taxista negro Rodney King por policiais brancos, em 1991, foi o estopim de motins raciais que abalaram a cidade. Em 1999, um grupo de policiais foi preso por assassinato e envolvimento com o tráfico de cocaína (caso que inspirou Dia de Treinamento, estrelado por Denzel Washington). O Departamento de Justiça dos Estados Unidos, então, passou a dirigir a polícia diretamente, fixando metas a ser cumpridas. E esta contratou William Bratton, gestor de forças de segurança que ajudara o prefeito Rudolph Giuliani a converter Nova York na metrópole mais segura do país. Bratton implantou medidas cuja eficácia já fora testada em Nova York: investiu na cooperação com outras polícias e agências de segurança, como o FBI, deu início a uma gestão baseada na cobrança de resultados e, sobretudo, prendeu bandidos em escala industrial (750.000 presos em sete anos). A redução da criminalidade é a segunda mais acentuada entre as dez principais cidades americanas a vencer o crime (perde apenas para a de Nova York). Tudo isso foi realizado, é bom frisar, sem nenhuma tolerância com a brutalidade policial encarnada por Nascimento. “Não se pode quebrar a lei para impor a lei”, disse Bratton, hoje aposentado da polícia, a VEJA.

O que falta à polícia brasileira são reformas verticais, para expurgar os elementos corruptos e profissionalizar os honestos. As milícias, tema central de Tropa de Elite 2, são uma mostra perversa das deturpações a que chega a polícia quando se é leniente com a corrupção e a violência. No filme, a milícia instala-se em favelas que o Bope do tenente-coronel Nascimento liberou do tráfico, mas há aí certa simplificação ficcional. “Há vários modelos. Em alguns lugares, a milícia tornou o lugar do tráfico, como se vê no filme. Em outros, ela faz acordos com os traficantes”, esclarece o antropólogo e especialista em segurança pública Luiz Eduardo Soares, coautor, ao lado de Cláudio Ferraz, André Batista e Rodrigo Pimentel, de Tropa de Elite 2. Entre os maiores interessados na moralização da polícia estão os próprios policiais. É uma questão básica de autoestima. Uma pesquisa encomendada por VEJA ao instituto Sensus e divulgada pela revista em dezembro de 2009 constatou que os policiais cariocas são os que mais percebem corrupção em seus quadros: 46% dos policiais militares veem muita corrupção na Polícia Civil, e 52% dos civis dizem o mesmo da PM. Os dados nacionais das polícias Civil e Militar são alarmantes: o porcentual dos que admitem a existência da corrupção se aproxima dos 90% em cinco capitais.

A ironia trágica é que os policiais, na linha de frente das conflagrações urbanas do Brasil, são vítimas preferenciais da violência. Em São Paulo, à medida que decresce a taxa de homicídios (a divulgada na semana retrasada, de 10,17 mortes intencionais para cada 100.000 habitantes, é a mais baixa em décadas), menos policiais também tombam em serviço. Passaram de 38 em 2006 para 22 em 2009. No Rio, onde as estatísticas acompanham a precariedade da segurança pública, pelo menos 89 policiais militares foram assassinados em serviço desde 2007. Em comparação, em Nova York, nos últimos cinco anos, apenas três foram mortos. Em Los Angeles, talvez a metrópole mais conflagrada dos Estados Unidos, um policial tombou em ação em 2006 e dois em 2008.

O aspecto simbólico desse descompasso está bem representado pela pompa dos serviços fúnebres dados aos policiais americanos - com autoridades a postos, corporação em traje de gala, parada nas ruas. E indenização, para a famí1ia, que pode chegar a 200.000 dólares. No Brasil, como se vê nos testemunhos destas páginas, as viúvas de policiais assassinados têm em geral de brigar para receber pensões parcas. Os dois Tropa de Elite apresentam um policial complicado, miserável em sua vida pessoal, que pratica indizíveis atos de violência. Mas, apesar disso - e da desilusão com que ele chega ao fim do segundo filme -, é um homem que se orgulha de sua farda. Esse é um aspecto fundamental para a autoestima da polícia - e também para a saúde da democracia brasileira: afinal, uma sociedade que não se reconhece minimamente em sua polícia evidencia um descrédito perigoso nas próprias instituições.

Entre os milhares de homens da lei já retratados pelos filmes e séries americanos, alguns, como Nascimento, se tornaram icônicos. Por exemplo, o policial que arrisca a vida pela honestidade em Serpico, de 1973, ou o Dirty Harry que Gim Eastwood começou a interpretar em 1971, irredutível na defesa dos direitos das vítimas e muito flexível no que toca aos direitos dos criminosos. Essas figuras chegaram à condição de ícones porque ecoam um anseio existente na realidade. E a realidade brasileira é complexa: as pessoas aplaudem Nascimento; e algumas delas, então, procuram cópias piratas de Tropa de Elite no camelô, pagam “uma cervejinha” ao guarda para que cancele uma multa, pedem ao fiscal que vistoria sua reforma que “dê um jeitinho” (e como é ofensivo o uso desse diminutivo pretensamente inocente). Para que Nascimento - ou melhor, uma versão civilizada dele - deixe de ser exceção e se torne regra, cada cidadão tem de deixar de abrir exceções para si e seguir também ele as regras. Da mesma maneira que o primeiro Tropa de Elite demonstrava que um cigarro de maconha aceso numa festa de classe média põe um fuzil nas mãos de um menino do morro, cada “cervejinha” torna mais distante o sonho de uma policia civilizada. Esse é, talvez, o único aspecto em que Tropa de Elite 2 desaponta: na invocação de uma ideia de “sistema”, cuja engrenagem perversa seria tão carregada pela inércia da corrupção e da ineficiência que giraria sozinha, a despeito de tudo e todos. Mas não há “sistema”: o que há é a soma das ações dos indivíduos.

José Padilha resiste a considerar o personagem de seus filmes um herói. “Ele tortura inocentes e mata pessoas que deveria prender. Não tem as virtudes morais que o senso comum exige de um herói”, diz. Mas um herói - em particular, um herói de ficção - não precisa se apresentar como um ser humano exemplar, de moral irretocável. Ao considerar os heróis da tragédia clássica grega em sua Poética, o filósofo Aristóteles dizia que os homens completamente virtuosos ou totalmente maus não servem para esse papel: a situação trágica por excelência, dizia ele, a do homem de grande reputação, moderadamente virtuoso, que cai no infortúnio não por ser vil, mas “por força de algum erro”. Resguardadas as diferenças entre um blockbuster brasileiro e o teatro grego, é cabível afirmar que o personagem vivido por Wagner Moura é uma figura dessa estirpe, vítima da arrogante ideia de que sua simples promoção a subsecretário de Segurança do Rio seria o bastante para limpar a criminalidade e a corrupção policial da cidade. O tenente-coronel Nascimento, em suma, é um herói da tragédia brasileira.

domingo, 7 de novembro de 2010

Panico na TV - 09/08/2009 - Cesar Polvilho e Jaspion Brasileiro

Panico na TV 24/05/2009 - Cesar Polvilho - Rambu da Amazonia

Machete


Machete, o novo filme de Robert Rodriguez, nascido dos trailers falsos de Grind House, foi lançado no Brasil o mês passado e certamente está entre os melhores filmes do ano. No elenco Danny Trejo, Robert De Niro, Jessica Alba, Steven Seagal..., Don Johnson e Michelle Rodriguez.
Robert Rodriguez defende que o longa não faz crítica direta às políticas de imigração adotadas pelos EUA, mas acaba chamando atenção para o tema. “Tudo o que quis fazer foi um filme divertido, sexy e com grandes atores. Agora, se veem mensagens nele... Sim, há recados para todos. E tudo aberto a interpretações”, avisa.
Para Rodriguez, o longa não trata só da discriminação aos mexicanos. “Em ’Machete’ os personagens não ligam que a fronteira seja fechada para imigração. O que está em jogo é o fato de drogas não poderem mais ser traficadas. E é essa a piada do filme, a ganância. Tudo vem da corrupção, que é o grande problema - e não a imigração”.